@sarahawkkk/Ageas Cooljazz

Jordan Rakei + Ezra Collective no Ageas Cooljazz. O virtuosismo do jazz e a pista de dança a céu aberto

Texto: V. Oliveira

Seria mentira declarar que a maioria do público que se apresentou no Hipódromo Manuel Possolo o fez para assistir ao concerto de Jordan Rakei (na foto). O início do espectáculo foi a meio gás (por parte do público, não dos músicos presentes), com muitas pessoas por sentar e outras tantas cadeiras vazias. No entanto, rapidamente se dissiparam as dúvidas e a timidez de um público em crescendo, e que também compareceu neste final da tarde para presenciar a mestria de Rakei e da sua banda.

De regresso ao Parque Marechal Carmona (ali ao lado, após passagens pelo festival em 2018 e 2022), Jordan Rakei trouxe a Cascais o seu mais recente trabalho The Loop (2024), não deixando para trás os êxitos do álbum Origin (2020) e aproveitando para resgatar canções do álbum Wallflower (2017). Dotado de uma voz poderosa e através de uma sonoridade cheia de alma, jazz e hip-hop, o multi-instrumentista, vocalista e produtor é um talento raro cuja arte transcende os limites da idade. Com contrato com a editora independente britânica Ninja Tune, é desde o lançamento do trabalho Wallflower que Rakei aumentou as suas ambições, e isso transpareceu na forma confiante com que atacou o palco do Ageas Cooljazz ao final da tarde.

Em formato de sexteto, e acompanhado de músicos como Eliza Oakes (voz/teclas/sintetizadores), o universo de Rakei ganhou dimensão e profundidade através do talento dos músicos com que se apresentou em palco. Deixou, de resto, rasgados elogios à sua banda e aproveitou para comunicar com o público a respeito do seu processo criativo. O artista, residente em Londres, salientou que o seu processo criativo para cada álbum mudou. Para The Loop, o seu mais recente trabalho, o processo baseou-se na escrita de diários, cujas páginas eram depois convertidas em canções.

Numa setlist recheada de grandes canções, é-nos difícil escolher ou individualizar a performance de momentos específicos, principalmente tendo em conta a maturidade e a qualidade com que nos brindaram Jordan Rakei e companhia. No entanto, destacamos os êxitos “Learning”, “Freedom” e “State of Mind” (todas do registo de 2024) durante a qual tocou guitarra acústica, e demonstrou também outras influências estilísticas, como o R&B. Já com “Mad World”, single retirado daquele que é provavelmente o seu álbum mais  popular, Origin, ou “ Mind ‘s Eye” e “Wildfire”, a exibição do artista deixou de evocar um carácter menos intimista, mas mais “dançante” e rico noutros elementos de guitarra e percussão.

O final do concerto trouxe a consagração de um músico experiente e assaz talentoso, e deixou a certeza de que esta não foi a sua última passagem por Portugal.

A fechar a noite esteve Ezra Collective, vencedor do Mercury Music Prize Award em 2023. O colectivo, que conta ainda com quatro nomeações na edição dos BRIT Awards 2025, fez a sua estreia no festival de forma marcante e auspiciosa, demonstrando com muito groove e muita classe o porquê de tantas nomeações.

Pela terceira vez em Portugal no espaço de três anos (quatro no total, pois a passagem pré-pandémica foi no Super Bock Super Rock 2019), o colectivo deixou patente que muita coisa mudou desde esse primeiro concerto no Meco onde actuaram sensivelmente para quinze pessoas. Donos de uma energia inesgotável e de uma sonoridade que se insere algures entre o espectro do jazz e do samba de São Paulo, os Ezra Collective levaram a multidão que os assistia ao clímax múltiplo. Uma versão mais agitada de “God Gave Me Feet For Dancing” e a inconfundível melodia de trompete de “Hear My Cry”, encerraram com chave de ouro um concerto suado onde os músicos desceram até à zona do público: «This is the moment when Portugal and the band become one». Um momento eterno de confraternização a céu aberto. E assim foi.