Paredes de Coura significa, para muitos, as aguardadas férias de Verão onde, ano após ano, se deparam com as águas gélidas do rio Coura e as noites mal dormidas, quer pelo frio ou pelas costas doridas devido ao chão da tenda ou até pelas ressacas mal curadas dos acordares matinais com o sol do rosto. E os upgrades conversados para o ano seguinte e competição pelo melhor lugar, prometendo sempre uma chegada antecipada. Os amigos de sempre e aqueles que surgem no entretanto. O cantar incessante das músicas que levaram meses a fio a serem decoradas e daquelas que acompanharam alguns dos melhores e dos piores momentos da vida até ao festival. Paredes de Coura uma vez, Paradis du Coeur sempre. É lema de quem já anda nisto há anos a fio e que incentiva cada novo visitante ao deslumbramento daquele que foi destacado como o melhor festival nacional em 2015, nos Portugal Festival Awards.
Somadas perto de 100 mil presenças e a poucas centenas de esgotar, foi de 17 a 20 de Agosto que a Praia Fluvial do Taboão se cercou, mais um ano, de boa música no festival Vodafone Paredes de Coura. O dia mais lotado, na quinta-feira, contou com os há muito aguardados LCD Soundsystem, com 24 mil pessoas presentes.
Nem a chuva ou o frio nocturno fizeram os festivaleiros abandonarem o recinto. Aliás, este ano, nem mesmo a doença os fez desistir. Foi no decorrer do terceiro dia que, lamentavelmente, se começaram a registar algumas pessoas com sintomas de gastroenterite, aparentemente relacionados com ingestão de água identificada como não potável. Segundo o Director do Serviço de Urgência do Alto Minho, Luís Escaleira, observou-se um pico de cerca de 80 pessoas agudizadas na madrugada de 19 para 20 de Agosto com sintomas gastrointestinais ligeiros e desidratação, com uma posterior diminuição progressiva, considerando-se cerca de 130 a 150 casos no total, com alta após medidas de controlo simples. Neste sentido, foram accionadas medidas preventivas de saúde pública, que levaram ao encerramento temporário de balneários e instalações sanitárias tanto no campismo como no recinto, com análises ainda pouco conclusivas.
Da organização, a Ritmos, na pessoa de João Carvalho, esta foi considerada uma das melhores edições do festival, realçando a satisfação do público no global e no que respeita às melhorias que têm vindo a ser realizadas.
Para celebrar o 25º aniversário do festival de Paredes de Coura, a par da celebração dos também 25 anos em Portugal da parceira Vodafone, os representantes de ambas as organizações prometem mais novidades e um grande festejo, com a edição de 2017 a realizar-se de 16 a 19 de Agosto no local que afirmam como único e onde a realização de iniciativas como “Jazz na Relva” ou “Vozes da Escrita” são, efectivamente, apreciadas, pela particularidade do ambiente e envolvência das pessoas.
Dia 1 – 17 de Agosto
Se haveria melhor maneira de abrir o Palco Vodafone do que utilizando Charlie Chaplin, vamos ficar sem saber, pois foi deste modo que André Tentugal representando We Trust e acompanhado de uma bela orquestra juvenil de Paredes de Coura – Coura All Stars -, iniciaram o primeiro concerto desta que foi a 24ª edição do já crescido festival de Paredes de Coura. Logo à segunda música, ouvimos um pedido de colaboração ao público que se presenteava com a imagem expressiva em tons de vermelho, amarelo, azul e verde das t-shirts que os jovens da orquestra vestiam, pintando um quadro com a natureza de fundo. Além dos temas de Everyday Heroes, vagueou-se pelos singles mais antigos, incluindo no alinhamento “Tell Me Something”, originalmente partilhada com Best Youth na formação de There Must Be a Place, acompanhada de palmas e já conhecida pelo público que o cantarolava. Para “Fading”, pediram-se dois minutos de silêncio, honestamente cumpridos, passando de seguida para “Once At A Time”. Chegando ao fim da actuação, surge um coro de crianças igualmente sarapintadas para “Future” e “We Are The Ones”, momento em que André Tentugal afirma “You are the ones!”, assinalando o concerto com uma mensagem de esperança para o futuro, de motivação e inspiração para as diversas faixas etárias, para os dias vindouros. Ironicamente finalizaram com “Silent Song”, anunciando uma pausa indeterminada no curso de We Trust, com uma porta aberta voltada à filantropia: “You won’t stop me now / You won’t make us stop / This time is forever / We’ll be flying high / If we stand together / We will reach the sky”.
