William Basinski @ Musicbox, 18/9/2015

Ver William Basinski é sempre um privilégio, não importa quantas vezes. A sua postura austera, a expressão profundamente imersa e, ao mesmo tempo, evadida do espaço corpóreo e sonoro contrasta com a sua figura meio excêntrica, qual estrela de rock à boa maneira texana, pela qual se apresenta e se dirige aos presentes.

Há dois anos atrás, na sala escura do Teatro Maria Matos, bem menos composta do que na passada sexta-feira no Musicbox, William Basinski apresentava a sua “Nocturnes”. Dois anos (e algum material novo) depois, mantém-se firme a atmosfera soturna, melodicamente repetitiva, numa linha entre um crescendo e uma progressiva queda decadente, intrinsecamente bela, e que nos faz sempre querer voltar.

“Cascade” e a congénere “The Deluge” lançadas este ano pela Temporary Residence Limited, e apresentadas na passada noite de sexta-feira, erguem-se num cristalino, melancolicamente fluído loop de piano (magistralmente reinventado desde o seu já aparecimento no LP 92982 de 2009) e micro sons que lhes conferem textura, picos de tensão/libertação que as tornam infinitamente mais ricas do que relaxadas sinfonias de piano.

Acompanhadas de projecções cerúleas e aquosas em pano de fundo, o loop de piano estende-se repetidamente durante vários minutos (em “Cascade” estende-se ao longo de quase quarenta minutos, esvanecendo até ao silêncio total), interrompido a certo momento por um sample de orquestra, granoso, envolto em graves assombrosos, tal como “The Deluge”, breves momentos antes de se ouvir o piano novamente. Houve quem fechasse os olhos, quem se agitasse de forma lenta e ondeante, ou até não tirasse os olhos do palco em profunda imersão. Poder-se-ia quase experienciar um período de quase-paz infinita, não fosse o silêncio sepulcral desejável momentaneamente interrompido por alguns bulícios ou copos estilhaçados no chão.

Já próximo de fim, para contentamento de quem ali estava presente, Basinski fez o embalo final ao som de um breve excerto da parte 1.1 dos Disintegration Loops. A longa e esparsa peça, onde o que parece ser um sample de sopro pesaroso se funde vagarosamente com uma linha de baixo nebulosa ao longo de quase uma hora e, lentamente nos guia até ao fim desta catarse sonora.

Fotografia e texto: Telma Correia