STAR ONE – Victims Of The Modern Age (2010)

Banda – STAR ONE
Álbum – Victims Of The Modern Age
Data – 01 Nov. (EU) 26 Out. (EUA) 2010
Género – Progressive Metal
Editora – Inside Out
País – Holanda
Discografia – Space Metal (2002) | Live On Earth (2003)
Site Oficialarjenlucassen.com
TagsStar One | Arjen Lucassen

Vocalistas
Sir Russell Allen
Damian Wilson
Dan Swanö
Floor Jansen

Instrumentos
Arjen Anthony Lucassen – guitarras, Hammond, Mellotron, Minimoog, Solina
Ed Warby – bateria
Peter Vink – baixo
Joost van den Broek – teclado solo
Gary Wehrkamp – guitarra solo

Vocalistas Convidados
Tony Martin
Mike Andersson
Rodney Blaze


Alinhamento (53:09)

  1. Down The Rabbit Hole (1:20)
  2. Digital Rain (6:23)
  3. Earth That Was (6:08)
  4. Victim Of The Modern Age (6:27)
  5. Human See, Human Do (5:14)
  6. 24 Hours (7:20)
  7. Cassandra Complex (5:24)
  8. It’s Alive, She’s Alive, We’re Alive (5:07)
  9. It All Ends Here (9:46)

Arjen Anthony Lucassen dispensa  longas e exacerbadas apresentações mas continua a suscitar sempre dissertações! Estávamos nos anos 80 e um Holandês inconformado lutava para ser alguém no mundo da música, a sua primeira tentativa/aposta trazia a fasquia elevada, a banda BODINE (de quem Arjen era fã confesso) precisava de um vocalista, Arjen pegou na sua guitarra e foi à audição. Como sabemos os seus dotes vocais nunca foram dos melhores, vocalista não seria. Persistentemente tocou na audição faixas dos BODINE e acaba por ficar como guitarrista até 1984. Sai dos BODINE directamente para VENGEANCE (a convite destes), banda onde teria mais liberdade de composição lírica e musical, mas esta ligação viria a terminar em 1992, altura em que Arjen decide-se lançar a solo. Gravou um álbum de pouco sucesso nos tempos que corriam (1993), álbum esse que hoje é uma raridade só disponível em coleccionadores. Arjen nunca escondeu as suas influências Rock/Metal Progressivo, fã de bandas como PINK FLOYD e THE WHO por exemplo, em 1995 experimenta algo diferente e completamente novo, pegar nas influências dos anos 60/70 e construir um álbum que seria não a sua ‘experiência final’ mas sim o despoletar de uma universalidade musical ímpar! ‘The Final Experiment’ foi o berço de Arjen de todos os seus êxitos até aos dias de hoje. O resto da história é o seu adágio conhecido, subiu ao trono com AYREON e entre andamentos conta ainda com AMBEON, STREAM OF PASSION (actualmente desvinculado), GUILT MACHINE e ainda o projecto do qual lança novo álbum a 26 de Outubro de 2010, falo de STAR ONE e do seu recente trabalho ‘Victims Of The Modern Age‘.

O projecto STAR ONE nasceu em 2002 e arrancaram musicalmente com o álbum ‘Space Metal’. Este trabalho/projecto é considerado o mais transcendente e pesado de Arjen até à altura, talvez também o mais incompreendido. O nome do primeiro álbum deriva da série Inglesa Blake’s 7 que esteve no ar nos anos 70/80 e todas as músicas que o compõem derivam de filmes e séries de Sci-Fi da altura, como por exemplo ‘Star Trek’ e ‘Stargate’. Arjen em quase todos os seus projectos deixa patente o seu gosto por ficção científica, nos Rock Opera de AYREON até ao mais psíquico álbum de GUILT MACHINE.

A temática do novo ‘Victims Of The Modern Age‘ segue a do seu antecessor, exala ficção científica por todos os poros! Desta vez as músicas pairam pela terra! Por exemplo a música que dá nome ao álbum foi inspirada no filme ‘Laranja Mecânica‘ (A Clockwork Orange) de Stanley Kubrick, a faixa ‘24 Hours‘ sai do filme em PT Nova Iorque (Escape From New York) de 1997, a faixa ‘Cassandra Complex‘ do filme ‘Doze Macacos’ (Twelve Monkeys) de Terry Gilliam, a faixa ‘Human See, Human Do‘ imagine-se, inspirada no filme ‘O Planeta dos Macacos’ (Planet of the Apes):

Dan Swanö:
where do you come from, where is your tribe?
you should not be here, you can’t be alive
a vicious killer, you’ll never be tamed
you belong in this cage

Damian Wilson:
why do you fear me, what have I done?
I mean no harm, never hurt anyone
I’m not a liar, what proof do you need?
how can I make you believe?