Sendo que neste primeiro dia os concertos decorreram todos no Palco Vodafone, verificou-se um amontoar de pessoas entre estes dois primeiros concertos, conforme a noite ia caindo. O duo português Best Youth composto por Catarina Salinas e Ed Rocha Gonçalves, continua a mostrar os temas de Highway Moon, culminando agora com uma apresentação perto de casa. Além de “Red Diamond” ou “Mirror Ball”, que já são sucessos de rádio, felicitaram-nos com uma versão de INXS para “Tear Us Apart”, potenciando a carga romântica e emotiva do concerto, em movimentos de enamoramento admirados pelo público. Para completar esta passagem houve ainda tempo para os sucessos antigos como “Hang Out” e “In The Shade”, que partilhavam com Moullinex, a quem dedicaram este último single.
Se no meio da natureza nos encontrávamos, por que não depararmo-nos com uma em palco? Pois sim, Minor Victories pensaram o mesmo et… voilà, apresentam-nos uma vocalista feminina com vestes de palmeira – Rachel Goswell, que passara no mesmo festival no ano passado com os seus Slowdive. Acabaram por ser a banda surpresa da noite, por ser pouco conhecida pelo público. As suas longas faixas de rock alternativo foram bem recebidas mas trata-se apenas mais um “check” na lista de artistas a ver.
Já mais conhecida mas provocando a maior dúvida, eis Unknown Mortal Orchestra. Quem já os tinha visto há uns meses em Lisboa e no Porto temeu pela qualidade do headliner do dia. Não fosse a baterista feminina a provocar mudança na dinâmica do grupo e todos os caps teriam saltado daquelas cabeças. Para a felicidade de todos, considerou-se este o concerto mais efusivo do primeiro dia, onde se assistiu a um jogo de luzes e som incansável, que convenceram o público e o fez decidir até iniciar aqui o habitual crowdsurfing de Coura. Parece que deixaram os problemas de lado, tocando “So Good At Being In Trouble” e levando a assistência à festa em “Multi-Love” e “Can’t Keep Checking My Phone”, agora conhecidas de uma ponta a outra.
Para terminar a noite, umas batidas mais energéticas e com marca nacional, Orelha Negra. Depois de uma sucessão de concertos, resolveram apresentar um alinhamento semelhante a actuações anteriores noutros festivais deste ano, mantendo uma sincronia mais do que perfeita entre os elementos. Talvez a falta de novidade tenha aumentado a circulação de pessoas, que paravam apenas por momentos para assistir ao concerto. A verdade é que o hiphop está na moda e eles cumprem bem a sua missão, tornando-os o possível porta-estandarte português deste estilo musical.
Dia 2 – 18 de Agosto
A tarde quente do Coura fez os festivaleiros trocarem Ryley Walker e Joana Serrat pela frescura do rio e umas bebidas entre amigos. Pouca assistência mas igual deslumbramento: é assim a admiração de quem chega para viver a intensidade da música, qualquer que seja a hora do dia. O maior movimento de pessoas para o recinto fez-se a partir das 19h, para indiscutivelmente assistir ao concerto de Whitney. A banda de indie rock recentemente formada, e uma das mais esperadas nesta edição do festival, já tem até álbum lançado – Light Upon The Lake. Vieram para apresentar as suas músicas mas o público estudou bem a lição e elegeu “Polly” como uma das mais pedidas. De modo a não transpor para o palco apenas as suas gravações, Julien Ehrlich, o super-homem da voz e bateria disfarçado de geek guardou uma versão de Bob Dylan para “Tonight I’ll Be Staying Here With You”. Encerraram com “No Woman” e após o concerto desceram do palco e abraçaram o público que os aguardava nas grades.
Do sossego passámos aos portugueses Bed Legs, talvez pouco conhecidos e com demasiada energia para quem tinha saído de uma canção de embalar. Não foi por falta de assistência que faltou crowdsurfing e saltos empoeirados à beira do palco. Certamente darão que falar e, quem não os viu, irá dizer, como tantas vezes acontece no Vodafone Paredes de Coura, “devia tê-los visto naquele dia”.
