Fotografia: Ana Ribeiro (Grifus) | Texto: Margarida Dâmaso
O Primavera Sound regressou ao Parque da Cidade do Porto para mais quatro dias de boa música na sua 12ª edição. Sim, desta vez o festival prolongou-se durante quatro dias – 12, 13, 14 e 15 de junho -, até domingo, para aqueles que quiseram aproveitar o fim-de-semana de sol na íntegra, num recinto com excelentes infra-estruturas e bons sons.
Os cinco palcos (Porto, Vodafone, Revolut, Super Bock e Cupra Pulse) à disposição dos festivaleiros ofereceram múltiplas experiências a quem procurou este festival para iniciar a época de verão, havendo quem o considere até um dos melhores do mundo. Para quem tem acompanhado a evolução deste evento, este ano as típicas coroas de flores surgiram somente através de alguns festivaleiros assíduos, uma vez estando muito associadas ao anterior patrocinador. Já a parceria com a Revolut é uma das novidades mais recentes com descontos na aquisição de bilhetes.
Como até aqui, mas cada mais vais aproximados do que são os festivais do norte, o Primavera Sound Porto recebeu, claro, influências do seu gémeo Barcelona, mas em muito se assemelha em estilo (não só musical) do seu primo geográfico, o Vodafone Paredes de Coura que acontece em Agosto.
Algumas diferenças têm sido realizadas ao nível da estrutura do recinto, centrando as maiores atenções entre os Palcos Porto e Vodafone, e com menos dispersão na zona superior do Palco Super Bock, onde em tempos idos existiram bares e puffs. Assistimos também ao regresso de máquinas analógicas e a primórdios das digitais, mais evidentes entre as mãos dos mais jovens. Outro dado curioso: parece que entre as mais de 110 mil pessoas, cada vez nos cruzamos mais com vizinhos espanhóis a querer desfrutar deste evento em substituição ou complementação da edição de Barcelona.
Dia 12 de Junho
Há a constatar que os festivais lentamente começam a regressar ao seu conceito original, como os conhecemos e gostamos: simples, sem invenções, com música que nem todos conhecem mas que, pela genuína curiosidade e partilha, muitos outros ficam a conhecer… Tudo isto aconteceu logo no primeiro dia, num panorama verde limão, ou não estivéssemos ali para receber o “O’Porto Brat Summer” de Charli xcx. A chuva, essa, ligeira e que se sentiu na pele somente ao início da tarde, acabou por dar tréguas e possibilitou um final de dia numa temperatura amena e bastante convidativa.
A abertura do Primavera Sound Porto teve cunho nacional, com Surma a arrancar (e a arrasar) no Palco Super Bock. A jovem de Leiria, Débora Umbelino, surgiu em formato trio fazendo-se acompanhar por João Hasselberg e Pedro Melo Alves. A vestimenta de cabedal, meio BDSM, conjugou-se com o seu estilo inovador, mais arrojado e mais dark, fazendo jus à sua grande musa, St. Vincent e às influências Björk-ianas. Apesar de se tratar de uma quinta-feira à tarde, muitos foram os que se deslocaram para assistir a este concerto, que acabou por designar e contagiar o espírito dos restantes dias, honrando a qualidade da música e artistas portugueses. A artista destacou a presença da família e amigos bem como a importância da equipa, e após distribuído afecto por todos, tocou a sua mais antiga “Masaai”, agora reestruturada com os dois colegas em palco. O concerto terminou com um moshpit à qual Surma se juntou: aguardemos agora a sua ascensão a um palco de maior dimensão.
Fotogaleria de Surma
Já no Palco Revolut, uma hora depois, encontrámos o indie rock dos californianos Momma com um recinto mais composto. Escolheram “Medicine”, do seu primeiro álbum, para iniciar a sua lista de canções e rapidamente percebemos que estávamos perante uma banda daquelas que nos aconchega o coração. Além de algumas faixas de Household Name de 2022, aproveitaram para apresentar outras do seu recentemente lançado trabalho Welcome to My Blue Skye, caso de “I Want You (Fever)”. Mais tarde, já a combinar com a golden hour, tivemos os (também golden) Glass Beams, banda formada na Austrália numa era pós-covid. Com as suas habituais máscaras douradas e instrumentais arábicos, mantêm o secretismo e o anonimato e elevaram toda a sua classe ao Palco Vodafone ao mostrar as faixas dos EPs Mirage e Mahal. Não só de letras se fazem as músicas e este trio negro e dourado, quais Khruangbin do Médio Oriente, é prova disso.
