Ensiferum, uma peleja entre irmãos

Já fazia tempo que o Paradise Garage não abria as portas para mais uma noite de concertos na nossa capital. Na passada segunda-feira as ruas de Alcântara encheram-se de um manto preto.

A fila já se compunha – independentemente do frio e da chuva que por vezes nos visitava. Aos poucos, a fila ia diminuindo e o Paradise Garage começava a compor-se para a noite que se avizinhava. Caras pintadas com riscos pretos, percorriam a sala quase como prontos para uma guerra. Mas que guerra seria esta?

Os portugueses Cruz de Ferro, tomaram o papel de aquecer o público com o seu heavy metal puro e sem papas na língua. “Auto de Fé” iniciaria ao concerto, porém o que mais chamaria à atenção do público que não conhecia a banda, oriunda de Torres Novas, seria a apresentação do tema “Quinto Império”, a ser lançada no novo álbum. «Portugal» e «vingança» foram duas das palavras que Ricardo Pombo gritara no final da música, palavras essas que entraram como que ordens ao público que os assistia, e que sentia cada palavra entoada na língua nativa, sem conseguir não repetir as mesmas. “Defensores do Metal” e “Guerreiros do Metal” – nossas já tão conhecidas – não deixariam o público descansar, e as letras de cada uma das músicas eram cantadas e entoadas por toda a sala. O entusiasmo era eminente, e como tal os Cruz de Ferro mostrariam que a música do género em Portugal, e especialmente em português, permanece viva e pronta para um quinto império.

 

O fogo deixado por Cruz de Ferro havia cessado, contudo, após uma grandiosa dose de Heavy Metal, ainda havia espaço para uma dose de folk vindo directamente da Finlândia, motivo pelo qual se preenchera o Paradise Garage.

Os tão acarinhados Ensiferum subiram ao palco para uma guerra sem igual – começando, pois, com “March of War” – uma introdução que fez o entusiasmo e a adrenalina subir ainda mais do que já se fazia sentir. As danças foram surgindo pelo público e os gritos de guerra foram partilhados, mas foi essencialmente o entusiasmo geral que uniu cada pessoa que se encontrava na acolhedora sala. Em cima do palco pudemos ver uma ligeira mudança na formação: não houve sinais de Emmi ou do seu teclado, mas pudemos testemunhar sim um acordeão tocado por Netta Skog (Turisas) que desempenhou um papel essencial em todo o espectáculo, sempre com um sorriso no rosto e com uma vontade imensa de se divertir.

“From Afar” foi uma das músicas mais marcantes de todo o concerto, assim como “Burning Leaves”, em que todos os presentes saltou em plena e perfeita sincronia. O Paradise Garage estremeceu mesmo na noite fria. “Lai Lai Hei”, “Heathen Horde” e “My Ancestor’s Blood” contribuíram e bem para descarregar as energias, mas os finlandeses não são banda de deixar o público apenas com água na boca. Sem aviso prévio, todos os membros da banda surgiram em palco usando sombreros vermelhos – toda a gente sabia o que aí vinha, “Bamboleo” – e escusado será dizer que a palavra festa não faz jus ao que se sucedeu, em que até pares de ténis sobrevoaram a audiência. “Iron” finalizou o concerto, e com a mesma, uma noite de peleja entre “irmãos” em que não deixou marcas, para além das memórias.

Fotografia: Alexandre Paixão
Texto: Mariana Pisa