E quando surgem dois tipos no Palco Vodafone com uma caixa, dá-se Sleaford Mods. O mix sonoro é um tanto ou quanto eletrizante, de onde salta uma voz meio estranha, também ela parecendo vir da caixa. Captando a atenção nos primeiros minutos, rapidamente passam a “mais do mesmo” e começam a afastar os festivaleiros que, àquela hora, já procuravam algum conforto para o estômago. Talvez uma alteração nos palcos tivesse ficado melhor e dariam espaço a Algiers, que rapidamente tornaram pequeno o espaço do Palco Vodafone FM. Um dos concertos mais aclamados, tendo-se percepcionado essa distinção logo ao inicio do concerto. Tendo actuado há poucos meses no NOS Primavera Sound, continuam a causar surpresa a quem os encontra pela primeira vez e a combinação de energia da banda e voz de Franklin James Fisher permitem ao público imaginar até onde poderão chegar. No público, a par do teclista que em momento algum esteve parado, coordenavam-se movimentos desenfreados a roçar no tectonic, como se um ritual do tempo das cavernas trouxesse a liberdade que tal sonoridade pedia.
Mosh, pernas pelo ar, cabelos emaranhados e a colina do Couraíso lá ia suportando descidas do público de Thee Oh Sees, nos momentos em que só a boa vontade e o sentimento de partilha fazem evitar quedas abruptas de cada um que vai chegando aos braços dos seguranças no pit. A poeira na frente de palco, fazendo jus ao pó que se fazia sentir naquele dia, caracterizou um concerto onde a qualidade dos riffs energéticos agradou aos seus seguidores, embora no geral não tenha acrescentado nada de novo a quem os via pela primeira vez.
A rapariga que identifica os seus instrumentos, isto é., os da sua banda, como pertencentes a “Chicken Lizard and The Antlered Creatures”, Alexandra Lilah Denton, a nossa Shura, esteve em Portugal há dois anos ainda em inicio de carreira e dos seus concertos ao vivo. Após lançar o seu álbum Nothing’s Real há poucas semanas, trouxe-o a Paredes de Coura e, verificando-se o entusiamo das primeiras filas, há sempre mais um lugar para a electropop. Com ela trouxe também os hits mais antigos: “Indecision”, “2Shy” e “Touch”, sendo que nesta ultima se aproximou do público que estava junto ao gradeamento, permitindo que lhe tocassem. Ao longo do concerto introduziu as novas faixas, com destaque para a “What Happened To Us?” e “What’s It Gonna Be?” e encerrou em festa, com a também já conhecida “White Light”.
Foi somente com LCD Soundsystem, o concerto mais esperado e, por sinal, mais lotado, que fez esquecer o frio que se fazia sentir. Iniciando com “Us vs. Them”, escutavam-se as palavras “The time has come, the time has come, the time has come today” e parecia que finalmente, para muitos, a hora de assistir ao génio da electrónica alternativa tinha realmente chegado depois de um anunciado hiato. Viajou-se por outros tempos com uma passagem pelos sucessos “Daft Punk Is Playing At My House”, “I Can Change”, “Someone Great” e a antiga “Losing My Edge”. Liderados pelo cantor, compósitos e produtor James Murphy, seis artistas em palco formaram uma festa de cores e luzes alternadas. Uma câmara dava-nos imagens com vistas de cima do palco, mostrando a complexidade organizacional de instrumentos e pessoas. Terminaram a celebração com “All My Friends”, aqueles todos que se reuniram naquela noite, alguns entre lágrimas e suspiros de sentimentos agridoces que surgiram naquelas horas de emoção. Já depois da ausência dos artistas, a música que acompanhou a saída do público do recinto foi igualmente sentimental: uma Sinead O’Connor fazia vibrar as colunas do Palco Vodafone, ouvindo-se um coro arrepiante de “Nothing Compares 2 U”.
Dia 3 – 19 de Agosto
Ao terceiro dia demos com uma das mais bonitas e úteis activações da marca Vodafone, que se dá pelas luzes – iluminavam céus, guiavam caminhos, formavam composições espontâneas nas mãos de cada festivaleiro. Chegámos a observar bebés e crianças (com proteções auriculares, pais conscientes!) a utilizá-las em género de microfone, possibilitando um playblack que encantava quem por elas passava.
