Megadeth – Dystopia

dystopiaMais um ano novo, mais um álbum para os lendários Megadeth, que regressam com intenção de apagar alguns dos erros do passado, no que diz respeito a álbuns de estúdio. A banda de Dave Mustaine e companhia regressa com um novo disco e uma nova formação que contou um o baterista de sessão, Chris Adler, e o seu novo guitarrista, Kiko Loureiro.

Desde logo, a expectativa era imensa, não só devido ao trabalho que esta nova formação poderia imperar num trabalho tão prometido, mas também devido aos falhanços de estúdio que a banda vinha a produzir e a colocar nas lojas. Mustaine foi criativo e fugiu um pouco ao que é, normalmente, executado por muitas bandas de idades avançadas. O grupo deu-se ao trabalho de pensar um conceito, algo que fosse para lá do que é, usualmente, feito e cumprido pelas bandas de thrash metal.

A criação de uma realidade alternativa com traços de uma distopia e de uma realidade futurista em ruínas, fruto dos erros humanos do presente, de facto construiu um propósito totalmente diferente para este álbum, cujos os papéis de Adler e Loureiro foram cruciais para a sua qualidade final. É, na verdade, um álbum de “encher o olho”, pelo menos ao nível técnico com riffs bastante complexos e pesados, e uma secção de bateria de arrebatar. Também, graças ao tema que é demarcado de complexidade e inteligência, as letras das faixas que completam o álbum são dignas de nota. Mustaine e companhia excederam-se na composição das letras do disco, bem como na vertente instrumental do mesmo, demonstrado que o lendário grupo dos ‘Big Four’ ainda está aí para as curvas.

Dystopia é o produto de uma nova banda que se reassume como um peso-pesado a considerar nos actuais dias do thrash metal. O álbum mostra uma nova energia de um grupo que regressa às raízes com alguns dos riffs mais violentos e pesados, em recente memória, e com uma nova de vontade de surpreender os fãs. Afinal, nem tudo o que Dave Mustaine diz é treta… e ele provou-o com este álbum. Uma das suas vantagens sobre os Metallica, seus eternos ‘rivais’, é que pelo menos eles criam nova música de dois em dois anos, ou três em três anos. E apesar de o resultado não ser sempre perfeito, porque não é, ainda assim se consegue ouvir música digna de nota, na sua discografia, nos últimos anos.

Ainda assim, gostaria de ver mais, num futuro próximo, desta formação para confirmar o que este disco indicia. Dystopia não é uma obra-prima, ainda apresenta alguma volatilidade qualitativa com faixas incríveis em todos os aspectos, mas com outras faixas mais aborrecidas, que apesar de terem riffs demoníacos e qualitativamente acima de qualquer coisa que se possa ouvir actualmente, ainda assim denota-se alguma diferença global. Diria que existem 4 ou 5 grandes malhas, neste álbum, e outras que poderiam ser classificadas como boas. As três primeiras faixas, que foram divulgadas na Internet, são uma trilogia que não estava nada à espera de ouvir e que solidificam e justificam o lançamento de um álbum deste calibre. “Poisonous Shadows” pode apresentar-se como a mais melódica de todas, juntamente com a faixa homónima, mas não exagera nos seus enfeites mostrando, essencialmente, uma faixa muito bem estruturada que combina a excelente performance do grupo, com uma letra muito inteligente. A instrumental, “Conquer or Die”, começa de forma mais acústica e lenta, com um certo sentido enigmático, mas explode para um potpourri entre o virtuosismo e o heavy metal. Como referido anteriormente, não existem músicas más ou medianas. O álbum acaba por estar compactado, tendo em conta o conceito descrito, apesar de, de facto, haver faixas melhores e faixas piores… mas isso é perfeitamente normal.

Dystopia é um álbum sem tretas. O grupo regressa às suas raízes e apresenta uma demonstração de thrash metal de se ‘tirar o chapéu’ e de fazer inveja a muitas bandas do género. Apesar do seu estatuto lendário, os Megadeth precisavam de um álbum assim, para de certa forma reafirmaram o seu estatuto como um dos grandes da indústria, e para mostrarem que, afinal de contas, ainda não morreram. Nos últimos anos, o grupo não tem lançado álbuns com muita qualidade, com excepção a The System Has Failed, provavelmente, mas esse já foi lançado há mais de dez anos, em 2004. As adições de Chris Adler e Kiko Loureiro dinamizaram um som que necessitava de mudança e de uma lufada de ar fresco. Dá a sensação que a banda já toca há muito tempo junta, parece que estão juntos há décadas. O desempenho global é fenomenal e justifica a alta expectativa imposta pelos mídia, mas também por Mustaine que se referia ao álbum como um dos possíveis melhores do ano. Pode não ser perfeito, mas mostra uma vontade de se reassumirem como uma banda que ainda está aí ‘para as curvas’ e cheia de vontade de continuar a agradar aos fãs.

Autor: João Braga

Álbum. Universal Studios. 22/01/16

Classificação/Rating

8.3