Twin Transistors. O sol dos lobos brilha à noite.

Em Leiria, existe uma editora discográfica que tem dado que falar. A Omnichord Records tem capturado algumas das melhores omnipotências sonoras da região, e este ano o seu catálogo tem sido recheado com grandes álbuns de jovens bandas da cidade de Leiria. Entre elas estão os Twin Transistors, que este sábado, dia 21 de Maio, apresentaram o seu álbum de estreia, Sun Of Wolves; um primeiro capítulo na sua história discográfica, contado através de um intenso rock psicadélico, o culminar do projecto de 6 músicos nascido em 2009.

Começando às 2 e acabando às 3, a banda levou uma hora a tocar o ‘sol dos lobos’ na íntegra. Começando com Francesa, que abre o disco e é um dos seus dois temas que se podem dizer ‘curtos’, percebeu-se madrugadoramente que a casa estava cheia de amigos da banda, outros músicos de Leiria, um punhado de curiosos e alguns suspeitos habituais nas Unknown Pleasure Nights. A banda, essa, mostrou-se inicialmente tímida e levou algum tempo a desinibir-se, deixando a sonoridade rica e complexa falar por si nos primeiros minutos.

These Days seguiu-se, com a banda concentrada, focada, mergulhada no som; o público ia abanando a cabeça, e continuou com maior vigor em Sun Of Wolves. Neste último registo, as três guitarras criaram uma teia complexa que rebentou com estrondo a meio da música, seguida de uma parte mais experimental, trippy, enquanto o palco se pintava do amarelo do sol e a banda começava a mostrar uma presença mais lupina. Uma troca de guitarras depois por parte do também vocalista Hélder Ferreira e concluiu-se a primeira metade do concerto, num andamento mais calmo, quase a ritmo de passeio pela Ashbury Street abaixo.

A faixa mais curta do álbum, Guided By Voices, retomou um ritmo mais galopante, com um certo feeling punk. Na recta final, finalmente o single All In. Skullflower, uma espécie de dois em um, música dentro de música, primeira com a parte mais mexida e facilmente reconhecível pelo uivo dos seis lobos de barba e bigode em palco; depois, com uma momento mais lento e psicadélico, capaz de dar moca sem ser necessários recorrer ao auxílio de estupefacientes.

A banda ainda tentou enganar o pessoal dizendo que Stell era a última música, mas com várias setlists espalhadas pelo palco à vista de todos não resulta. O que resulta é o pesado riff de entrada e a progressão no tema, que cresce em camadas e velocidade até ao final, com a bateria quase a saltar para outro palco e uma pandeireta furiosa. Por fim, o mais que esperado encore, a celebração final com o épico de 10 minutos Shine. The Best Thing. Quem não sabe letra, traz cábula; afinal de contas, tocar sabem eles, construindo com mestria a muralha final de som, qual imponente fortaleza de altos decibéis.

É positivamente assustador a qualidade musical que tem saído de Leiria ultimamente. Os Twin Transistors não ficam atrás de First Breath After Coma, Nice Weather For Ducks, Surma, Whales, tantos outros, tão diferentes no som, tão iguais na qualidade e vontade. Para a história fica mais um grande concerto no Beat Club, que aos sábados à noite tem outro encanto!