Quando falta somente uma semana para o arranque de mais edição do Milhões de Festa, chega a altura de olhar o cartaz deste ano com uma lupa especial. No que é um dos mais completos e ambiciosos alinhamentos do verão, o festival nortenho parece ano após ano superar-se no seu próprio campeonato, inventando a vanguarda a seu próprio ritmo e gosto. Perante tanto e de tão bom para ver e viver em pleno Parque Fluvial de Barcelos, mais difícil parece-nos mesmo a ideia de destacar uma mão cheia de nomes dos que por lá vão passar. Na impossibilidade de falar de tudo e toos, pela certa até cometemos uma injustiça ou outra, mas lá aceitamos o desafio.
Relembramos que os passes gerais encontram-se disponíveis pelo valor de 55€ até ao próximo domingo, dia 17 de Julho, sendo que nos locais habituais estão também disponíveis bilhetes diários pelo modesto preço de 20€. Poderão consultar toda e qualquer informação sobre a edição de 2016 do Milhões de Festa na nossa página dedicada ao festival e no respectivo site oficial.
#01 The Bug presents Acid Ragga w/Miss Red
Depois de ao ano passado ter pulverizado o recinto do Milhões a contornos de papa e de ter disparado alarmes a um bom par de quilómetros, Kevin Martin regressa desta feita para apresentar um tremor de terra feito nas Antilhas. Acompanhado duma ‘taquicárdica’ Miss Red, os ritmos mais frenéticos e extasiantes de Accid Ragga não são nem de perto sinónimo de um The Bug perdulário ou menos demolidor, estando prometido mais um verdadeiro assalto sónico aos tímpanos de quem tenha coragem de lá parar.
#02 Domenique Dumont
Pouco se sabe sobre Domenique Dumont, até porque de qualquer das formas o essencial escreveu ele mesmo em cada nota de Comme Ça. Lançada no verão passado pela francesa Antinote, a música de Dumont bebe das águas quentes das baleares, ganhando cor ao último raio de luz duma tarde solarenga. Como se resgatada a um lugar especial das nossas memórias, estas são canções para o voo de regresso a casa; de sal na pele e o agridoce daquele último negroni nos lábios.
#03 Ho99o9
Os Ho99o9 são um daqueles portentosos casos de violência sónica, um que trata o hip-hop por arma de destruição maciça e que o dispara bem longe até aos territórios da punk e d-beat. Pronunciando-se e suando o horror à cara de cada plateia que abrasam, bílis purulenta vai certamente ser cuspida do PA do Milhões de Festa quando estes três subirem ao palco; nós avisamos.
#04 Adrian Sherwood
Mestre indiscutível do que é o dub de ontem e de hoje, a arte de Adrian Sherwood estende raízes da Inglaterra até à Jamaica, superando a fronteira de géneros entre a industrial e o reggae. Dono e senhor da On-U Sound Records – editora que fundou tinha ainda uns tenrinhos vinte e poucos anos – Sherwood tem o seu nome escrito e creditado em mais lançamentos do que aqueles que alguma vez poderíamos enumerar. Agarrem-se às vossas bóias, até porque garantidas estão só mesmo vagas de seis metros na Piscina do Milhões de Festa.
#05 Gaika
Falar no nome de Gaika é falar dum dos nomes de vanguarda da cena britânica. Nascido em Brixton, sul de Londres, os seus trabalhos são senão espelho da progressão que força ao seu processo criativo, movendo-se nas costas do dancehall e no espaço morto entre o grime, dub ou r&b. Security – mixtape que lançou em Abril do ano corrente – é uma viagem monocromática pelo coração e pela psique dum qualquer submundo londrino; uma que se alimenta a chumbo e graves furiosos e que promete fazer tremer o núcleo da Terra.
#06 Sons Of Kemet
Tido em conta como um dos nomes mais promissores e talentosos do jazz inglês, Shabaka Hutchings não é um nome estranho ao Milhões de Festa. Tendo actuado na edição de 2014 do festival com os também seus Melt Yourself Down e Comet Is Coming, este facto é por si só uma prova objectiva da prolificidade e criatividade do britânico de 32 anos. Em Sons Of Kemet a vivacidade do saxofone de Hutchings funde-se a um contagiante duo de baterias e à tuba de Oren Marshall, criando uma sinergia capaz de catapultar o ensemble até ao infinito.
#07 Nicola Cruz
Residindo actualmente nos altos de Quito – capital do Equador -, Nicola Cruz até nasceu em França mas lá escapou a tempo de não sentir de perto aquele tiraço de Éder. Como se embrenhada nos ares e paisagens dos Andes, a electrónica de Cruz vive no intimo do coração rítmico da América Latina, das suas tradições e cultura, arrastando o orgânico para uma simbiose perfeita com o moderno. Entregue está a Piscina aos doces sabores da brisa equatoriana.
Autor: Rui P. Andrade