Deixem-me cá partir de seguida para esta nova e estonteante epopeia protagonizado por o mestre Arjen! Pela internet numa qualquer rede social vi um confronto de ideias que um dos erros de Arjen recaiam nas longas intros, em pianos demasiadamente sonorizados, o que me leva a discordar, a mestria do homem continua a estar no que transcende um plano ideal, e ao arrancar com a intro, ‘Down The Rabbit Hole‘ prepara uma rampa de lançamento para ‘Digital Rain‘, que rebenta com a escala e mostra-nos em pouco tempo o que esperar do álbum. Riffs poderosos que abafam um pouco a verdadeira azafama sintetizada produzida pelos teclados (ayreon´s moments!),  ficando bem patente as diferenças que existem entre todos os projectos de Arjen. A faixa ‘Earth That Was‘ será talvez a trilha mais melodiosa mas não deixa de continuar a constar um rasgar forte de cordas entrelaçado mais umas vez por teclas que nos transportam para outra dimensão. Até aqui a este troço os vocalistas não são surpreendentes, e porquê? Simplesmente porque Russell Allen, Damian Wilson, Dan Swanö e Floor Jansen já não enganam ninguém. Se podemos contar com o poder do Sir, o que dizer de um consolidado Damian, um regular Dan e uma sempre melodiosa Floor! A seguir nasce a lição vocal com o surgimento de um poderosíssimo Russell Allen indestrutível e irrepreensível no encaixe de toda a sonoridade acompanhado com talvez o melhor coro da Floor Jansen em todo o álbum. Entramos então em ‘Human See, Human Do‘  com um um início no mínimo sui generis, macacos e gritos como pano de fundo! Há pois estamos no planeta dos macacos! Nesta faixa reforçando o que disse anteriormente em relação aos vocalistas, nota-se a mescla da quadra, a consistência na diferença. No mínimo estranho não ter referido até aqui algo sobre bateria ou baixo, pois bem, este é um ponto que em STAR ONE não é necessário  exercitar muito para se conseguir competir num plano perfeito. ‘24 Hours‘ chega-nos com uns acordes trilhados, um preenchimento musical muito alto e sempre na via ao longo dos seus 7:21 minutos. Mais uma vez a voz tem um papel preponderante no esplendor do que nos chega, de trama fina e esmerado recorte. Terminada a odisseia de ‘um dia’ chega-nos uma ‘espécie’ de batalha terrena viral, ‘Cassandra Complex‘ assim se apresenta. A disputa é simulada por um homem e uma mulher em desespero pela luta do planeta que quase se transforma em tragédia romântica (tal como a sonoridade instrumental envolvente) de efeitos nefastos. Nesta música encontramos mais vincada então a temática do álbum, basta o verso:

the planet is dying, pollution of sea and air
the people denying the death of the atmosphere
the planet is crying, the rape of ecology
the people relying on the rise of technology
and now they have to die!

It’s Alive, She’s Alive, We’re Alive’ é provavelmente a faixa mais díspar de todo o álbum. Com início forte nas guitarras e prolongamento sinfónico no refrão, segue os ritmos espaciais das anteriores mas talvez mais incisiva numa pitada Industrial/Drone. A música enche-nos os tímpanos na junção de acordes pesados e teclas concordantes, onde os bem fadados coros não faltam como complemento. Pois bem, eis que damos entrada na recta final do álbum, até aqui um aglomerado de distinções e diversidade. A última faixa é o espelho da multiplicidade presente em todos os álbuns de Arjen, ‘It All Ends Here‘ é a música com mais réstias de ‘ayreonaut time’ do que qualquer outra. Refrão com diversas sonoridades, diversos ritmos e diversos andamentos, deslocam-nos durante 9.46 minutos para um patamar ambiente muito cheio e pesado. A singularidade de diferentes pianos é uma marca presente em todas as faixas até aqui, seja um Hammond ou um Minimoog, Arjen arranja sempre forma de nos enviar para o espaço temporal da música e da sua lírica, afinal é esse um dos objectivos de ser Progressive, ser diferente, ser ambiente, ser potente, deixar rasto na mente de quem ouve.

Em suma, estamos perante mais uma obra de arte do mestre multi-instrumentista Arjen Lucassen. Mesmo contando com menos participações neste ‘Victims Of The Modern Age‘ do que por exemplo em ‘Space Metal‘, a singularidade de STAR ONE continua bem vincada. Quem desconhece a obra do Arjen não é digna de se espantar!

Esta review abrangeu uma literacia complicada, recursos estilísticos abundantes tal como toda a expressividade, o que espelha bem com o que me deparei ao ouvir esta masterpiece. Nunca poderei dizer que é a obra-prima de Arjen, também não digo que a pior (nunca), apenas tenho a consciência de ter conhecido novamente algo diferente, e é isso que fascina os entusiastas do músico Holandês. Fascínio mesmo é pela forma como uma mistura tão grande de estilos combina numa perfeita simplicidade extrema. A audição das obras de Arjen levam-nos a caminhos nunca palmilhados , isto porque a veia que nos transportará até à meta nunca será a mesma!

Bons sons!

Cumprimentos,
Ricardo Raimundo

Apreciação Pessoal: 9/10