Regressando pela primeira vez a Portugal após a saída de Alice Glass em meados de 2014, os Crystal Castles passaram pelo Hard Club no passado dia 7 de Dezembro, antes de rumarem a Lisboa no dia seguinte. Se Glass foi de forma inevitável a cara e voz do volatilidade dos Crystal Castles durante anos, a verdade é que no novíssimo Amnesty (I) as coisas mudaram menos do que se pudesse pensar. Edith Frances eventualmente não terá a abrasividade de Glass, nem a mesma capacidade de vidrar (boom) olhos, mas compensa com uma entrega vocal mais regular e está bem longe de ser invisível.
Abrindo com “Concrete” e lançando os dados para um festival de flashes violentos, a coisa fez-se sempre no tom duma maratona de frames por segundo imprópria a epilépticos. Correndo pontos obrigatórios de uma discografia que conta com “Crimewave” e “Celestica” como destaques de maior, os Crystal Castles foram sempre melhor sucedidos quando abraçaram o seu lado mais fugaz e explosivo, com a presença de Christopher Chartrand na bateria a contribuir para esse sucesso da roupagem mais ébria do conjunto.
Os Crystal Castles foram sempre uma daquelas bandas que nos fez questionar a raiz do seu sucesso. A verdade é que nunca fizeram a música mais fácil do mundo, tanto caindo em interlúdios que roçam a aspereza do noise como em estruturas preenchidas a glitches ruidosos; a postura coladíssima ao punk já foi mais vincada mas nunca deixará de borbulhar sob a pele, e se o apelo que conjugam até pode ser compreensível para um grupo, desde cedo provaram que são bem maiores do que qualquer nicho em que os queiramos inserir.
Foi coisa para hora e tal de concerto, fechado com um encore fortíssimo no qual coube uma fantasmagórica “Wrath of God” e uma “Not In Love” recebida em histeria colectiva. Se a dúvida perante uns Crystal Castles reformulados pairou lá de cima, a verdade é que estes parecem ter perdido muito pouco ou nada com a mudança no alinhamento; estão bem e recomendam-se com ou sem Glass.
Texto: Rui P. Andrade
Fotografia: Carolina Neves