Fotografia: Ana Ribeiro (Grifus) | Texto: Margarida Dâmaso
Entre os dias 10 e 12 de Julho, o Passeio Marítimo de Algés recebeu a 17ª edição do NOS Alive com um cartaz recheado de estrelas globais e uma nova abordagem ao conceito de festival.
A maior mudança deu-se na ênfase ao espectáculo visual e digital, algo que com o crescente domínio das redes sociais passou a ser uma prioridade para muitos artistas. O evento focou-se na criação de performances que captassem a atenção do público mais pela sua estética do que pela sua música propriamente dita: mais visualizações, menos (re)produções; mais dança, menos voz; mais digital, menos emocional.
Em termos de público, esta edição recebeu cerca de 100 mil pessoas numa fusão entre gerações: enquanto os mais jovens se entregaram à pop e à cultura digital, os mais velhos recordaram o rock clássico e alternativo que sempre marcou a história do NOS Alive. Ao contrário de outros eventos semelhantes, pelo recinto não desfilaram bandeiras da Palestina mas sim outfits da moda muito bem pensados ao detalhe.
Dia 10 de Julho
O primeiro dia do NOS Alive 2025 recebeu o maior número de festivaleiros, muitos destes atraídos pela crescente popularidade da pop e da cultura digital. As actuações foram um verdadeiro reflexo da era da viralização e da estética visual das redes sociais.
O festival abriu com a presença de Mark Ambor, que na sua estreia em Portugal subiu ao principal Palco NOS, animando a audiência com o seu carisma e energia. O cantor apresentou versões muito pessoais de temas icónicos, como “Use Somebody” de Kings of Leon, algo que fez o público cantar em coro e permitiu criar a atmosfera de uma noite de espectáculo. Terminou com o hit “Belong Together”.
Fotogaleria de Green Leather, Bad Nerves e Mark Ambor
Foi Benson Boone, no entanto, quem realmente conquistou o público, sobretudo o juvenil. O cantor norte-americano fez questão de descer até à plateia, agradecendo aos fãs de forma quase teatral e provocando muitas reacções em jovens que gritaram e aplaudiram cada movimento. O seu concerto foi repleto de interacções com o público e a sua música pop rock, com letras carregadas de sentimentos de amor e desilusão, encontrou eco nas emoções da plateia em momentos como “Sorry I’m Here for Someone Else”, “Mystical Magical” e o sucesso “Beautiful Things”.
Pelo Palco Heineken passaram Glass Animals como uma das melhores atuações do primeiro dia, particularmente para a malta mais alternativa. Com o seu tradicional ananás em palco, chegaram com tudo e foram recebidos em apoteose. Por entre um desfile de hits, ainda houve tempo para parabenizar um aniversariante e sacar uma bela “Heat Waves”.
Fotogaleria de Benson Boone, Noah Kahan e Glass Animals
De regresso ao palco principal, a estrela pop da noite foi, sem dúvida, Olivia Rodrigo. Com o seu estilo sensualizado e uma banda totalmente feminina, a jovem artista transformou o cenário numa verdadeira explosão visual e sonora, apresentando os seus maiores êxitos como “Drivers License”, “Good 4 U” ou “Deja Vu”. Fez questão de descer até ao público, misturando-se com os seus fãs mais fervorosos.
Mas, para além da música (com uma excelente banda), o espectáculo visual de Olivia Rodrigo foi mesmo uma atracção maior: luzes, vídeos e momentos de interacção com as redes sociais que a tornaram um ícone, mais do que uma artista musical pura. A sua performance é um reflexo da transformação do festival – não apenas uma actuação ao vivo, mas também um espectáculo preparado para viralizar e conquistar as plataformas digitais.
Dia 11 de Julho
O segundo dia no Passeio Marítimo de Algés foi mais calmo nas primeiras horas, mas foi crescendo de intensidade à medida que a noite avançou com uma diversidade de géneros musicais e performances de alto nível. Mais rock, menos energia; mais glitter, menos Disney; mais música, menos aparência.
Mother Mother, uma banda de indie rock com influências de folk e psicadelismo, trouxe ao Palco Heineken o seu rock alternativo e conquistou o público com os seus ritmos contagiantes.
Foi, no entanto, Girl in Red que cativou uma audiência consideravelmente maior, com a sua voz profunda e a puxar mais para o indie, que criou uma atmosfera introspectiva e enérgica ao mesmo tempo. Durante o seu concerto no Palco NOS, a cantora interagiu com a plateia e partilhou mensagens poderosas sobre identidade e empoderamento pessoal com “bad idea!” e “we fell in love in october”, encerrando com “i wanna be your girlfriend”.
Fotogaleria de Mother Mother, Girl in Red e The Wombats
Um momento particularmente marcante deste dia foi também o concerto de Capicua no palco WTF Clubbing (neste dia com a curadoria da Match Attack), que se destacou não apenas pela sua música, mas pela sua postura política. Um Gelado Antes do Fim do Mundo, nome do espectáculo e do seu mais recente disco, deveria ter tido lugar num palco maior. Ainda assim a rapper portuguesa, regressada ao festival, fez uma intervenção marcante, dedicando uma parte do seu horário à Palestina, sublinhando o seu compromisso com a liberdade e os direitos humanos. O seu discurso sobre política e justiça social criou uma ligação emocional profunda com o público, tornando o concerto mais do que uma performance artística. A sua forma de transmitir uma mensagem de resistência e solidariedade foi deu para atravessar temas dos seus vários álbuns.
