God Is An Astronaut no LAV. A intensidade do tempo e do espaço

Fotografia: Paulo Jorge Pereira | Texto: Bruno Correia

Depois de uma passagem pela Casa da Música na noite anterior que marcou o início desta parte da tour europeia, o segundo de dois concertos de God Is An Astronaut em Portugal fez-se em Lisboa na sala grande do LAV.

Como aperitivo (que os nossos ouvidos consomem com todo o gosto), Jo Quail entrou sozinha à hora prevista para uma actuação intensa a violoncelo eléctrico em camadas de pedais de efeitos que funcionaram como o prelúdio ideal para a viagem emocional que se seguiria. Apresentou-se depois de um «boa noite» com o qual antecedeu “Butterfly Dance”, uma das três peças que trouxe a Lisboa ao longo dos cerca de 30 minutos de concerto. “Embrace” manteve o foco em Notan, álbum novo lançado há menos de um mês, antes da despedida com uma visita a Exsolve (2018) na forma de “Forge”.

 

Após a sua saída, o palco estava essencialmente preparado e não foram precisos mais de 10 minutos para a entrada dos God Is An Astronaut. De volta à mesma casa que tinham visitado na sua última passagem por Lisboa, o foco do concerto era diferente e os cerca de 90 minutos de que dispuseram serviram para apresentar Embers, disco novo lançado em 2024, e para a celebração dos 20 anos do incontornável All Is Violent, All Is Bright. Aos dois álbuns ficaram entregues dois terços da setlist e, previsivelmente, alguns dos vários pontos altos

da noite logo desde cedo com “Falling Leaves”, com a qual começaram, ou, já mais tarde, «one of the big ones», assim dizia o mano Kinsella que comanda o microfone, “Suicide By Star”.

“Frozen Twilight” arrancou das maiores reações da noite de um público que, de onde estávamos, nem sempre era o mais respeitador ao longo das partes mais calmas ao longo da actuação, acabando por tirar alguma força às dinâmicas com que a banda joga tanto em álbum como ao vivo. À culminação dessas dinâmicas com uma enorme parede de som nenhuma conversa resistia, contudo, e os olhos e ouvidos eram inconscientemente obrigados a focar-se totalmente no que acontecia em palco.

Com o fim a sentir-se perto, Torsten Kinsella dedicou “Fragile” ao pai, Thomas Kinsella, «sem o qual a banda não existiria», e relembrou emotivamente o seu falecimento em 2023. Jo Quail juntou-se ao trio irlandês e com eles se manteve durante “Oscillation” e “Embers” e até à despedida com “From Dust to the Beyond”, dedicada a Lloyd Hanney, baterista que deixou a banda antes do início da mais recente tour.