Rock in Rio Lisboa. Cinco dias épicos e bizarros

Após 30 anos de existência, o Rock in Rio (RiR) realizou-se agora pela vez sétima vez em Lisboa, no Parque da Bela Vista. Originário do Rio de Janeiro, este já é um festival do Mundo, contando com três edições em Madrid e uma em Las Vegas, sucedida no ano passado.

Épico e bizarro são, provavelmente, duas das palavras mais utilizadas para descrever a edição deste ano do festival carioca. Maldição ou não, até a meteorologia andou incerta: ora sol, ora chuva, proporcionando no primeiro fim-de-semana finais de tarde primaveris, com um pôr-do-sol fantástico sobre a cidade de Lisboa, e vento e chuva a caracterizar os três últimos dias. Já o arrefecimento nocturno que se fez sentir, passava bem por entre a multidão mas não dispensava a um agasalho.

Um mar de desejados sofás vermelhos insufláveis da Vodafone, com filas intermináveis que aumentavam proporcionalmente ao número de pessoas, contrastavam dia após dia com o verde do recinto, formando uma moldura bem “à portuguesa” com as 395 mil pessoas que passaram durante 5 dias.

Andámos de palco em palco, fomos ao backstage e estivemos com algumas bandas e artistas individuais, viajámos na roda gigante e deslizámos no slide. Das vistas privilegiadas dos locais onde a maioria não tem acesso ao bungee jumping da Samsung, demos um pezinho nas after-parties privadas – conteúdo exclusivo no nosso Instagram, @ruidosonoro.

Dia 1 – 19 Maio

O primeiro concerto desta edição do Rock in Rio esteve a cargo dos portugueses The Sunflowers, no Palco Vodafone. Ainda que tal fosse expectável para as 17h de uma regular quinta-feira, quase que seriam mais pessoas em palco do que no público. Uma hora depois, Keep Razor Sharp avançavam com os seus acordes como se de um chamamento para ritual ou invocação se tratasse, sendo na maioria jovens que se aproximavam do palco ao pedido da banda. À parte do sotaque nortenho num exemplar aparelho vocal, foram os sons electrizantes da guitarra e do baixo que fizeram vibrar os mais atentos, acompanhando-os com aplausos e assobios.

Com o Sol de fundo, os Stereophonics estrearam o Palco Mundo, servindo de melodia para os visitantes que iam chegando. Entre gelados e caipirinhas sentia-se a tranquilidade do primeiro dia de RiR.

Ainda no Palco Vodafone, coube a Black Lips, a banda de garagem dos quatro jovens de Atlanta, encerrar a tarde dançante com centenas de pessoas que por ali passavam. Não foram muitos os que prontamente se instalaram na fila da frente mas percebe-se com clareza que quem vai, vai por gosto. Seja pela maior atracção à “caça ao brinde” tão característico deste tipo de festivais ou alguma renitência aos palcos secundários por falta de conhecimento sobre os artistas, esperava-se um maior número de pessoas para curtirem “Bad Kids”, o single com maior sucesso deste quarteto americano que, ainda assim, permitiu a realização de mosh e não deixou ninguém parado. Rolos de papel higiénico a servir de confetti esvoaçaram e passaram rapidamente a laços brancos nas cabeças da plateia, como se de coroas de ouro ou diamante de tratasse. Na nossa opinião, casariam bem com as Hinds, agendadas para o dia 29, domingo, no mesmo palco.

Mais tarde, no Palco Mundo, os repetentes Xutos & Pontapés cumpriram o seu papel em bom português, com músicas transcendentes a várias idades, relembrando da juventude de muitos dos presentes. Sem paragens e sem dificuldade na pronúncia, cantaram-se alguns dos maiores sucessos desta banda: “Contentores”, “O Mundo Ao Contrário”, “Se Me Amas”, “Circo de Feras” e “Homem do Leme”, numa versão mais rock que o usual. Braços cruzados no ar, alguns lenços vermelhos ao pescoço e nos pulsos, como exemplifica o vocalista Tim, formavam uma moldura para o que se seguia. A habitual “Casinha” encerrou o concerto, matando as saudades de quem está longe do seu lar.

