LINDA MARTINI – Turbo Lento

LINDA MARTINI  – “Turbo Lento”

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Linda Martini

Camané e Sonic Youth. Imaginem o fadista fechado num estúdio com o Thurston Moore e o Lee Ranaldo a dar o melhor seguimento possível à aliança voz-e-guitarra. André Henriques apresenta-se neste terceiro disco com um registo vocal mais «português», especialmente em momentos como ‘Panteão’, ‘Febril (Tanto Mar) ou ‘Tremor Essencial’… mas há mais novidades. Para começar, em ‘Aparato’ podemos até ouvir: «Tem que ser melhor, entrar, mexer, mexer, desarrumar». É mais ou menos isto que o nosso ouvido sente em relação a “Turbo Lento”.

Quem não quer um disco melhor de Linda Martini? “Olhos de Mongol” foi uma estreia fantástica e “Casa Ocupada” explorou os cantos da criatividade do quarteto, mas como encontrar um meio-termo capaz de surpreender? A banda faz tal parecer simples: cruzam-se as faixas rápidas e «violentas» com as mais bonitas e temos um disco equilibrado e de boa digestão. A selvagem ‘Juárez’ entra ao ataque, mas nos seus instantes finais já nos soa algo familiar. Chegam-nos ‘Panteão’ e ‘Pirâmica’, o melhor par de faixas do álbum, mais ao ritmo daquilo que foi feito no primeiro disco e no EP “Marsupial”. Podemos ouvir na primeira «Quando o motivo me encontrar / Vou pensar em assentar / Fazer um enxoval…», algo que os Linda Martini viram as costas. Os Linda Martini não vão assentar, não vão à procura da fama que têm. Os Linda Martini são um daqueles casos em que a fama corre atrás deles. Ainda que ‘Ratos’ seja aquele single com um refrão orelhudo, o restante álbum foi feito para consumo interno. Não há aqui um desfile de faixas prontas a lançar para a rádio-televisão como no disco anterior. Em ‘Ratos’ e ‘Febril (Tanto Mar)’ temos espaço para arranhar a voz no refrão, ‘Tremor Essencial’ é simples e ensina-nos a não querer crescer com uma entrada que podia ter sido escrita por Roger Waters, ‘Tamborina Fera’ é uma festa e ‘Volta’ é um segundo single natural, calmo e pacífico… e que dá a volta, pois termina como começa ‘Ninguém tropeça nos dias…’ e oferece um loop, um álbum infinito. Voltando ao que já foi dito, este é um disco que «tem que ser melhor», que entra, que mexe e mexe e nos desarruma as ideias. Ouvir de novo, criar uma espiral de audições. Uma vez de cada vez não nos chega.

André e Pedro continuam monstruosos na hora de misturar as melodias dissonantes, Cláudia também tem umas bass lines potentes (aquela no pré-refrão de ‘Ratos’ foi uma ode a Nick Oliveri) e Hélio não se deixa ouvir tanto como dantes. Mas sabemos que é apenas em disco e algo a apontar à produção, não fosse o próprio Hélio o que mais grita «Presente!» na hora de se mostrar em palco. “Turbo Lento” é um disco sincero e menos directo do que “Casa Ocupada”. Aos dois faltou-lhes aquelas faixas a roçar os sete minutos de “Olhos de Mongol” que ofereciam uma maior profundidade à experiência, mas os Linda Martini são firmes na hora de escrever – são, ao terceiro disco, uma maior referência e um já um incontornável ponto da história do rock português. E vai na volta, o fado quer mesmo ser samba.

// Nuno Bernardo

Turbo LentoPaís
Portugal

Membros
André Henriques – Voz, Guitarra
Pedro Geraldes – Guitarra, Voz
Cláudia Guerreiro – Baixo, Voz
Hélio Morais – Bateria, Voz

Alinhamento
Ninguém tropeça nos dias… | Juárez | Panteão | Pirâmica | Sapatos Bravos | Febril (Tanto Mar) | Tremor Essencial | Ratos | Aparato | Tamborina Fera | Volta

[Álbum / Universal Records, Rastilho Records / 30 Setembro 2013]

Classificação

84%

Os Linda Martini são firmes na hora de escrever - são, ao terceiro disco, uma maior referência e um já um incontornável ponto da história do rock português.