Riverside – Love, Fear And The Time Machine

RiversidelovefearmachineOs grandes Riverside, o grupo polaco, que tem trazido uma força maior ao estilo do metal progressivo, regressa com mais uma empreitada intitulada Love, Fear And Time Machine. Perdi um pouco a vontade de ouvir Riverside depois do seu último álbum, Shrine Of The New Generation Slaves, que pouco me entusiasmou, apesar de bom, parece-me que faltou a alma e a complexidade que tornaram a banda tão conhecida.

O seu mais recente disco, é muito mais espiritual e profundo, principalmente que o seu antecessor. De facto, o álbum apresenta amor (“Love”), medo (“Fear”) e a ânsia para viajar no tempo (“The Time Machine”), ou pelo menos a ânsia em sair do presente estado de mente, e escapar à realidade. A máquina do tempo pode ser uma metáfora para fugir à realidade que nos atormenta e nos assusta. Claro que esta é uma interpretação de autor, e tenho aqui um acto de liberdade de expressão, mas é isto que torna o disco tão bom, o facto de se poder interpretá-lo e senti-lo da forma que mais nos apraz.

Quando disse que este novo lançamento é superior ao antecessor, eu não quis dizer que o antecessor não tem os seus momentos, no entanto que perde-se um pouco e torna-se, relativamente, saturante. Love, Fear And The Time Machine consegue mostrar uns Riverside que têm estado um pouco mais escondidos desde Rapid Eye Movement, explorando a vertente mais emocional e espiritual da vida humana e que o grupo, felizmente, sempre apresentou desde os primórdios. O grupo é capaz de analisar o sentimento mais recôndito e profundo, conseguindo-o manifestar numa forte e espectacular combinação de metal progressivo de excelente qualidade com uma suavidade narrativa muito acima da capacidade de muitos escritores de romances. Na verdade, eles são das poucas bandas que o conseguem fazer tão bem. Não é tão simples como parece. Escrever sobre sentimentos e emoções é muito difícil, no entanto o grupo parece ter arranjado a combinação perfeita e, ainda assim, apresentar uma agressividade instrumental e lírica, nos seus discos, digna de vénia.

A banda liderada por Mariusz Duda tem, neste disco, um dos seus trabalhos mais emocionais, visto ser um lançamento quase na totalidade tocado em tom de perda, desilusão e conformação. A performance da banda consegue ser muito melhor que a do disco anterior, com a interpretação de Duda a ser a mais surpreendente. Tecnicamente, consegue obter momentos muito bons, em certas faixas: “Under The Pillow”; “Saturate Me”, provavelmente a mais agressiva do álbum; “Discard Your Fear”, a depressiva e espectacularmente interpretada por Duda, “Afloat”; e as tremendamente emocionais “Towards The Blue Horizon” e “Time Travellers”. Quero, ainda, destacar a lindíssima “Found” que é verdadeiramente encantadora e que é colocada em oposição a “Lost”, representando assim o fim da meta, para um indivíduo que parece perdido nos seus pensamentos, sem esperança e viciado nos seus próprios medos e que consegue encontrar, “Found”, a sua paz interior. Apesar de não ter a agressividade de outros álbuns, o novo lançamento tem uma emoção mais declarada, e penso que o principal objectivo da banda foi obtido. Transmitir sentimentos profundos com uma narrativa bem escrita e estruturada e bons momentos instrumentais, com faixas muito geniais e, até, encantadoras.

Apesar de não ser um álbum conceptual, ele deve ser encarado como tal. Existe uma temática comum em todo o disco e a própria narrativa é divulgada no título. Amor, medo e a máquina do tempo são as temáticas de um disco com uma narrativa muito criativa e capaz de ser alvo de diversas interpretações. Os Riverside conseguem compor um disco muito bom, com uma narrativa criativa e inteligente, que é cheia de emoção e cuja interpretação é realmente fantástica.

Autor: João Braga

Álbum. InsideOut Music. 04/09/2015

Classificação/Rating

8.0

Os Riverside conseguem compor um disco muito bom, com uma narrativa criativa e inteligente, que é cheia de emoção e cuja interpretação é realmente fantástica.