Foi numa noite fria de sexta feira que os The Godspeed Society se estrearam em palco na zona de Leiria, no sempre acolhedor mas algo deslocado no mapa Texas Bar. Fruto dessa localização e da temperatura pouco simpática, o público rondou apenas as 30 pessoas; três dezenas de privilegiados que tiveram o prazer de testemunhar um concerto único e memorável, de uma banda que parece levar aquilo que faz de forma extremamente profissional e com a satisfação por tocar (e, pode-se acrescentar, representar) estampada no rosto.
Para quem não conhece o primeiro trabalho da banda, é importante lembrar aqui que Killing Tale é um disco com um conceito próprio: uma história escrita num pequeno livro que acompanha o CD, à qual é dada voz e som através de 15 músicas, e imagem através de retratos das personagens, impersonadas em palco pelos sete membros da banda. Foi por isso com naturalidade que esta se apresentou com um guarda roupa pensado ao pormenor, com o destaque para a máscara negra de NoFace, a personagem misteriosa no baixo que se manteve escondida atrás da banda o tempo inteiro.
Voltando ao concerto propriamente dito, a banda tocou durante uma hora e um quarto, percorrendo Killing Tale de fio a pavio, apenas interrompido por uma cover de Ute Lemper, bastante adequada ao som da banda, mas menos impressionante que grande parte do catálogo de The Godspeed Society. Durante o espectáculo, impressionou sobretudo a capacidade vocal de Sílvia Guerreiro, que esteve perfeita, sem uma única falha numa nota, poderosa e bastante expressiva (sobretudo no tema Perfect Crime), conseguindo transmitir um vasto leque de emoções que iam acompanhando a história.
A nível instrumental também praticamente não houve falhas, com destaque para o grande trabalho de Mr. Whistler nos instrumentos de sopro, incansável! Já o resto da banda transmitiu uma poderosa sensação de entrega e paixão por aquilo que estavam a fazer, sobretudo Ana Sofia no acordeão, quase sempre de olhos fechados e com um enorme sorriso estampado no rosto, que, pelo menos a mim, contagiou com essa felicidade. A única imperfeição que consigo apontar a esta noite foram os sons de feedback durante um dos meus temas favoritos, Grand Finale; fora isso, o som esteve magnífico, com a acústica do bar a revelar-se perfeita.
E porque esta reportagem já vai longa, fico-me por aqui, embora pudesse escrever muito mais. Foi curto, mas intenso e rico em pormenores. Mal posso esperar por ver novamente os The Godspeed Society ao vivo, que conquistaram o público e tiveram direito ao primeiro encore da sua curta mas mais que promissora carreira.
Setlist: Dark River | Jack | Till Death | Father Mac | Red Stain | Cat’s Walk | The Pursuit | Yours | Cauchemar | Grand Finale | Johnny | You Were Meant For Me [Ute Lemper Cover] | Scamp | Rose Lithium | Perfect Crime | Blood City | Encore: The Pursuit
Fotografia: Marina Silva
Texto: David Matos