À medida que a noite avançou a energia do público cresceu com a entrada de Justice. A dupla de DJs franceses transformou o Palco NOS num espaço de pura electrónica visual, fazendo uso de luzes psicadélicas e pirotecnia que ampliou a experiência sensorial da plateia. O seu set de hits, como “We Are Your Friends” e “D.A.N.C.E.”, elevou a adrenalina dos presentes que se entregaram completamente à dança e ao ritmo pulsante. Para o concerto de Finneas no Palco Heineken foi difícil encontrar lugar. Apesar do boné e da bandeira portuguesa, a experiência do público para escutar o irmão de Billie Eilish podia ter sido melhor, face à falta de humildade e postura algo presunçosa do cantor em palco.
No polo oposto do festival, a terminar a noite no Palco NOS, Anyma prendeu alguns festivaleiros que optaram por ali permanecer para uma actuação que não podemos propriamente chamar de concerto. Em contrapartida o Palco Heineken serviu de cenário para uma das maiores artistas contemporâneas, St. Vincent, para se poder acabar o segundo dia de NOS Alive em grande.
Fotogaleria de Capicua, Finneas e St. Vincent
Dia 12 de Julho
O terceiro e último dia de NOS Alive foi uma verdadeira celebração do rock clássico e das bandas que ajudaram a definir o festival ao longo das suas edições. Finalmente ‘um típico dia de Alive’. A constatar que quem por lá passou apenas neste terceiro dia nem sequer se apercebeu do que (não) aconteceu nos dois anteriores.
A primeira parte do dia, mais tranquila, contou com performances de artistas como CMAT e Bright Eyes, que trouxeram à plateia uma sonoridade mais calma e intimista, com letras que exploraram temas como a solidão e a busca pela identidade.
Foi ainda antes do sol se pôr que a verdadeira explosão de energia aconteceu. Os esperados australianos JET fizeram o público reviver a nostalgia do rock dos anos 2000 com “Are You Gonna Be My Girl” e “Look What You’ve Done”. O seu som directo e enérgico, com uma guitarra eléctrica inconfundível, fez com que os mais velhos no recinto se sentissem de volta àqueles dias de pura adrenalina rock’n’roll. No Palco Heineken, por onde normalmente desfilam os melhores concertos e menos telemóveis, encontrámos Amyl and the Sniffers, também conhecidos como o exemplar de punk rock desta edição, cuja vocalista de 30 anos parece estar num corpo de 20 mas já com a experiência de 50.
Fotogaleria de Bright Eyes, JET e Amyl and the Sniffers
O grande final da edição de 2025 ficou marcado pelos já lendários Muse e Nine Inch Nails. Os primeiros, com a sua estética visual característica, não decepcionaram os fãs. O espectáculo foi uma verdadeira festa de luzes e fogo, com o público a cantar a plenos pulmões as músicas de um dos maiores nomes do rock moderno – casos de “Uprising” e “Supermassive Black Hole”, que tornaram o recinto de Algés numa arena de pura energia.
Os Nine Inch Nails, por sua vez, marcaram pela actuação visceral, completamente focada no rock industrial pesado e imersivo. A banda de Trent Reznor e Atticus Ross ofereceu um dos concertos mais intensos da edição, tocando clássicos como “Closer”, “Head Like a Hole” e “Hurt” no meio de um alinhamento carregado de faixas de The Downward Spiral, e fechando o festival de forma de catarse.
Para quem conseguiu escapar entre estes monstros da música e dar um salto ao Palco Heineken terá entrado numa saturday night fever com a boogie music dos Foster the People, que só nos expulsaram com “Pumped Up Kicks”.
Ainda no Palco Heineken e no pódio de melhores concertos desta edição estiveram Future Islands, no concerto de encerramento da tour e antes de uma pausa anunciada. Somente a voz, dança e energia características de Sam T. Herring fizeram com que muitos abandonassem NIN mais cedo para a celebração frenética desta banda, que partilha do mesmo amor por Portugal.
Fotogaleria de Foster the People e Future Islands
O NOS Alive 2025 não foi apenas um festival de música. Foi também um reflexo físico das mudanças na indústria e na cultura musical. A presença das redes sociais e o foco em criar experiências visuais e interactivas, tal como a oferta diversificada como o Palco Comédia, marcaram a edição com muitos dos artistas mais preocupados em projectar a sua imagem para as plataformas digitais do que propriamente em oferecer uma experiência musical menos superficial.
A “era digital” parece ter invadido o coração do festival, e embora muitos aplaudam o foco na imagem e no espectáculo, também surgiram críticas de que a música verdadeira tem tendência a ficar em segundo plano. A consideração pela performance e a imagem, cada vez mais comuns nos festivais modernos, faz-nos questionar sobre o compromisso com a música e a conexão genuína com o público.
Como tem vindo a ser habitual, e de modo a manter viva a memória do festival, foi feito anúncio das datas para a edição de 2026, a acontecer de 9 a 11 de Julho, assim como a primeira confirmação, com o regresso de Buraka Som Sistema aos palcos após dez anos de hiato.














































































































































































































































