Bruce Springsteen, o rebelde espírito americano, surgiu-nos com um “boa noite, obrigada” e um brilhozinho nos olhos, fazendo-se acompanhar pela sua agradável banda, sempre numa interacção cúmplice, empática e organizada. Espreitando debaixo de uma sobrancelha franzida, ofereceu-nos um concerto ininterrupto, deleitado pelos solos de harmónica, violino e saxofone, e houve ainda espaço no seu alinhamento para uns acordes a fazerem lembrar Carlos Santana. Na primeira fila ou no meio dos 67 mil espectadores, assistiam-se a momentos de emoção dos mais fanáticos, com letras decoradas e lágrimas que escorriam pelas faces em momentos simbólicos como em “Darkness on the Edge of Town” com Bruce a declarar palavras como “I lost my faith when I lost my wife”. Desceu em “Hungry Heart” e, numa atitude tranquila, partilhou a sua satisfação com o público. Entre actos de cavalheirismo, abraços e adornos, houve ainda tempo para um convite para participar num casamento, viajando de seguida para “Promise Land”, apresentada por um cartaz oferecido pelo público.

Foi com “Because the Night”, a música de 1978 de sua autoria gravada por Patti Smith, que deixou a assistência fascinada para a antecipação do esperado êxtase ocorrido em “Born in the USA” pelas 02h00 da madrugada e que foi o mote de despedida para muitos cuja vontade de ficar foi vencida pelo tardar da hora, com excepção a Adele, a estrela londrina com concerto agendado para os dia 21 e 22 de maio em Lisboa, assistiu de perto ao concerto do “Boss” e não passou despercebida.

Dia 2 – 20 de Maio

Esta edição do RiR fica também marcada pelos sons trazidos do Brasil para a Bela Vista, revestindo a Rock Street com atracções cariocas. Cantores brasileiros e bandas de jazz trouxeram ao Parque da Bela Vista representações de grandes músicos brasileiros, agradando a diversos estilos e faixas etárias numa mistura de dança com boa disposição e com assistência sempre garantida.

Enquanto o sol se escondia entre as nuvens, as pessoas – mais para a mesma hora, tal como o calor -, cobriam-se pelas sombras das árvores, deixando a frente do Palco Vodafone a descoberto. Pista deram a batida e foi Alex D’Alva Teixeira (vocalista dos D’Alva), com quem partilham o seu single “Queráute”, que os acompanhou em palco para outros temas conhecidos como “Sal Mão”, interagindo com o público e chamando pelas terras de origem dos artistas, Barreiro e Moita, respectivamente.

Uma invasão de pessoas chegou com a procura por lenços gratuitos da Vodafone, oferecidos naquele momento. Sendo essa a razão ou não, a plateia compôs-se e abriu espaço para os também nacionais Sensible Soccers. Tal como a sombra do palco que possibilitou a aproximação do público, a banda iniciou com um instrumental lento e prolongado.

Aguardando por Boogarins, era altura de recuperar forças, tirar os sapatos e se deitar sob leve brisa e quente do sol. Aviões sobrevoavam os milhares de cabeças, muitas vezes quase que em consonância com a música do momento, encantaram Dinho Almeida, o vocalista da banda brasileira de rock psicadélico. “Avalanche”, “6000 Dias” e “Lucifernandis” deliciaram a assistência mas embora sejam os seus temas mais recentes a passar na rádio nacional, constata-se a existência de verdadeiros interessados pela banda, conhecedores das músicas aos primeiros acordes e das letras, mesmo recuando até ao primeiro disco.

Já no Palco Mundo, Fergie, a vocalista de Black Eyed Peas veio para nos lembrar de alguns dos hits de há alguns anos e mostrar convictamente que nem os seus 41 anos lhe retiram a capacidade de produzir um concerto ao estilo Madonna, com quem foi comparada no final do espectáculo. Num body preto foi impossível não reparar na passagem dos anos pela cantora americana de pop, hip-hop e R&B. “Big Girls Don’t Cry”, “My Humps” e “I Got a Feeling” aqueceram o público.

