Cinco faixas de Nothing que tens de ouvir

Eles são culpados de tudo e estão fartos do amanhã – os Nothing assim se justificam nos seus dois discos até agora editados – Guilty Of Everything (2014) e Tired Of Tomorrow (2016). A banda de Domenic Palermo, formada em 2011, estreia-se esta semana em Portugal para dois concertos. Actuam no dia 7 de Outubro em Lisboa, no Musicbox, e no dia seguinte no Cave 45, no Porto, e apresentam-se no seu maior momento de forma, gozando de uma sólida temporada de concertos de estatuto.

Mas nem sempre tudo foi um mar de rosas para Domenic. Nothing acabam por funcionar para o próprio como um escape aos problemas pessoais e sociais, e é por isso que existem cinco faixas que ajudam a definir esta banda. São essas cinco faixas que tens de ouvir.

Domenic foi membro de Horrow Show, nome que durou apenas dois EPs lançados pela Deathwish Inc. A banda cessou funções quando o próprio se envolveu numa rixa e esfaqueou outro homem, cumprindo depois dois anos de cadeia por agressão e tentativa de homicídio. O próprio admitiu depois terem sido tempos violentos dentro da sua cena de hardcore, mas eventualmente regressaria à música com estes Nothing (e também o seu lado mais feio e sujo, os Death Of Lovers). Depois de quatro anos de luta contra pensamentos suicidas, no primeiro longa-duração surge “Bent Nail”, faixa que suga algum do hardcore que restou na criatividade do norte-americano. Atenção ao vídeo, que faz alusão ao background de Domenic e tem um curioso cameo de Kurt Vile nos primeiros segundos.

De acordo com Domenic, “Hymn To The Pillory” aborda a solidão e o balanço entre a alegria e o desespero que esse retiro pessoal provoca. Uma faixa que nos conta um pouco sobre o período estagnado do músico, especialmente atrás das grades. Já a faixa-título do primeiro álbum descreve-se sozinha e harmoniza com a artwork. Bandeira branca, uma diligência pela redenção própria, é ferida aberta pelo próprio autor.

“Fever Queen” trata da abertura do mais recente Tired Of Tomorrow, um capítulo ainda mais pessoal do mentor e também do resto da banda. É sobre como os Nothing superaram verdadeiros murros no estômago, como as inesperadas mortes da mãe do baixista Nick Bassett e do pai do próprio Domenic Palermo, apesar de distante. Sobre “Eaten By Worms” já nos havíamos pronunciado na crítica ao disco:

“Eaten By Worms” – faixa cujo videoclip saiu no passado mês de Março – vive da experiência pela qual passou o vocalista após um concerto da banda em Oakland, vítima de um assalto violento que o atirou para uma cama de hospital e para um cocktail de analgésicos por uma temporada. “The song is very much about being in pain and dancing with the feverish curiosity of whether this life is any more significant then what comes after or what came before”, disse Palermo em entrevista à Rolling Stone.

O álbum foi ainda alvo de alguma polémica na hora do seu lançamento. Depois de descobrir que quem financiava a Collect Records é Martin Shkreli, homem odiado por muitos devido à sua posição no mundo farmacêutico, a banda acabou por desviar o lançamento para a Relapse, que já havia editado o anterior Guilty of Everything. Sobre isso confessou-se Palermo também à Rolling Stone: “I’m not one to judge anybody, because I haven’t lived a great life myself, and I’ve done things that I wish I didn’t”.

“But this record was such a big part of me – there was so much blood spilled for it, both figuratively and literally – that I wasn’t about to let it be tainted by someone like that, who was so blinded by pure greed”, acrescentou.

“Bent Nail”

“I’m built to bleed, plan my ruin guiltlessly
Another John who’s lost his head”

“Hymn To The Pillory”

“I think we’re far from home”

“Guilty Of Everything”

“I don’t have a gun, you can search me please
I’ve given up, but you shoot anyway
I’m guilty of everything”

“Fever Queen”

“You drank my poison
And I know now
That I shouldn’t
Push you away”

“Eaten By Worms”

“It’s unavailable
It’s irresistible
It’s educational
It’s recreational
It’s confrontational
It’s inescapable
It’s so practical
Yet so magical
It’s unavoidable”

Autor: Nuno Bernardo