O início de Dezembro já é sinónimo de vários dias de festa para celebrar o aniversário do Musicbox em Lisboa. A celebração de uma década de portas abertas e boa música não seria excepção. A primeira noite de festa do clube do Caís do Sodré, também a primeira do mês de Dezembro, contou com os canadianos Preoccupations e os portugueses Névoa.
O quarteto canadiano foi o primeiro a subir ao palco, apresentando-se na sombra de uns parênteses que em breve esperamos que possam dispensar: “(fka Viet Cong)”. Forçados a mudar o nome para não ferir susceptibilidades e poder tranquilamente tocar ao vivo, estão agora na segunda vida, tendo lançado um álbum sob cada uma das insígnias. Mudou-se o nome, mas manteve-se o som e o estilo em ambos os registos, já que continuamos a escutar os ecos do pós-punk dos anos 80 nas faixas do disco homónimo lançado em Setembro. Preoccupations é um disco seguro, elaborado com muito sangue frio numa altura de instabilidade e impasse no ainda curto trajecto da banda.
Contidos nas palavras, perante uma sala muito bem composta, deram início do espectáculo com “Anxiety”, um dos três singles do disco, onde os graves assumem um peso monumental, conferido por Matt Flegel na voz e no baixo, numa espécie de marcha sonora, que nos deixa ávidos e impacientes por uma explosão, um sentimento que se propagou até à incrível “March of Progress”, retirada do primeiro disco.
“Memory”, a maratona de cerca de 11 minutos, num mix de texturas sonoras com um esforço quase heroico do baterista Mike Wallace, provou ser um dos momentos altos do concerto, sendo que também a potente e feroz “Zodiac” e enérgica “Degraded” se fizeram valer. Mas foi a enorme “Continental Shelf”, a rampa de lançamento dos ainda na altura Viet Cong, que tomou de assalto o público até aí embebido no que estava a observar.
À medida que o concerto avançava, era possível sentir a tensão sempre patente, como um elástico que é esticado quase até ao ponto de ruptura, sem que tal nunca aconteça. Uma intensidade permanente que culminou com “Death”, também retirada do primeiro disco, que cresceu progressivamente, com os quatro músicos a tocar de forma vigorosa e coesa até ao grande final, não só deste concerto de estreia em Lisboa, como da tour pela Europa.
Já os Névoa, acabados de regressar do festival holandês Le Guess Who? em Utrecht, antecederam a noite de baile no clube lisboeta e tanto poderiam vir do Porto, como das profundezas de uma qualquer floresta nórdica. Ao segundo disco Re Un, o seu black metal atmosférico incorporou elementos da folk, como os galhos utilizados como forma de percussão, para criar uma massa sonora que implodiu sobre o Musicbox, dando um tom diferente ao deixado pelos Preoccupations. Uma incoerência sonora que acabou por afastar alguns dos presentes, mas que, com uma agressividade bem patente, abalou até as paredes da sala, com os gritos graves de Nuno Craveiro, a bateria desenfreada de João Freire e Miguel Béco de Almeida e Ivo Madeira a tomarem conta da descarga da guitarra e baixo, respectivamente.
Uma descarga de energia em dois actos na primeira de três noites de festa. Parabéns, Musicbox!
Texto: Rita Bernardo
Fotografia: Nuno Bernardo