Foi pelas 22h00 que Mika subiu ao mesmo palco e, acompanhado pela sua banda, não quis deixar de fora amizades e tradições portuguesas por si tão admiradas, convidando Jorge Fernando e o respectivo filho, Jorge Nunes, para o acompanhar à guitarra. Em “Meu Fado Meu” partilhou o palco com a sua intérprete original, Mariza, a fadista portuguesa que no início do mês de maio venceu o prémio de melhor artista na revista britânica Songlines. No single “Underwater” o público agiu segundo orientação do cantor, formando uma elegante coreografia com a luz dos telemóveis.

O concerto mais aguardado da noite tardou, começando com cerca de meia hora de atraso, desculpados a partir do primeiro momento. A espera por Queen + Adam Lambert permitiu que os cerca de 74 mil visitantes do Parque da Bela Vista neste segundo dia de RiR se alinhassem, num mar de gente sem fim, onde poucos eram os espaços por completar.

Ao entrar em palco, Adam Lambert apresentava uns arrojados óculos escuros quiçá para vislumbrar um OVNI que surgia àquela altura nos céus de Lisboa (e não, não se tratava apenas de mais um avião dos tantos que enaltecem o festival). Mais do que uma voz, Adam apresenta uma postura teatral em palco, como se de um musical se tratasse, encarando diversos personagens música após música, potenciando(-se) com os efeitos visuais de luz daquele que, mais que um concerto, se descreve como um espectáculo na totalidade significativa da palavra. Se por um lado a diferença de idades do cantor americano de 34 anos para com a restante banda parece incomodar muitas pessoas, por outro lado a complexidade e estrutura vocal que este jovem apresenta nada deixa a desejar às competências de Freddie Mercury. Entenda-se que, ao contrário do que se pensa, Adam não partilha o palco enquanto elemento dos Queen mas sim vestindo a sua própria pele artística, não se podendo esperar, como tal, uma imitação ou sequer uma comparação com o vocalista original da banda que este agora acompanha, tendo o próprio reconhecido no inicio do concerto que é para ele um privilégio poder partilhar o palco com “gigantes” e demonstrar respeito por Freddie.

Se as primeiras músicas do alinhamento não surpreenderam o público, que aguardavam alguns dos maiores êxitos no inicio do espectáculo, foi a partir da sétima música, “Play the Game” que o público começou a demonstrar toda a expectativa guardada para aqueles que a maioria da população pensava já não ser possível assistir em Portugal.  Duelo de baterias entre pai e filho, Roger e Rufus Taylor, respectivamente, ofereceram um momento de confronto entre a energia inesgotável da juventude e a admirável sabedoria grisalha. Foi num mágico fundo brilhante e circular que se assistiu ao solo de um dos guitarristas mais influentes de todos os tempos, Brian May.

Durante todo o concerto foram vários os momentos em que voz e imagem de Freddie Mercury surgiram em projecção mas, sem sombra de dúvida, um dos momentos mais simbólicos da noite sucedeu aquando dos acordes de “Love of My Life”, com Brian May na guitarra e um coro fenomenal do público, trouxeram à memória em vídeo os melhores momentos do já ausente vocalista de Queen.

A passar de moda ou não, assistimos neste concerto ao primeiro encore desta edição do RiR, com um seguimento de três das músicas mais badaladas da banda original, encerrando obviamente com “We are the Champions” e um conjunto de cachecóis encarnados elevados no ar, representando a vitória futebolística do campeonato pelo Sport Lisboa e Benfica, na semana anterior. No final do concerto tentámos perceber as reacções e, para alguns, “começou mal, mas acabou bem”, referindo-se a alguma dificuldade sonora sentida na frente de palco; outros referiam, “foi o dinheiro mais bem gasto da nossa vida”, “gostei imenso”, “brutal, excelente”. Entre as melhores performances encontramos “Somebody to Love” e “We are the Champions” mas foi “Love of My Life” a música eleita. No final, a frase mais repetida pela audiência revelava “o melhor concerto da minha vida”.