À semelhança do que Samuel Úria e fizeram no dia anterior, chegada era a vez de Capicua e Adolfo Luxúria Canibal declarem alguns dos poemas que selecionaram para esta iniciativa do festival, “Vozes da Escrita”. À beira do rio, numa sombra de uma árvore ou estendidos numa toalha – e alguns outros ainda no saco-cama a curar excessos da noite anterior -, era possível encontrar festivaleiros a escutarem com atenção cada palavra exclamada. Se Adolfo proferiu palavras um tanto ou pouco obscenas, não indignando mas fazendo estranhar quem o escutava, já Capicua navegou de Almada Negreiros a Raul Brandão, passando por Sophia de Mello Breyner, elogiando a água e as sereias, destacando também o poema de sua própria autoria, “Mulher do Cacilheiro”.
Com ajuda meteorológica ou não, foi às 18h que o público se começou de facto a concentrar junto ao Palco Vodafone FM. Uma das bandas-revelação nacionais dos últimos tempos – First Breath After Coma – conseguiu juntar logo ao início da tarde um conjunto considerável de festivaleiros que calorosamente os aplaudiu. Palmas foi também o que a banda destinou à assistência, confessando que foi ali, no público, que, também eles, começaram nestes caminhos da música. Especialmente convidado para as duas últimas sequências foi David Santos, ou Noiserv, que participa no também no vídeo de “Umbrae”. Mais experiente e como referência para os rapazes, referiu que a música que estes desenvolvem tem emoção, contrariando muita da que se ouve actualmente. Um dos maiores aplausos do festival e a constatação de um dos momentos mais emotivos no festival, com arrepios à flor da pele.
Uma maré de pessoas a deslocar-se entre palcos é o que de mais típico pode existir no Vodafone Paredes de Coura. Assim aconteceu para o concerto que se seguiu. Vestidos de preto, surgiram em palco os portugueses e regressados Sean Riley & The Slowriders tocando algumas das suas músicas mais conhecidas na companhia de Paulo Furtado, o “lendário homem-tigre”. Seguiu-se depois um dos concertos com menos assistência, o de Crocodiles, embora com uma frente de palco com fãs aos saltos. Guardaram uma canção de parabéns para o final, terminando de modo mais animado para os que iam chegando para assistir. Do mesmo modo que Psychic Ills, embora estes numa onda mais calma, parecem não terem deixado grande saudade por estes lados. Quem sabe numa próxima.
Em oposição, King Gizzard and The Lizard Wizard ou a-banda-trava-línguas, com duas baterias a potenciar os agudos e um vocalista com voz característica, concebeu mais um daqueles espectáculos de combo mosh-saltos-poeira. Vida difícil mais uma vez para a segurança que aguentou com os crowdsurfers em extâse em faixas como a nova “Gamma Knife”, do loop que é Nonagon Infinity. A lotação assemelhava-se ao dia anterior pela mesma hora, com espaço por completar apenas ao cima do recinto, assistindo assim a um frenético concerto com direito a diferentes sopros variáveis entre flauta e harmónica. Houve ainda tempo de contemplação da banda para um fundo com sombras de mãos dançantes e um “wow!”.
Logo após os australianos, Jacco Gardner apresentava o seu Hypnophobia no Palco Vodafone FM, num concerto que atraiu poucos festivaleiros, observando-se muita movimentação no recinto, sendo que alguns trocaram mesmo este concerto pela espera dos The Vaccines junto ao palco principal. Uma introdução com o genérico de The Game of Thrones captou, desde o primeiro minuto, a atenção dos festivaleiros para o que se seguiria. O instrumental com um fundo vermelho de palco, os aplausos e as luzes do ar, direccionadas às árvores daquele que é um dos mais bonitos palcos naturais que conhecemos estendeu o tapete aos regressados The Vaccines. Foram dezassete as músicas tocadas nesta noite, começando pela animada “Handsome” num grito de “Portugal, we are The Vaccines” antes de passar para “Teenage Icon”. Num ritmo mais calmo, mergulhámos com “Wetsuit”, numa linda imagem do público com os braços no ar. Voltando à tona com “Minimal Affection” há quem tivesse subido em pé para os ombros de outros, destacando-se no meio do público. “Blow it up” levou o guitarrista de joelhos ao chão, rezando a um “Post Break-up Sex”, entoado a plenos pulmões pelos milhares que se encontravam a assistir a um dos melhores concertos desta edição do festival. Para o final, ficaram as mais esperadas: “I Always Knew”, numa reunião de cordas à volta da bateria, seguindo-se “If You Wanna” e deixando “Norgaard” para o fecho definitivo.
