The Parkinsons – The Shape Of Nothing To Come

Sempre houve um culto ao punk em Portugal. Bandas como Crise Total, Censurados, Tara Perdida e Mata Ratos foram e, em alguns casos, ainda são detentores do velho espírito anarquista e revolucionário do punk rock. E embora ainda se possa aplicar algumas dessas mensagens na actualidade, hoje em dia a realidade é outra. Como em tudo na vida, o movimento punk tem passado por uma modernização e se antes se cantavam hinos ao anti-conformismo, hoje cantam-se temas de igualdade de direitos e de género ou, no caso dos The Parkinsons, ao fatalismo e aos sonhos perdidos num mundo negro.

E é precisamente sobre esta banda de Coimbra que vos venho falar hoje. Formados em 2000 e com uma pausa que se estendeu de 2005 a 2012, os The Parkinsons apresentam-nos agora o seu terceiro disco desde o seu regresso, The Shape of Nothing to Come, a ser editado no dia 27 de Abril pela Rastilho Records. Logo na primeira faixa, “See No Evil”, nota-se um som mais limpo que o habitual, mas também cru, nunca perdendo a veia sonora que os caracterizou ao longo dos anos. Tal como indicado em cima, o disco gira muito à volta do fatalismo, e é em temas como “Tricks” e “Burning Down” que tal se evidencia da melhor maneira.

Noutras instâncias no entanto, a coisa muda de figura e a banda deixa um pouco de parte o pessimismo crítico e vira-se para um sentimento de esperança por um futuro melhor e o amor à cidade e aos seus. Não é algo contraditório, até se vê como algo positivo que não seja a mesma lenga-lenga de sempre. E é neste aspecto em que os The Parkinsons mais brilham, quando nos mostram que, por detrás de toda a sua raiva e angústia, existe também amor e paz. Um equilíbrio, por assim dizer.

No geral, The Shape of Nothing to Come soa exactamente como se esperaria, sem grandes divergências naquilo a que os The Parkinsons nos têm habituado. Mas se estavam à procura de algo semelhante ao que se fazia há 30 anos atrás, então mais vale continuarem a procurar. Longe vão esses tempos de anarquia do punk dos anos 80. Mas que ninguém diga se atreva a dizer que o movimento morreu. Antes pelo contrário, está vivo e recomenda-se. A mudança é uma coisa boa, por vezes.

Autor: Filipe Silva

Álbum. Rastilho Records. 27 Abril 2018

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