Dia 3 – 27 de Maio

Embora sejam muitas as vestes a ilustrar o fanatismo por algumas bandas e artistas, não foi a habitual mancha negra que caracterizou este dia. Apesar da bandeira do rock pesado seja a ganga preta, ao contrário do que se esperava, a grande surpresa do dia foram os milhares de jovens – bem jovens – e algumas famílias que rumaram ao Parque da Bela Vista. Este dia podia assim ficar marcado: o dia com mais cheiro a erva; o dia do “não-preto” com mais cabelos (ainda mais) coloridos – com vantagem para o azul que, ainda assim, não prevaleceu ao cinzento do céu.

O vento e as nuvens baixas ocultaram o pouco sol que, quando espreitava, aquecia o recinto. Inclusive, a piscina da Somersby Pool Parties se encontrava com alguns participantes num dia encoberto.

Os três elementos que constituem Cave Story iniciaram o segundo fim-de-semana com o concerto com menos público do Palco Vodafone, pegando nos seus singles mais conhecidos mas, provavelmente devido ao vento, a sonoridade saiu prejudicada.

Se é para partir, chamem os quatro meninos que se seguiam: capazes de dar a maior cefaleia à vizinha do lado, a estrondosa música de Glockenwise fazia vibrar até as formigas que passeavam no relvado artificial, contentando o público com Heat, disfarçando algum do frio que se começava a notar. Esta banda de garage rock vinda de Barcelos encaixaria bem numa banda sonora de um filme do faroeste em versão rock, no qual as poucas palavras usadas são suficientes para suportar toda a sonoridade. Tal como nos restantes, neste concerto só uma coisa não podia faltar: os desejados sofás vermelhos, debaixo do braço dos transeuntes que iam aumentando à medida que o sol de escondia e a temperatura baixava.

Foi mais tarde, com Metz, que o Palco Vodafone mais encheu até àquela altura, ainda que este fosse o dia menos procurado. Aliás, este foi o dia que mais admiração suscitou a quem se deslocou em mais do que um dia ao RiR. Desde o público à meteorologia. Este concerto teve direito a mosh logo à segunda música que, em género de dança hindu, trouxe a chuva. De uma bateria preta opaca, consonante com os negros céus de Lisboa, saía o ritmo que conduzia a banda e os seus fãs que ainda sob a escuridão se renderam aquela música capaz de fazer levantar até os esqueletos já sepultados.

Seria arriscado avançar “Rock molhado, concerto abençoado” mas tal parece não se ter confirmado logo ao início do concerto dos Korn. No dia menos lotado, foi este o concerto que mais se esperou. E espera foi, sem dúvida, a palavra da noite. Com uma agradável entrada a bateria seguida de passagem a cordas, surge a pergunta “Are you ready?!” e o som ficou por aí. Ausentaram-se do palco e minutos depois surgem com a questão “Ready again?!”, retomando o concerto que pararia de seguida, com o mesmo problema e desta vez acompanhado de muitos apupos. Eram já 22h49 quando o RiR se apresentou para um pedido de desculpas, referindo que a banda daria um concerto inesquecível. E, sem dúvida, deu. Após mais de uma hora e apenas cinco músicas foi necessário a chuva chegar para que o terceiro blackout ocorresse, cancelando assim o restante concerto. Mais tarde entre culpas e culpados, percebeu-se que o real problema técnico esteve a cargo do backline da banda, não envolvendo, portanto, a entidade organizadora de forma directa.

Para o fim ficaram os envelhecidos Hollywood Vampires – embora, na verdade, os jovens que se deslocaram naquele dia procurassem por Johnny Depp. Mais um concerto abençoado pelas gotas de água que caiam, tocaram-se hits rock de sucesso de bandas como Beatles (“Come Together”) mas foi na irreverencia de “My Generation” de The Who que houve direito a quebra propositada de uma guitarra. Para finalizar a noite, nem o toque de anca de Alice Cooper convenceu o público a permanecer mais uns minutos, verificando-se uma saída progressiva de pessoas do recinto com o tardar da hora.

