Quando começa ou acaba Barroselas é sobretudo uma questão de quando se chega e de quando se retorna (à realidade?) do que dias de calendário estáticos e impenetráveis. De qualquer maneira o dia 1 foi o ponto de partida para a viagem do SWR deste ano, deixando para trás o W:O:A Metal Battle (vencido por Revolution Within) e um assentar de arraiais esmagadoramente coloridos pela Quechua…
Como já tinha acontecido o ano passado o cartaz dos 3 dias estava bem balanceado. A tendência de favorecer um sub-género num dia tem-se esbatido e isso torna os dias mais homogéneos se bem que menos propensos a escolhas “diárias”.
Dia 1
Os norte-americanos Misery Index fecharam o primeiro dia no maior palco de Barroselas mas não coube apenas aos grinders criar momentos memoráveis no primeiro dia. O “combo” Sourvein e Graves At Sea brindou os presentes com uma descarga de riffs pestilentos e venenosos sempre com um notável enquadramento ao vivo. O palco 2 foi perfeito para a prestação suada de ambas as bandas que fizeram os níveis de som e THC subirem consideravelmente face ao que se havia passado até ai.
A intercalar as bandas norte-americanas outro dos atractivos do dia: Gorguts. Apesar da prestação tecnicamente imaculada (nem outra coisa se esperaria) a obscuridade que (além da proficiência técnica) também marcava clássicos do género como Considered Dead ou The Erosion Of Sanity esteve ausente o que resultou num concerto sobretudo morno. E se de “morno” se fala há que realçar a sombra Negură Bunget. Sombra daquilo que outrora foi uma das mais interessantes bandas europeias e que se arrasta de mudança em mudança de “line-up”.
A realçar a presença de In Tha Umbra no palco pago depois de Eryn Non Dae, banda francesa cuja fórmula só surpreende nas primeiras músicas para depois começar a parecer uma enorme hashtag de influências exploradas de forma pouco menos descarada que o plágio.
O “palco 3” recebeu exclusivamente bandas portuguesas onde se destaca a presença cada vez mais sebastianista de Ermo e claro, o humor transformado em caos de Serrabulho.
Dia 2
O dia mais longo e já com dois dias acumulados de chuva sem tréguas e com a lama a alastrar não poderia ter tido melhor começo com Putnam Was The Bastard: noise sem input (ou descanso…), formatos de armazenagem caduco projectados em direcção ao público e uma homenagem contínua a Anal Cunt. Ainda no desfile nacional The Quartet Of Woah tomaram conta do palco principal com uma actuação enérgica e claramente adaptada ao festival. Aspen ainda obrigou a nova vinda ao palco 3 mas as atenções focaram-se no palco 2 logo de seguida.
Somente na sua segunda aparição de sempre ao vivo, Bosque criou um dos momentos mais únicos em todo o festival. Não só por serem a única banda de Funeral Doom do cartaz mas sobretudo pela sua abordagem única ao próprio género. O ritual foi focado no último álbum (Nowhere) e roçou a perfeição no que há transposição do som etéreo diz respeito, incluindo a voz que transforma Bosque numa das entidades com mais notoriedade à escala global no que a este “nicho” diz respeito.
Depois de um momento de tal intensidade é bom não esquecer a passagem de bandas com estatuto de quasi-lenda nos seus respectivos “campeonatos”: Metal Church e Mystifier foram sem dúvida dos nomes mais referenciados para “concerto do festival”. Ainda a destacar a aparição de Black Witchery com bíblias destruídas à mistura.
No palco 3 For The Glory e Trinta & Um davam ao Hardcore uma mais que merecida aparição no festival tendo cabido aos últimos encerrar o dia já depois da homenagem a Pungent Stench ter encerrado as hostilidades no palco 1.
Dia 3
O último dia trazia uma das mais consensuais aparições do festival: Discharge. A importância dos ingleses para uma série de ramificações dentro do Punk e do Metal assim o diatava e é incontornável que terá sido um dos grandes concertos do festival seja pela actuação seja pelo revivalismo.
Antes disso uma série de confirmações e de “pequenas grandes” surpresas: Dolentia mostrou uma abordagem ao Black Metal bem diferente e que tinha estado ausente até então; Martelo Negro continua a mostrar como homenagear com bom gosto e competência (com a actuação a ter mais algumas profanações pelo meio…); Hirax a demonstrar boa forma ainda que mais focados no material mais “thrashy” o que não deixou de deixar um gosto um tanto ou quanto amargo face ao que a banda também é nos últimos anos.
Antes de Discharge três propostas bastante fortes: Bölzer, duo suíço com uma tremenda capacidade de conciliar composições esquizofrénicas com um som avassalador; os (já) veteranos Anaal Nathrakh cuja descarga de menos de uma hora chegou e sobrou para provocar danos e muitos ouvidos; e por fim os britânicos Grave Miasma a apresentar Odori Sepulcrorum numa demonstração de Black/Death de pendor mais ritualístico.
No entanto, é preciso voltar atrás e sair dos grandes palcos para perceber o que realmente sobressaiu no terceiro dia. O palco 3 variou por entre a esquizofrenia controlada de Pterossauros, a festarola de Gwydion e o pandemónio em Vai-te Foder. No entanto foram os franceses Verdun que tomaram de assalto o palco “externo” do festival. Numa demonstração exemplar de Sludge dilacerante e com um dos melhores sons do festival, os gauleses destruíram tudo à sua passagem. Uma enorme e agradável surpresa.
O resto é a lenda do costume. As notas finais são sempre marcadas por histórias que vão prolongando o mito… no entanto, o melhor é mesmo ir lá ver. Para o ano conta-se com isso.
Texto: Filipe Adão
Fotografia: Iago Alonso (SWR Barroselas Metalfest)