Foi a conta gotas que a sala do Musicbox se foi preenchendo, no passado dia 14 de Novembro, para ouvir falar o violino de Sarah Neufeld. Reconhecida internacionalmente pelas participações com os gigantes Arcade Fire, Sarah apresentou-se a solo em Portugal em três datas, trazendo na bagagem o novíssimo The Ridge, segundo álbum da compositora e violinista. A acompanhá-la no jogo de cordas e nas actividades percussivas, Stefan Schneider assumiu a bateria na digressão.
Entre pequenos e doces apontamentos vocais, foi violino que comunicou, dialogou, ora numa mística sedutora, ora com a agressividade de um tornado. Alguns loops num extenso sortido de delays rendilharam as composições de Neufeld, quando a ela costumamos mais associar aquela pontualidade melódica de “No Cars Go” ou o romantismo harmónico de The Suburbs – isto se tivermos de falar necessariamente de Arcade Fire.
Mas prece improvável assistir à simplicidade e à segurança de Sarah ali tão disponível e não imaginar a transição dos gigantes palcos que costuma pisar para um concerto deste tipo. Ali à frente de várias dezenas de corpos silenciosos, estes a divagar entre o beber de um copo e as palmas no final de cada faixa, a violinista mostrou que ela própria é peça vital nas consonâncias às quais associamos à enorme banda canadiana. Reconhecemos isso nas belas “The Glow”, “A Long Awaited Scar” ou “We’ve Got A Lot”
As faixas de The Ridge foram suporte suficiente para alimentar uma declaração de amor a Portugal e em particular à cidade de Lisboa, justificando ainda que muito lhe custa partir sempre que por cá passa. Com uma espécie de peso fantasmagórico de Never Was The Way She Were, assinado a meias com Colin Stetson, e das suas capacidades virtuosas do classicismo académico, Sarah reconheceu nas suas palavras e nos seus sorrisos que a pressão há muito lhe deixou de fazer comichão – ora acompanhada, ora sozinha – e que aprecia as coisas genuínas que a música lhe dá. Lisboa também lhe aplaudiu o encanto. Separada do seu violino e com os olhos postos na plateia que a pediu para ficar cá, sorriu uma última vez.
Texto: Rute Pascoal
Fotografia: Nuno Bernardo