Sonicblast 2013 @ Moledo, 24 de Agosto

Romaria para Moledo pode vir a ser uma tradição. Primeiro porque é notório o crescimento do festival, na ambição de trazer mais bandas estrangeiras e de boa qualidade. E no entanto, sem deixar de promover as bandas nacionais. Segundo porque tem todos os condimentos para ser um bom festival de verão. A sua localização, embora não muito central, trouxe muita gente de Espanha que é já ali ao lado e também um pouco de todo o Portugal. O sítio é lindíssimo. Moledo de Minho é um sítio de sonho. Temos praia a cinco minutos a pé e paisagens dignas de retrato em filme. Posto isto falemos do festival em si. A primeira parte do dia convergia toda a sua actividade no Centro Cultural de Moledo, mais propriamente no palco junto à piscina.

Mother Abyss foi a banda que abriu esta terceira edição do festival minhoto. O quarteto de Viana tocava o seu sludge pesadão enquanto ainda muita gente se encontrava a mandar os bem apetecíveis mergulhos. Porém, mesmo com público reduzido souberam dar conta do recado, proporcionado um concerto coeso. Talvez a banda mais deslocada do cartaz devido à sua sonoridade mais pesada, mas não deixou de surpreender pela atitude bem profissional e honesta.

O calor que se sentia em Moledo era perfeito para continuar na piscina, no entanto, quando os Libido Fuzz subiram ao palco a plateia encontrava-se bem mais cheia, com muito pessoal sentado nas toalhas de praia, atentos a estes franceses. O trio de Bordéus actuava sob intenso calor e teve alguns problemas de som no início. Depois de resolvidos os traves de volume, a sua actuação ganhou brilho, deliciando os presentes com temas como ‘California Gold Rush’. O ambiente de festa, boa disposição e o verão fizeram-se sentir na pele como se de um bom bronzeado se tratasse.

Último concerto à beira da piscina, Super Snail foi mais a rasgar e a convidar o público a ser mais participativo na festa. O que levou a uma invasão de palco algo «molhada» (e caricata, pedais e instrumentos não se dão bem com água) e stage dive por parte de um fã «muito entusiasmado». O set centrou-se no álbum de estreia, “Space Mountain”, e como o nome da banda indica, houve muito fuzz e riffs sujos. «One fucking more!» gritava no fim o tal fã entusiasmado, porém tal não aconteceu, pois era tempo de arrumar o palco e mover as populações para o recinto principal. Mas não antes de uma beber uma bela cerveja para refrescar as ideias para o resto do dia.

A estrear o novo palco principal deste Sonicblast (sítio do campismo na edição anterior), eram os Guerrera. Vinda da Galiza, esta banda incendiou mesmo tudo e todos com a sua actuação. Não querendo menosprezar as bandas que tocaram anteriormente, mas sentiu-se que isto foi o verdadeiro início no que toca a actuações fervorosas. O público ficou rendido reagindo loucamente a malhas como “Dead Man”, algo que se notou aquando no fim do concerto ouviram-se muitos aplausos e gritos de satisfação musical.

À medida que a noite ia caindo os Killimanjaro davam o litro, com uma actuação cheia de energia, excelente postura e muita guitarrada como é habitual nestes barcelenses. Mars Red Sky foram a primeira banda headliner a subir ao palco. Nesta altura já era de noite e sentia-se algum frio devido às rajadas de vento, afinal a praia era ali perto. Mas os franceses não deixaram ninguém morrer ao relento, embalando então com a sua sonoridade mais lenta, guiada por um baixo de tom caloroso. Mas não se enganem, ninguém adormeceu, apenas fomos transportados para algures longe com os solos psicadélicos do trio, que lentamente levantava voo. ‘Strong Reflection’ e  ‘Up the Stairs’ deram conta do recado para cativar ainda mais um público que parecia estar a gostar da actuação.

Já os The Machine foram o inverso da medalha. Eles consomem energia e deitam-na cá para fora. As suas músicas possuem vários contrastes e muita dinâmica. Ora são acelerados jams de guitarra e baixo, ora são interlúdios psicadélicos que se prolongam até à estratosfera. Vindos da Holanda, país que abraça este tipo de sonoridade, e com uma forma descontraída de estar no palco, no entanto totalmente focados, fazia, soar os riffs ainda mais poderosos e marcantes. A setlist andou à volta do último álbum editado, “Calmer Than You Are”, no entanto houveram muitos clássicos aos quais o público não ficou indiferente. Estes moços são donos dos seus instrumentos e não defraudaram na sua actuação, mesmo com a falha do amplificador/guitarra (?).

Talvez o trio mais esperado desta noite, os alemães Kadavar, com um excelente novo álbum na bagagem “Abra Kadavar” mostraram que o verdadeiro espírito do rock clássico não esta perdido. O público esperava-os com ansiedade e desde o primeiro acorde sentimos os anos 70 a renascer ali mesmo à nossa frente. Todo um alinhamento irrepreensível, com direito a malhas do homónimo e do novo álbum. De destacar a energia e o riff viciante da ‘Doomsday Machine’ e o refrão orelhudo na ‘Come Back Life’. Para uma das últimas deixaram a já famosa ‘Creature of the Demon’. Provaram o porque da sua rápida ascensão no mundo musical, embora não apresentem nada de novo, fazem-no de uma maneira tão sincera e a sua irrepreensível actuação só o cimentou ainda mais. Uma das bandas a ter em conta no futuro.

Unicornibot foi claramente um desfecho perfeito para esta noite, mesmo para quem já os tinha visto nas inúmeras vezes que passaram em Portugal. A sua originalidade/estranheza aliada a uma actuação super cativante e energética foi a poção perfeita para o fim de um festival único. Direito a derradeira invasão de palco, que pôs a segurança um bocado em pânico, a própria banda já estava em êxtase e a festejar com o público. O pessoal de Espanha bem nos disse para não irmos embora tão cedo.

Moledo é convidativo e, tendo em conta os outros festivais, sejamos francos, é bem barato. É um dia cheio de diversão musical, piscina e bom ambiente. Com uma organização cheia de garra e paixão pela música que só pecou no aspecto do campismo, mas também é algo compreensível. Ao que aparenta não se esperava uma enchente tão grande este ano. Sem muitos outros defeitos para apontar e feitas as contas, este festival tem todo potencial para ser mais e melhor. Todos os que se deslocaram certamente não estarão arrependidos. Espera-se outro ainda melhor para o ano!

Fotos: Pedro Resende
Texto: Nikita Rusnak