Fotogaleria de Momma, Dehd, This Is Lorelei e Glass Beams
Por sua vez, foi no Palco Porto que alguns dos grandes concertos desta edição tomaram lugar. Entre eles o dos irlandeses Fontaines D.C., até ao momento o mais lotado e o primeiro a declarar apoio formal à Palestina, por palavras e imagens. Não só mais velhos, mas também musicalmente mais maduros e com (ainda) maior domínio de palco, ou não tivessem eles percorrido um tão longo mas merecido caminho desde o seu primeiro EP, de 2019, até aos grandes palcos.Sabem como alcançar o público, aproximando-se e oferecendo o que querem ouvir, como “Jackie Down the Line” e “Televised Mind” logo nos primeiros minutos.
Pese-se a apresentação do mais recente álbum Romance, a histeria maior ocorreu a entrar no terço final do concerto, quando Grian Chatten se dirigiu ao público para gritar «Free Palestine!», unindo o público, que cerrou e ergueu os seus punhos no ar, seguindo depois para as mais esperadas, cantadas e festejadas “Boys in the Better Land”, “Favourite”, “In the Modern World” e “I Love You”. Terminam com um momento arrepiante dedicado à Palestina, com a bandeira de fundo e uma mensagem bastante clara – «Israel is commiting genocide. Use your voice» nos ecrãs – despedindo-se depois com “Starburster”. Pelo percurso destes meninos, que nos transporta a um casamento de feliz entre Joy Division, The Cure, Oasis ou The Smashing Pumpkins, podemos prever um futuro brilhante e uma referência no cenário pós-punk e indie rock para as próximas gerações.
Fotogaleria de Fontaines D.C.
Para amenizar a noite, o silêncio tomou lugar e uniu os milhares de pessoas que assim permaneceram ao longo da colina do Palco Vodafone para escutar a cantora e compositora inglesa ANOHNI na companhia da sua banda, The Johnsons. “4 Degrees”, “Sometimes I Feel Like a Motherless Child” com introdução acapella, “You Are My Sister”, “It Must Change” e “Another World” foram alguns dos temas que percorreram nesta noite de conforto e introspeção. ANOHNI ocupou o centro do palco num vestido branco, serena e pacífica como as imagens projectadas, com vídeos que gravou no fundo do mar, há uns anos, nos recifes da Austrália. Os geniais paralelismos estabelecidos entre as passagens dos vídeos que intervalaram as canções, traduziram mensagens mais ou menos ocultadas entre a vida sofrida, em risco e extinção dos seres marinhos e a desesperança da (e na) humanidade, naquela que é a narrativa reflexiva da artista. Agradeceu e despediu-se com a já intemporal “Drone Bomb Me”.
Num registo totalmente oposto (e aqui sim, temos de reconhecer que ambos os concertos mereciam um posicionamento diferente no alinhamento), correu-se para o Palco Porto para, quiçá, a actuação mais aguardada desta edição: a de Charli xcx. Entre jovens a snifar na plateia e uma maré alta de telemóveis, a cantora e compositora britânica lotou o recinto para a sua pista de dança ‘privada’. Se é verdade que esta jovem se tornou uma estrela nos últimos anos? Sim. Se a música que produz merece estar nos tops? Eventualmente sim. E se estamos cansadas de assistir a live performances vendidas como ouro por corpos meio despidos (não obstante, com as cores da Palestina!), uma gravação e um micro? Muito!
Obviamente que o movimento brat surgido com o lançamento do seu álbum em 2024 e, ao definir-se como «uma atitude confiante, independente e hedonista», tem influenciado jovens em todo o mundo. Como exemplo o recinto durante o concerto, que se tornou um espaço de liberdade, identificação e aceitação entre muitos dos que neste primeiro dia acorreram ao festival. Além dos seus hits “360”, “Von Dutch”, “Apple”, também as parcerias, com Billie Eilish (“Guess”) e Lorde (a versão remisturada de “Girl, So Confusing”) foram cantadas e dançadas. É sensual e divertido, dá para movimentar o esqueleto e sabe bem sobretudo com calor no verão, mas para isso também os DJs fazem essa função; já para quem aprecia um bom concerto com tudo o que voz e banda proporcionam, este tipo de show acaba por desapontar. Quem esteve, fez a festa; quem não esteve, quis estar. O sucesso mais antigo ficou para o final, “I Love It”, que Charli escreveu para a dupla Icona Pop, proporcionou a despedida de uma noite icónica que muitos quereriam repetir.