Dia 4 – 28 de Maio

Depois da afro battle de Blaya ter dominado o primeiro dia, foram os movimentos de “Swag on” de Cifrão que atraíram dezenas de pessoas a este que é um dos espaços mais reduzidos do RiR, tendo o segundo fim-de-semana apresentado lotação esgotada neste palco com os bailarinos da Jazzy Dance Studio a assegurarem a diversão com as suas coreografias.

E foi então que adolescentes e suas mães se dirigiram ao Parque da Bela Vista para assistir ao concerto da boysband portuguesa com maior sucesso da actualidade, os D.A.M.A, actuarem com Gabriel o Pensador no Palco Mundo. Depois de recolhidos todos os brindes e de terem esperado horas a fio nas filas para as atracções, o tempo para escutar as canções das novelas/tops de rádio nacional/anúncios televisivos e afins chegou. Foi notório o peso que tal concerto teve para os rapazes, cujos olhos brilharam durante as duas horas de concerto, em que milhares de fãs cantavam em coro, e de cor, as letras das suas músicas preferidas.

Ivete Sangalo chegou, mais uma vez, para vingar o seu lugar no RIR, confirmação obrigatória em cada edição e, desta vez, com bis. Levantando poeira com “Sorte Grande” e trazendo à memória Bob Marley “Could You Be Loved”, não deixou de fora os sucessos da Banda Eva “Arerê”, “Beleza Rara” e “Eva”, deixando o público todo a dançar, qualquer que fosse o lugar do recinto.

Os cabeças de cartaz, Maroon 5, foram os mais desejados da noite e corresponderam totalmente ao desafio. A chuva passou e Adam Levine reconquistou os fãs não apenas com a sua voz nem pelas várias cordas tocadas mas – e quiçá principalmente -, com a sua sensualidade de rapaz inocente versus bad boy. Tratou-se, sem dúvida do concerto mais aclamado pelo público.

A Música Electrónica foi, ao longo dos dias, como expectável, a menos requisitada. Embora se encontre junto ao Palco Vodafone, a sua distância face ao restante recinto aparenta ser um dos motivos que leva menos pessoas a este local, prejudicando-se com o entardecer. Ainda assim, são alguns os que trocam a música pop do Palco Mundo pelos ritmos de dança dos DJs que por ali passaram, como é o caso do DJ Pedro Cazanova que passou hits de verão e da radio para a massa humana que surgiu no intervalo de Ivete Sangalo e Maroon 5.

As 85 mil pessoas que se juntaram neste dia, anunciado como o mais preenchido, trouxeram mais vida ao recinto mas com ela também a chuva e o vento. Desengane-se quem pensa que aguentar horas a fio sem comer, beber ou deslocar-se à casa de banho é só para os fanáticos da primeira fila. Este foi o dia em que filas de 2 a 4 horas (ou mais!) para as atracções à disposição no recinto faziam aglomerar a cada canto dezenas de pessoas em esperas prolongadas. Da roda ao slide, (já falámos dos sofás vermelhos?), para obter pinturas, lenços ou chapéus a correria era desenfreada e levava pais, filhos, amigos, em grupo ou separados, para receber mais qualquer coisa “grátis”. Este foi sem dúvida um dia para os mais jovens, adolescentes na sua maioria.

Mighty Sands, uma carismática banda nacional, arrancou este dia no Palco Vodafone, convidando Salvador Seabra (El Salvador) para os acompanhar na sua nova música. No entanto, o som não estava adequado registando-se alguns problemas a nível da voz feminina, revertidos por sua vez pelo acariciar das cordas da sua guitarra como se de um objecto precioso de tratasse.

Foi com Capitão Fausto que o exército juvenil se aproximou do palco para escutar alguns temas em português. À parte destes, só os habituais seguidores da banda, algumas pessoas acima dos 40 anos (alguns familiares…) para ver uma das bandas portuguesas da actualidade. Continuaram a ser sentidas dificuldades sonoras, principalmente no que respeita a back vocals.

