Alexander Richter

Esta semana: O desafio sonoro do OUT.FEST no Barreiro

No Barreiro, cidade a sul de Lisboa e do Tejo que as separa, há um festival onde é possível ser-se desafiado. Na ‘outra margem’ parte um evento para a sua 21ª edição com o mesmo DNA de sempre, o da descoberta, com a música a ser servida para distintos alvos. Há música triste e alegre, explosiva e introspectiva, fácil e difícil, sem fronteiras e local, hipnótica e desconcertante. Há muitas formas musicais para se explorarem de 2 a 5 de Outubro.

Há quem encontre no OUT.FEST a música que não sabe que se gosta, mas há casos que acontece o contrário. Como bom exemplo está billy woods (na foto) em cartaz, um dos já incontornáveis nomes do hip-hop underground dos últimos anos. Nesta nova visita a Portugal, precisamente um ano após ter pisado o palco do festival enquanto metade de Armand Hammer, traz consigo o novo álbum GOLLIWOG, título assombrado pelo terror do racismo e do imperialismo e que contou com a produção de El-P, The Alchemist ou DJ Haram. Este álbum surge no seguimento de já muitos discos aclamados pela crítica e público, tendo assinado só desde o início da década Brass com Moor Mother, Aethiopes, Church com Messiah Musik e Maps com Kenny Segal.

Outro grande destaque, precisamente na mesma noite em que actua billy woods (a 2 de Outubro na ADAO), vai para a estreia mundial da colaboração entre Wolf Eyes & DJ Nigga Fox. O improvável encontro entre a instituição do noise de Michigan e o prodígio da batida da Príncipe é motivado por uma residência artística concebida com a Galeria Zé dos Bois e a apresentação exclusiva será no OUT.FEST, ficando-se expectante quanto ao resultado perante as diferenças geracionais, geográficas e sociais dos intervenientes.

O extenso cartaz do festival tem muito a destacar, evidenciando-se tanto o drone metal de Divide and Dissolve como a natureza tribal e xamânica de Masma Dream World, mas também pelos seus contingentes como o japonês, composto pelo mestre do shinobue Rai Tateishi dos goat(JP) em concerto com live processing de Koshiro Hino, pelo power noise e hardcore digital de BBBBBBB e pelo sintetizador modular de Miki Yui. O butanês Tashi Dorji trará a natureza do free jazz à improvisação de guitarra acústica, em contraste com a força da distorção de bbb hairdryer, Cuntroaches ou Moin, este último um trio formado por Joe Andrews e Tom Halstead (Raime) com Valentina Magaletti.

Os níveis de intensidade vão deambular entre o extremo de Lord Spikeheart e os ambientes mais soturnos do dub, seja através de Devon Rexi, HHY & The Kampala Unit ou Ghost Dubs. A electrónica também estará quase sempre presente, seja pela vertente mais minimalista e electroacústica com rashad becker, Beatrice Dillon ou Leila Bordreuil, ou pelo caminho mais frenético com upsammy ou mesmo Tayhana, produtora argentina ligada a Kelela ou Rosalía que será responsável por fechar a última noite.

O festival soma anda as actuações de Amuleto Apotropaico, Carme LópezDavid Maranha / Rodrigo Amado (num encontro recente entre dois pilares da música exploratória nacional), funcionário, Joana Guerra & Yaw Tembe, Martina Berther ou ϙue x equii (A/V live set).

O epílogo dominical, regressado no ano passado, será feito em grande: Matilde Meireles irá apresentar Tangled and Perpetual Motion, uma nova composição que entrelaça o arquivo sonoro do Barreiro, Cidade Som, com as gravações recolhidas em residência artística na cidade; na mesma tarde, Erik Dæhlin vai apresentar uma peça inspirada no Mausoléu Alfredo da Silva e na história industrial do Barreiro, nesse mesmo local, acompanhado pela Orquestra de Câmara Portuguesa, Coral TAB e Banda Municipal do Barreiro.

O festival arranca musicalmente dia 2, para na véspera há uma conversa com Erik Dæhlin na Cooperativa Mula. Há também talks no dia 2 com Matilde Meireles e Raquel Castro e no dia 3 com Carme López e João Polido, todos a acontecerem no Auditório da Casa da Cidadania Cabós Gonçalves. As actuações do OUT.FEST vão dividir-se entre ADAO, Campo de Stª Bárbara, Gasoline, PADA, Sala 6 e SIRB “Os Penicheiros”.

O programa completo do festival pode ser consultado no site oficial. Os passes globais já se encontram esgotados, restando bilhetes diários para 2, 3 e 4 de Outubro. As talks e os espectáculos do dia 5 de Outubro são de entrada livre.