A noite continuou no Palco Vodafone com Caribou, um dos alter-egos de Dan Snaith, conhecido por alguns êxitos de música de dança e electrónica cruzados com indie rock, como “Can’t Do Without You” e “Our Love”.
Fotogaleria do público do dia
Dia 13 de Junho
A abrir o dia no principal Palco Porto estiveram The BLKBRDS – ou como se ia ouvindo pelo recinto «os Morangos com Açúcar», «os D’zrt” e « os 4Taste», provavelmente pela associação a Cifrão (Vítor Fonseca), que integrou também aquela série televisiva. A contrastar com este funk colorido, este foi igualmente um dia em que a estética emo pareceu estar de volta: vestes pretas, cabelo escuro e comprido, olhos pintados, sobretudo entre os mais jovens. Avistou-se um público mais variado do que no primeiro dia e pudemos também encontrar festivaleiros mais velhos, apreciadores de rock e ganza, e outros tantos a fazerem-se acompanhar por crianças. E aqui se notou que, apesar das suas versatilidades, uma eventual troca de dias entre Surma e Liniker, que actuou neste segundo dia, teria resultado num alinhamento mais condizente.
Ainda com a calmaria da tarde, e em português (do Brasil e de Portugal, respectivamente), ao mesmo tempo que a dupla Anavitória atraíram os mais jovens e românticos ‘namorados’, os inconformados e irreverentes (como nós) optaram pela luta política de A Garota Não. O céu nebuloso desta segunda tarde fugiu para dar lugar a um Sol que foi baixando sobre o mar. Em formato quarteto, veio de Setúbal para subir pela primeira vez como artista a um palco do Primavera, e para apresentar alguns temas do seu novo álbum Ferry Gold. Como nos tem vindo a habituar, as suas músicas não dispensam a crítica social e política pautadas com a genialidade de grandes escritores nacionais ou músicos do mundo. A música, enquanto arte, não pode certamente agradar a todos mas, tal como as outras artes e sobretudo em momentos de crise, não temos dúvidas quanto à sua importância. Percorreu “A casa de Bernarda Alba”, “Este país não é para mães” (sobre a tão atual polémica da falta de maternidades abertas em Portugal) e “No train a curtir Coltrane”
Após ter dado a conhecer algumas das novas faixas, afirmou que habitualmente fala mais mas que tinha o tempo contado, apresentado assim um medley de temas mais antigos, incluindo “Que mulher é essa?”. Pouco antes de “Canção sem final”, dedicou-a ao governo – «até vou tirar o casaco para o Luís [Montenegro]» – e deixou sublinhada a sua primeira estrofe, que remete à diminuição de apoios à cultura («Podem decretar o fim da arte / É como decretar o fim da chuva». Entre mensagens (in)directas ao governo e aos ideais de direita, o concerto deu-se por terminado com “Ferry Gold”, que dá nome ao álbum e aborda a «privatização e segregação», despedindo-se com um grito partilhado pelo público: «Privatize-se tudo, mas não a liberdade / Privatiza-se tudo e também a puta que os pariu a todos».
Fotogaleria de A Garota Não e Waxahatchee
Sete anos de espera pela cantora Waxahatchee, que à época perfilava nas mesmas playlists que outros grandes nomes do novo indie como Courtney Barnett, fez-nos calcular que teria mais adeptos do que a pouca audiência que preencheu as bancadas e o relvado do Palco Porto. Da sua setlist fizeram parte “Evil Spawn”, “Can’t Do Much”, “Problem With It” e “Right Back To It”, tendo guardado para o final o seu maior sucessor, “Lilacs”, junto à despedida “Fire”. Para contrastar, os TV on the Radio tiveram uma plateia repleta e talvez ambos tivessem beneficiado de uma troca de palcos. No Palco Vodafone, o vocalista Tunde Adebimpe surgiu surpreendido com um «wow» bem rasgado ao testemunhar o pôr-do-Sol na colina do Parque da Cidade. Se não estivesse a actuar, imagina-se que quisesse estar também ele a saborear uma bebida no relvado.
