Na primeira edição do Lisboa Dance Festival, sentiu-se ao longo dos dois dias o festival a entrar pelas entranhas da cidade – propiciado especialmente pelo espaço da LX Factory que, com o seu carácter industrial, encaixou perfeitamente no mote do festival – promover a cultura urbana e as linguagens mais contemporâneas dentro da música electrónica.
Música foi coisa que não faltou, não só para se ouvir e dançar, já que a partilha de conhecimentos e discussão de conteúdos se mostrou inerente ao festival, através das TALKS – uma das vertentes do LDF. Entre lectures, masterclasses e conversas, abordaram-se temas pertinentes para aquilo que é o panorama da música electrónica actual, como o processo de edição em Vinil – o regresso da indústria e o seu consumo; como abrir e gerir uma editora e os seus direitos e dos artistas; mistura, masterização e produção. Moullinex, que esteve a representar a Discotexas com Xinobi, partilhou o seu amor por sintetizadores; o DJ Ride falou-nos de scratch, que é a grande base da sua nova versão ao vivo. Debateu-se ainda a viragem do Hip Hop e dos sons da periferia como uma expressão de força, até uma última conversa sobre o papel da Rádio na música portuguesa, onde apareceu um convidado de última hora – Photonz, criador da label One Eyed Jaks, também representada no LDF. Este convite deveu-se essencialmente ao seu mais recente projecto – a Rádio Quântica, uma plataforma online, que pretende, tal como o festival, divulgar o que se faz e passa por cá e trazer uma lufada de ar fresco ao panorama radiofónico moderno. A par das talks, o espaço de mercado apresentava-se pequeno, mas composto de bons discos e algum gear de produção musical.
É isso mesmo, nem só de grandes nomes é feito o Lisboa Dance Festival. Grande parte do alinhamento foi preenchido por labels nacionais, desde a activista Labareda que ainda este mês vai realizar uma compilação all female, o Hip Hop desconcertante da Monster Jinx, dos ritmos africanos da Príncipe e da Enchufada, e as descontraídas Extended, con+ainer, Ostra Discos, entre outras, que não deixaram ninguém indiferente e fizeram-se notar até para os menos atentos.
A Fábrica XL, a maior sala do festival, acolheu na sua maioria os grandes nomes internacionais – bem artilhada, tanto a nível sonoro como visual, apresentou-se com uma linha de luzes no tecto, a iluminar a plateia, guiando-a até aos DJ’s – atrás destes, víamos uma enorme parede de janelas seladas, cenário perfeito para videomapping – projecções na sua maioria abstractas e com caris industrial, para dar vida aos shows dos aclamados Dj’s que por ali passaram. Âme, o grande nome do primeiro dia, apresentou-se com um set envolvente, mas que não prendia. No segundo dia, enquanto Motor City Drum Ensemble virava discos, o público flutuava na sua onda house e disco. Seguiu-se Prosumer, com uma batida mais forte e seca, que não conseguiu prender o público. Move D entrou a puxar pelo público, não só com o seu som mais melódico, mas muitas vezes com a ajuda do microfone. Os presentes já não podiam esperar – é então que aparece projectado o nome e rosto do mais aguardado – Sven Väth, que se apresentou com o seu techno forte, encorpado e progressivo, criando uma atmosfera extremamente energética. Destaque também para os internacionais XDB e VAKULA que aqueceram a Sala NormaJean, pondo tudo e todos a mexer numa dança desenfreada. O calor sentiu-se de forma literal, em termos humanos e físicos, potenciando enormes momentos de celebração.
Para os mais resistentes, a festa prolongou-se até às nove da manhã no Ministerium Club, com Norman Nodje e Alex.Do, bem como os nacionais Fusco, Amulador, HNRQ e Shcuro.
O Lisboa Dance Festival mostrou-se com vontade de crescer, dar a conhecer e, acima de tudo, fazer mexer. A sua segunda edição está confirmada para 2017.
Fotografia: Telma Correia
Texto: Nélio Pedrosa