A encerrar este palco no penúltimo dia estiveram os Real Estate, banda norte-americana de Nova Jérsia, que atou sob uma chuva agravada pelo vento que se fazia sentir, levando os presentes a abrigarem-se debaixo das árvores mas sem nunca arredar pé. Valeu ao público a delicadeza da assistência ao palco que lançou ao ar um conjunto razoável de impermeáveis azuis que, após vestidos, fizeram parecer à banda “um conjunto de preservativos azuis”. De facto, piadas não faltaram neste concerto e até os cabeças de cartaz do Palco Mundo, Maroon 5, tiveram direito a uma referência à sua música “This Love”, o mesmo sentimento que nutre por Lisboa, referindo-se à capital como um dos locais onde mais gostam de tocar.

Dia 5 – 29 de Maio

Embora de um domingo de tratasse e, como tal, em hora anterior à habitual, a maior enchente do Palco Vodafone desta edição do RIR ocorreu com Isaura. A jovem portuguesa de Gouveia, com um único EP editado, lançado no ano passado, apresentou-se com a habitual simpatia e proximidade aos seus seguidores, desta vez em excelente companhia, numa formação de banda com cordas, bateria e teclas. Face a actuações anteriores, foi notória a evolução na maturidade musical, principalmente na utilização dos loops e sintetizadores. Além da agradável melodia, é frequente observar a catarse nas suas letras, pronunciadas de cor por alguns admiradores, como se de um ombro amigo de tratasse. Como frequente, a sua capacidade de transformar hits pop em criações pessoais, fornecendo excelentes covers, surpreendeu desta vez com “Watcha Say” (Jason Derulo) no final da sua “Dancefloor”. Seguiu depois com “Hold Back the River” (James Bay) e, até a lembrar a grande ausência do dia, Ariana Grande, congratulou os presentes com “Love Me Harder”.

B Fachada, português irónico de palavras e pai de três filhos, não ficou aquém e deixou uma formação em pé de cinco ou seis filas dianteiras e toda uma plateia sentada no tapete verde. Entre cortes eléctricos com cantares acapella e comboios humanos, facilitou um coro da sua música “Só Te Falta Seres Mulher”, banda sonora de uma novela e possivelmente um dos seus temas mais conhecidos pelo público geral. Para o final levou algumas músicas do seu álbum Criôlo e possibilitou um momento de dança a pares, semelhante às mornas cabo-verdianas.

A encerrar o Palco Vodafone estiveram as cativantes Hinds. Identificadas como uma das bandas imperdíveis desta edição do Rock in Rio – facto comprovado também pelo grande número de fotógrafos presentes – cumpriram a sua missão mas parece não terem superado as expectativas de todos as que as escutavam. Mais uma vez foram notórios os problemas de som, principalmente a nível vocal. Começando o diálogo em inglês, nuestras hermanas preferiram a escolha do público e avançaram em espanhol. Desde crianças de colo a mosh na primeira fila, cartazes com corações fizeram também parte deste concerto, com um público mais jovem a vibrar nas primeiras filas, mas muitos observadores a ocupar o restante espaço. Numa dança de cordas em trio, foi na penúltima música que dedicaram o seu trabalho aos fãs, reservado “Davey Crockett” para o final. Ainda que de um festival de tratasse, as jovens madrilenas mantiveram o seu hábito de venda de merchandising a cargo da banda, que decorreu no backstage.

Nesta última tarde subiram ao Palco Mundo, Charlie Puth com o seu sucesso de rádio “One Call Away” e Ivete Sangalo, esta última em substituição de Ariana Grande, com cancelamento na noite anterior, por motivos de saúde. No entanto, foi Avicii o rei da música electrónica na sua já proclamada “festa de reforma”. Aos 26 anos, o DJ sueco Tim Bergling, revelou vontade em terminar a sua carreira e, imediatamente antes, brindou Portugal com os seus hits “Hey Brother” e “Wake Me Up”, numa festa com direito a milhares de luzes dançantes, lembrando pirilampos ensaiados para uma noite de magia. Uma das actuações com maior lotação, a par de Maroon 5 e Queen, a encerrar a edição de 2016.

Texto: Ana Margarida Dâmaso
Fotografia: Rock In Rio Lisboa