Enquanto os mais jovens optaram pelo hip-hop de Aminé, ou um tipo a ditar umas rimas com um DJ em palco com “13 Months of Sunshine” no fundo, no Palco Super Bock, foi o Palco Porto a centrar as atenções do público mais velho, habituados aos costumes ou não fosse Michael Kiwanuka um repetente dos palcos nacionais. Talvez tenha sido o artista com o maior número de músicos em palco, todos vestidos de branco ou em tons de areia, mas foi a tranquilidade emanada do palco como um feixe de luz musical que nos confortou, como se estivessemos numa cómoda sala de estar. Os seus temas, como “You Ain’t the Problem” e “Black Man in a White World” são sempre actuais e as suas actuações continuam a consolar a alma mais melancólica dos festivais.
Fotogaleria de TV on the Radio e Michael Kiwanuka
Já mais tarde, no Palco Revolut, a diva Liniker foi recebida em apoteose. Surgiu de verde – não Brat mas Caju, o título do seu último álbum que ali apresentou. Fez-se acompanhar por sete elementos em palco, que entre danças e cantos, ofereceram um brilhante espectáculo. Depois de uma entrada com a faixa-título “Caju”, viajou entre “Tudo”, “Papo de edredom” ou “Pote de puro”, terminando num gigante agradecimento festivo com “Deixa estar”. Descida a colina, o Palco Vodafone encerrou com o metal de Deftones, os autores de “Change” e provavelmente os maiores responsáveis pela correria ao segundo dia, que deixaram a sua marca intergeracional neste público. Muitos foram os que puderam vivenciar um concerto como já não há muitos: um daqueles em que o prato servido foi o que realmente se pediu.
Fotogaleria de Liniker, Beach House e do público do dia
Dia 14 de Junho
Apesar de ter sido o dia com mais pessoas durante as horas de luz, natureza de um sábado, poucos foram os que passaram pelo Palco Porto para EU.CLIDES. A falta de mancha populacional deixou espaço para quem se aproximou do palco sem se aperceber da segregação entre os comuns festivaleiros-‘plebeus’ e aqueles que têm acesso ao stage pit, zona do palco restrita às pulseiras VIP. E é curiosamente falando de espaços e divisões que este primeiro artista do dia usa a melodia apropriada com “Tê menos 1”. Cumprimentando os presentes, tentou cativar a quem assistia com a informação de algumas surpresas após uma viagem inicial pelos seus primeiros singles, também estes com um cunho politizado que tem pautado o panorama internacional. Ficámos com uma musiquinha chill, de final de tarde, com sol e uma leve brisa enquanto foram colocadas questões da vida e das relações com “Ira para quê?”, “Sufoco”, “Desmancha-prazeres” e outras mais recentes. Convidou João Frade, com quem tem estado a partilhar residência artística, para se juntar de acordeão para “Venham mais 7”. Já num gesto de humildade e auto-reflexão, deixou uma mensagem de despedida com “S. Eu”, que garante ser um tema anti-ego e anti-artistas.
Fotogaleria de EU.CLIDES e Horsegirl
Estava para chegar ainda durante a tarde um dos fenómenos nortenhos, David Bruno, para qual a plateia se encheu mesmo antes de começar. Pelo segundo ano consecutivo no festival, uma vez que o artista actuou no ano passado com o seu Conjunto Corona, o artista de Gaia pôde reparar que as gentes do norte já sabem bem ao que vão e que o público também faz o concerto. Entrou-se em cena ao som de “As Baleias”, de Roberto Carlos, com vídeos old school e com uma sensibilidade 90’s a passar no fundo com o nome de David Bruno, muito alinhado com os recifes apresentados por ANOHNI no primeiro dia do festival. Chamou-se por «David» para o ver de fato completo, com um assador de chouriço e uma travessa de inox em punho para celebrar a Portugalidade. Faixas como “Praliné” e “Doucement” contam estórias de vidas mais ou menos felizes que retratam, com orgulho, a realidade dos migrantes portugueses. Recebeu-se em palco Rui Reininho, de fato de treino púrpura, para “Tema Sequeira”, e ainda Helena e Presto (dos Mind da Gap) para “10 em 10”. Entre cortes de cabelo com lâmina do ‘bailarino’ António Bandeiras, este fez ainda strip e subiu pela estrutura do palco antes de Mike El Nite roubar as atenções para “Interveniente Acidental” e “Inatel”, dois dos temas mais entoados pelo público que bastante se divertiu. O momento final deu-se com “#150mL”, quando David Bruno desceu ao público para o convidar a cantar ao microfone, resgatando pelo meio um pequeno jovem, Afonso, que acabou por subir ao palco para os seus minutos de fama.
