A verdade é que a Garboyl Lives não nos tem dado descanso no que toca aos treinos para o SonicBlast Moledo, que regressa este ano a Moledo do Minho entre 11 e 13 de Agosto, com nomes como The Machine, Kadavar e Orange Goblin. Desta vez calhava-nos uma mistura de gregos e franceses, e ao contrário do que poderíamos esperar, esta não foi uma noite apenas dedicada aos tons psicadélicos e simpáticos, não foi apenas rock, nem apenas headbanging.
Desde o início do ano que esta promotora deixa Portugal na rota de bandas como Monkey3, Stoned Jesus, Harsh Toke e JOY, e nós só podemos agradecer e continuar a contar os dias que sobram no calendário até Agosto. Esta foi então a vez dos Glowsun nos mostrarem o que valem e dos já nossos conhecidos 1000mods nos apresentarem o seu trabalho mais recente Repeated Exposure To…, tendo já feito a sua estreia por cá em 2014. No passado dia 20 de Abril passaram pelo RCA Club, em Lisboa, e nós estivemos lá.
Os franceses Glowsun estrearam-se em Portugal com esta tour e depois da noite que proporcionaram aos nossos heavy rockers no Porto, foi vez de se mostrarem à capital. Contribuíram também para desenganar aqueles que ainda acham que não faz mal saltarem as bandas de abertura num concerto. As surpresas chegam de onde menos esperamos, neste caso chegou de Lille, e podemos afirmar que este trio surpreendeu grande parte dos presentes, mesmo aqueles que não tinham criado grandes expectativas. Uma banda com já vinte anos de carreira, de apenas três álbuns lançados, trouxe-nos tanto do seu último Beyond The Wall Of Time, lançado em 2015 pela Napalm Records, como dos seus trabalhos mais antigos. Assim mostrou que nem sempre quantidade é sinónimo de qualidade (bem pelo contrário).
Com uma atitude mais introspectiva, alternando harmoniosamente entre registos mais doomy e psicadélicos, apresentam uma sonoridade menos directa e ligeiramente mais difícil de gerir. A bateria de Fabrice Cornille e o baixo de Ronan Chiron acertam-nos em cheio com o seu heavy psych, stoner metal ou o que queiram chamar àqueles caminhos mais sombrios, e juntam-se à performance intensa de Johann Jaccob, muitas vezes ajoelhado entre os pedais, acabando por criar o terreno perfeito para os devaneios da guitarra e a voz forte deste frontman. Juntamente com eles, fomos fuzz e distorção do início ao fim, ao ritmo de uma guitarra que nos atingia em diversas direcções e dimensões. Uma coisa é certa: ouvir os álbuns fica longe de fazer jus ao que é vê-los ao vivo e, embora às vezes os intervalos entre bandas possam ser maçadores, neste caso em particular deu-nos bastante jeito para digerir o que tinha acabado de se passar com Glowsun.
Os gregos 1000mods (na foto) traziam até nós a sua denominada “Repeated and Exposed To… European Tour” e já não era sem tempo. A banda formou-se em 2006 e são seguramente um dos nomes mais sonantes dentro do género de momento. Lançaram o seu primeiro álbum, Super Van Vacation em 2011, e Vultures em 2014, mas desde o lançamento deste último trabalho em Setembro do ano passado que temos andado à rasquinha (perdoe-se a expressão) para ver o resultado deste híbrido entre os seus dois primeiros álbuns ao vivo. Favoritismos à parte, mal se espreita a t-shirt do Vol.4 de Black Sabbath soubemos que vinha lá coisa boa. Ainda que sem grandes inovações para os ouvidos já mais batidos no stoner rock, têm uma sonoridade muito própria e transmitem uma energia única em palco, ficando nestas datas bastante claro que têm por terras lusitanas um considerável número de seguidores. Foi algo que se notou desde as primeiras reacções do público, ao responder em uníssono aos primeiros acordes de “Above179”, tema de abertura deste seu mais recente trabalho.
Ignorando o aviso que podemos ver na capa deste álbum mais recente, onde podemos ler “repeated exposure to high sound levels (more than 80 decibels) may cause permanente impairing of hearing”, descartámos os tampões de ouvidos e deixámo-nos levar pelo stoner rock carregado de groove que este quarteto nos apresenta. Não faltaram air drums, air guitars e headbanging durante mais de uma hora de concerto e o RCA respondeu à letra tanto aos temas mais antigos, como foi o caso de “Road To Burn”, “Vidage” ou ”Super Van Vacation”, como aos mais recentes “Loose” e “Electric Carve.” A imagem do vocalista Dani com o baixo nos joelhos é certamente algo que vai demorar a apagar-se-nos da memória, tal como os solos alternados do duo dinâmico nas guitarras, Giannis e George. É de notar que esta toada de groovy riffs e desert fuzz a que somos expostos ficaria desfalcada na ausência de Labros e do ritmo possante que sentimos na bateria. Num concerto que nos soube a pouco, e isto pelos melhores motivos, houve ainda tempo para um encore ao som de “7 Flies”, também do primeiro álbum da banda. Mais um marco nesta peregrinação anual, que se desenrola entre datas daquele que se tornou um evento obrigatório para os aficionados do psicadelismo e do stoner.
Ficamos agradecidos à Garboyl Lives por nos dar a possibilidade explorar estes cenários e continuar a trazer até nós nomes como estes. Fica claro a crescer água na boca e estamos mais do que em contagem decrescente para o SonicBlast… afinal já sentimos falta de ver uns concertos da sua piscina.
Texto: Andreia Teixeira