Se o dia anterior tinha sido já bastante contemplado com o concerto de LCD Soundsystem, este dia ficou marcado pela efusividade que tanto The Vaccines como os seguintes criaram, talvez também por se tratar de uma audiência mais jovem. Foi assim que Cage The Elephant, um dos mais esperados headliners desta edição, anunciaram que, também para eles, este é o seu festival favorito em todo o mundo – já tal semelhante tinham afirmado quando tocaram em Paredes de Coura em 2014. Arrancaram com um “Cry Baby” e logo na segunda música o guitarrista juntou-se ao público, afundando sobre quem se encontrava junto às grades. À altura do desafio, não superando no entanto a banda anterior, talvez porque a primeira terá mais seguidores no nosso país, demonstraram a conquista alcançada principalmente pelo novo disco, Tell Me I’m Pretty. Tal como a banda anterior, fazendo recordar os tempos de adolescência dos anos 80 ou 90, quando se escutavam CDs aos saltos na cama do quarto, não deram sossego à plateia. À pergunta repetida inúmeras vezes “Shall we continue?”, a resposta voltava sempre com gritos e assobios. “Too Late To Say Goodbye”, “Cold Cold Cold”, “Ain’t No Rest For The Wicked”, na qual o guitarrista voltou ao público, realizando uma espécie de crowdsurf enquanto o vocalista parecia um saltitão com molas nos pés. Se a nova “Mess Around” era uma das músicas mais desejadas, foi mesmo em “Come A Little Closer” que o público se revelou a cantar a última estrofe acapella, deixando a banda emocionada e lamuriando-se por terem de voar na hora seguinte para a Polónia. Quando, já no fim, o público decide entoar “Portugal, Portugal!”, a banda retribui afirmando “You guys are amazing!” reservando alguma nostalgia para “Cigarette Daydreams” e “Shake Me Down”, que deliciaram as primeiras filas, escutando-se por último “Teeth”.
Numa noite de energias, coube a Moullinex e à sua banda continuarem o desafio de ter toda a gente a mexer e, na verdade, fê-lo muito bem. Ao seu jeito habitual e tocando músicas mais antigas como “Take My Pain Away” de Flora até ao mais recente Elsewhere, foi com “Take A Chance” que a pista se abriu. Contou ainda durante o concerto com Da Chick para “Do It Again”, para uma versão remixada de Röyksopp & Robyn.
Dia 4 – 20 de Agosto
O dia da melancolia, o “adeus e até para o ano”. O dia também de despedida dos segredos de Coura. Vieram da Rússia sem passar pela Crimeia, os Motorama. Em cenário idílico surgiram sob o sol escaldante da tarde de sábado no Miradouro da Capela de N.ª Sr.ª da Pena e, entre poucas palavras, saudaram as poucas dezenas de convidados para o último concerto secreto das Vodafone Music Sessions. Refugiando-se na sombra das árvores ou com lenços na cabeça, anteciparam-se durante cerca de 15 minutos, temas para o concerto a acontecer mais tarde do Palco Vodafone, que captou a atenção dos poucos que se deslocaram para o palco enquanto outros preferiam escutar os últimos acordes do palco principal. Num rochedo à esquerda, o vocalista segurava uma mini-guitarra, suportado por outra de aspeto semelhante mais atrás. Acompanhava-os um teclista que manteve sempre o seu semblante, dirigindo apenas o olhar e os ombros. Isolado, num rochedo à direita, apresentava-se o baterista, ritmando cada música.
Já no recinto e ainda que cedo, houve correria para ver um dos maiores, se não o maior, concerto de Capitão Fausto. Uma enchente principalmente de mais jovens a cantarolar desde a entrada do recinto. Para quem já tinha estado no palco secundário deste mesmo festival há quatro anos, apresentaram-se desta vez mais do que à altura do desafio de actuar num palco principal. Os fãs centraram-se na frente de palco e era visível o mosh e braços no ar, cantando as músicas de cor, quase num concerto entre amigos. Uma “Célebre Batalha de Formariz” logo no inicio, “Mil e Quinze” e, claro está, hora do crowdsurfing. “Tem de Ser” e observa-se uma torre de três pessoas encavalitadas, enquanto o sol se põe. Sem intervalos, transitam de entre faixas apenas com tempo para trocar de instrumento ou tirar o casaco. “Os Dias Contados” e “Semana em Semana” lembraram as responsabilidades da vida adulta e a finitude da vida. Aparentemente mais crescidos após a série de concertos de Verão, traduzidos por um “Amanhã Tou Melhor”, encerraram com “Verdade”. Um set diferente do habitual, deixando os seguidores a ansiar por temas como “Teresa” e “Alvalade Chama Por Mim”.
