CROSSOVER FESTIVAL 2013 @ C. C. R. Bidoeira de Cima, 28 e 29/06/2013

A Ruído Sonoro esteve presente na primeira edição do Crossover Festival 2013, que decorreu nos dias 28 e 29 de Junho de 2013 no Centro Cultural e Recreativo da Bidoeira de Cima. Dedicado ao Rock e ao Metal, com sonoridades no cartaz quase 100% lusitano (exceção foram os espanhóis V3ctors) que iam desde o Rock português clássico até ao Metal mais técnico e moderno, o Djent “ameshuggado“, passando ainda pelo Post-Rock e Rock mais experimental, esta edição de estreia ficou marcada por longos atrasos no arranque dos concertos e um público escasso, algo tímido, mas com uma boa oferta a nível musical, um bom ambiente entre o público e excelentes condições de espaço e sonoras. Não é nada fácil organizar um evento deste tipo e com este público-alvo na zona de Leiria, pelo que é de louvar a iniciativa e há que dar os parabéns a quem lutou para que a Bidoeira de Cima tivesse o seu festival. Esperamos que para o ano haja nova edição!

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Dia 28

CAPA

Apesar de no cartaz estar previsto os concertos começarem às 22 horas, passavam já 25 minutos da meia noite quando, finalmente!, os Horse Head Cutters subiram a palco para dar início ao festival. Perante cerca de 60/70 pessoas, número que se manteve mais ou menos constante durante os dois primeiros concertos da noite, a banda mostrou energia e alguma loucura através de uma atuação quase teatral, talvez um pouco exagerada, do seu vocalista, tanto a nível vocal como de expressão corporal. Num set com cerca de uma dezena de músicas, totalizando 45 minutos, faltou a presença do público, que esteve sempre uns bons 4 metros afastado do palco, e faltou também algum controlo na voz, que esteve num registo sempre “lá em cima” que acabou por cansar um pouco.

Pouco antes da uma e meia da manhã foi a vez dos BraçoDeFerro mostrarem o seu Rock em português em grande estilo, com uma atuação manifestamente mais interessante do ponto de vista instrumental, mas muito mais tímida a nível de presença em palco. Não obstante, o público finalmente acordou e esteve sempre na linha da frente, mostrando energia, cantando e obrigando a banda, no final de mais um set de 45 minutos, a uma última música para encore. De valor os temas serem em português e com um bom domínio técnico, sobretudo na guitarra solo e no baixo, num concerto com bons momentos e boa disposição, onde esteve omnipresente o espírito de interação banda/público, sempre de aplaudir nos festivais.

Devido ao longo atraso e ao adiantar da hora, não pude, infelizmente, acompanhar o último concerto da noite dos espanhóis V3ctors. No entanto, segundo o testemunho do fotógrafo Tomás Lisboa, o outro membro da Ruído Sonoro presente no festival, o dia fechou com um concerto para poucas pessoas, cerca de 30, mas com bastante energia de ambos os lados, banda e público. Com quase uma hora de concerto, destaque para o momento em que o vocalista e o guitarrista desceram do palco para atuar junto do público presente. Um final de noite intenso que se arrastou até às 3 e meia da manhã!

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Dia 29

CAPA

Num segundo dia com mais uma banda e depois do longo atraso da noite anterior, exigia-se que os concertos começassem mais cedo. Apesar disso, foi apenas quando faltavam 15 minutos para a meia noite que os Last Hangover subiram a palco, perante uma plateia mais composta que no dia anterior, a rondar picos de 80/90 pessoas no recinto. Numa atuação bastante competente (salvo algumas falhas esporádicas) e interessante de Rock na língua de Camões, marcada pela estreia ao vivo do guitarrista Bruno com a banda, faltou tal como na noite anterior um público mais ativo durante os 45 minutos do concerto. A banda teve uma boa presença em palco e um leque interessante de músicas, com alternância entre momentos mais melódicos e alguns rasgos mais pesados.

Pouco depois da meia noite e meia subiram a palco os Rooster Claw, uma banda cheia de ideias mas que não as parece conseguir ligar bem numa lógica sonora coesa, acabando por ter um género indefinido e que sinceramente não me agradou muito. Foi o concerto mais curto de todo o festival, com apenas meia hora, acabando por passar quase despercebido; apenas me ficou na memória a boa performance técnica de um dos guitarristas.

Depois daquela que foi para mim a banda menos interessante do Crossover, veio aquela que, em contraste, constituiu a grande surpresa do festival. Minutos antes da uma e meia da manhã subiram a palco os três membros constituintes dos These Are My Tombs, que presentearam o público com uma atuação magnífica e potente, num Post-Rock bastante técnico e inteiramente instrumental. Foram 45 minutos de pura qualidade de composição e mestria técnica que me surpreenderam pela positiva. Esta é mais uma prova viva que o Post-Rock nacional está vivo e recomenda-se, sendo que não são precisas palavras para “falar” através da música e transmitir emoções intensas.

Para fechar a edição de 2013 do Crossover Festival estiveram presentes os Clutter, a banda mais pesada e de renome do cartaz. Talvez por serem o conjunto que mais tinha curiosidade em ver, a sua atuação foi algo decepcionante em relação àquilo que espera. Não, não foi um mau concerto, foi provavelmente até o melhor do festival (apesar de não ter visto V3ctors). No entanto, o arranque a nível sonoro foi mau, com alguns problemas em se ouvirem os diversos instrumentos, algo que acabou por ir melhorando mas que acabou por nunca ficar a um bom nível, especialmente nas guitarras, que se ouviam nitidamente nos solos e momentos mais “djent” e depois pareciam ser engolidas pela complexa amálgama sonora que caracteriza a banda. A sua excelente qualidade técnica e de composição demonstrada em estúdio não se viu em palco em todo o seu potencial, foram antes uma banda com muita vontade e garra que precisa de melhorar a sua prestação ao vivo para atingir uma dimensão superior. O concerto foi contudo intenso e contou com temas novos inéditos, bem como a participação vocal da Dina Prazeres na última música, que fechou a atuação para cerca de 40 pessoas desta que é uma das bandas emergentes mais promissoras do Metal nacional. Promissor também é o potencial do festival, que com uma maior adesão e menos atrasos, tem tudo para crescer se decidirem apostar em edições futuras.