Modernos @ Plano B, 6/2/2015

Os Modernos parecem resultar de uma incursão dos Capitão Fausto num terreno mais linear, onde ao invés de a energia composicional ser focada em músicas construídas metodicamente com o contributo de todos os instrumentistas, esta é direccionada para malhas directas no conteúdo. Talvez por causa disto o primeiro impacto no palco seja menor, pelo menos em comparação com a banda de origem.

O seu concerto na passada sexta-feira no Plano B, Porto, foi acompanhado por um som agressivo e demasiado intenso, mas este não parecia estar a incomodar o público que, estranhamente aprumado, enchia esta sala subterrânea. O gig abre com “24” e a sua gingona abordagem ao punk, e ainda na primeira música inaugura-se a pista de crowd surf, canta-se a letra com comoção e ouve-se o vocalista Tomás Wallenstein dizer, na sua familiar pronúncia alfacinha: «É como estar em casa».

Estas canções baseiam-se em motivos (linhas de baixo, grooves de bateria pré-definidos, etc.) e nestes permanecem, tanto nos versos cantados como nos solos múltiplos. Não há expansões maiores, numa postura bem diferente da dos Capitão Fausto. Com os Modernos, esta concentra-se em manter o ritmo e na diversão de todo o povo. As suas aspirações não são tão musicais, mas mais simples e humanas. Ainda assim, permanece a dúvida do porquê deste grupo incorporar um projecto independente e não um álbum, “ideia” ou fase da banda original.

Com algumas tentativas de refrescar a sonoridade, o concerto acaba de rompante após “Sexta-feira” e o seu tempo mutante. O crowd surf, em constante rodagem, cessa também. Destaque para um público que manteve permanentemente uma energia cativante Se a causa única deste concerto foi a diversão e a boa onda, então os Modernos cumpriram-na de mão cheia.

A abrir a banda lisboeta esteve Pedro Lucas, cancioneiro com voz a vislumbrar Miguel Araújo e um timbre doce na guitarra que veio cantar o seu novo álbum, Águas Livres. Como primeira parte, foi um claro acalmador das águas, que não se queriam turvas antes dos protagonistas. O after ficou à responsabilidade dos Bispo, outra disseminação dos Capitão Fausto cujo enfoque pára na experimentação e improvisação em teclados vários sobre uma bateria segura. A sua sonoridade rítmica e exótica prolongou por boas horas o movimento na audiência iniciado pelos Modernos.

Texto: Gonçalo Tavares
Fotografia: Rafaela Bernardo