Mais tarde, o recinto encheu para se relaxar ao som da voz característica de Kristian Matsson, ou The Tallest Man On Earth. Em destaque estiveram temas como “Darkness of the Dream” ou o animado “King of Spain”. Trocou de guitarra e pediu silêncio por nunca ter executado esta performance em festivais anteriormente, completando assim um momento especial do Vodafone Paredes de Coura deste ano. Era, no entanto, no Palco Vodafone FM que palpitavam corações ao aguardar por um dos concertos mais surpreendentes desta edição. Foi à meia-luz que Cigarettes After Sex tornaram este espaço uma bonita pista de slows, transportando-nos para uma história de encantar, através dos diversos capítulos que compõem o romance cantando da banda americana. Um concerto lotado, onde assobios e aplausos fizeram a banda sorrir. Abrindo com “Starry Eyes” e logo depois uma “I’m a Firefighter”, foi no baixo, guitarra eléctrica, teclas e bateria que se manteve a chama acesa para “Keep On Loving You”, “Dreaming of You” e o seu mais recente single, “Affection”. Apresentaram ainda algumas das músicas que irão compor o novo e primeiro álbum, entre elas “Flash” e “Sunsets”, a último a pedido dos fãs, após se lançarem a “Nothing’s Gonna Hurt You Baby”. Por um lado, já se esperava que o grupo conduzido por Greg Gonzalez provocasse o efeito mais melancólico do festival com o seu único EP e mais um par de singles, por outro lado é extraordinário como um percurso tão simples e em expansão provoca uma descarga emocional num tão grande conjunto de pessoas. Tocando “no ponto” de cada um, foi de olhos fechados e que se desfrutou de um dos mais belos momentos do Vodafone Paredes de Coura 2016. De facto, só a sensualidade da voz do simpático e peculiar Greg nas confortáveis melodias poderiam pedir um bis, sendo que este se tratou do único concerto em que o público não desarredou sem ouvir “só mais uma”. Felicitaram a organização e os presentes afirmando “This is such a great festival!”. Aguarda-se um regresso para breve.
Há quem afirme que a Paredes de Coura cabe sempre um final magnífico. Foi essa a árdua tarefa que tiveram Portugal. The Man e CHVRCHES. Ambos lotados e extensos numa noite fria que, de resto, não conseguiu satisfazer os festivaleiros que tinham sentido a vibração máxima no dia anterior. Bandas interessantes mas que, mais uma vez, não acrescentaram grande novidade ao panorama actual da música. Acabar com a pop electrónica e dançante parece até boa ideia, embora a voz aguda de Lauren Mayberry que nunca parou de se abanar se afaste bastante das gravações e não tenha sido suficiente para aquecer a plateia. Passaram por “Bury It”, a música que partilham com Hayley Williams de Paramore, mas foi com “Recover”, “Leave a Trace” e “Mother We Share” que fizeram abanar a anca e esganiçar do público uns refrões divertidos, notando-se a festa nas primeiras filas. Embora tenha sido dada a felicitação pela conquista do campeonato europeu de futebol com uma bandeira nas mãos, o público pareceu esperar mais daquele que é o concerto que marcou assim o final de mais um ano no “habitat natural da música”.
O after hours do último dia foi concedido por Lust For Youth e Matias Aguayo, levando no entanto a música até de madrugada, quando o sol já raiava, pelas mãos do DJ Nuno Lopes.
Terminou assim mais um ano de Paredes de Coura, deixando um sabor agridoce, esperando um final diferente, mais arrebatador, mas deixando sempre com saudades daquele local que faz ver e viver tantas recordações. Paredes de Coura é assim: faz sempre sentido. Faz sentido sentir. Faz sentir os sentidos. É sempre um “até para o ano, Couraíso!”.
Texto: Ana Margarida Dâmaso
Fotografias utilizadas: Hugo Lima/Vodafone Paredes de Coura