Fotogaleria de David Bruno e Kim Deal
Um dos grandes momentos deste festival esteve a cargo dos australianos Parcels. Os rapazes começam, finalmente, a assegur palcos adequados à sua dimensão. Já com muitos fãs em Portugal, não há quem lhes fique indiferente, acompanhando as suas letras e deixando o corpo abanar ao ritmo do seu funk. Já é difícil decidir quais das suas produções são os verdadeiros êxitos, mas podemos assumir que aqueles que têm permanecido nos tops como “Overnight”, “Lightenup”, “Ifyoucall” ou “Tieduprightnow” fizeram a primeira parte do concerto no Palco Vodafone. Em “Safeandsound” o público elevou a bandeira da Palestina, tema recorrente nesta edição do festival. Antes de convidarem a amiga MARO para “leaveyourlove”, com algumas expressões em português, houve espaço para “somethinggreater” e partilhou-se a admiração pela histeria do público. «Sempre que vimos a Portugal é espectacular, fazem-nos sempre sentir em casa», confessaram.
Fotogaleria de Parcels
Após este este estrondo do outro lado do mundo, percorremos o caminho de volta ao Palco Porto e descobrimos a tempestade Wet Leg. A banda britânica de indie rock, que se aproxima de outras já bem conhecidas do mesmo espectro como Wolf Alice ou Amyl and the Sniffers, subiu a palco envolta num manto de fuma e numa mistura de luzes, a lembrar fogo. A vocalista Rhian Teasdale surgiu de bikini e long shorts brancos, marcando a sua presença com uma atitude confiante para, sem perder tempo, arrancar com “catch these fists”, “Wet Dream” e “Supermarket”. Apesar de mostrar o contrário, a banda é muito afável e aproxima-se do público quando pode, interagindo entre faixas. Numa mistura de temas do primeiro álbum homónimo, de 2022, e do novo moisturizer, foram sem dúvida as faixas “Chaise Longue” e “CPR” que o público mais quis escutar e dançar.
Prosseguindo no registo feminino do festival, a banda californiana de indie rock das irmãs HAIM, com «vibes de Shania Twain», mereceu até a assistência de Parcels e MARO. O concerto destacou-se pela excepção, como único a começar fora de horas com cerca de quinze minutos de atraso. Mais velhas, mais cansadas e… todas comprometidas, mas sempre com as suas piadas teatrais, as irmãs fizeram desfilar uma lista de sucessos, arrancando com “The Wire” e “Now I’m In It”. Prestes a lançar o seu álbum I Quit e a iniciar a sua tour homónima, a banda passou pelo Primavera Sound de Barcelona antes de aterrar no Porto, actuando para uma audiência que para as meninas terá sido, provavelmente, a maior de sempre. Emocionais, como nos têm habituado, dizem que a maior relação que têm tido é, mesmo, com o público – foi este o mote para “Relationships” antes de se passar por “Gasoline” e “Want You Back” enquanto se rodou entre guitarras, baixo e bateria.
Com o vento a levantar-se ao anoitecer, a pista de dança foi aberta no Palco Porto com Jamie xx para aquecer o recinto. Sozinho entre as suas mesas pôde verificar a resposta do público à voz de Romy em “Hold On” (esta dos seus The xx) e “Loud Places”, levantando alguma saudade que se tem pela banda da qual faz também parte Oliver Sim. Jamie contemplou o público com outras misturas, como a versão PT-BR de “Somebody’s Watching Me” (Rockwell x Michael Jackson) e “All Your Children”, para lá do caminho percorrido na apresentação do mais recente álbum In Waves.
Fotogaleria de Wet Leg e Jamie xx
Houve, no entanto, quem cedo tivesse deixado o pé de dança e trocasse as batidas do DJ para guardar lugar para o hardcore punk dos norte-americanos Turnstile no Palco Vodafone. Quando finalmente surgiram no palco, pareceram passar por bad boys que nem partem um prato. Mas engane-se, que nesta noite partiram a loiça toda. Com mosh pits desde a primeira faixa, “Never Enough”, servindo-se do caos de “T.L.C. (Turnstile Love Connection)” para mais confusão, crowdsurf e copos pelo ar logo aos primeiros kicks. Poucas palavras, muita energia e palavras de ordem racionadas para que o público acedesse em grande ovação, faixa atrás de faixa. A final “Birds”, em transição de “Seein’ Stars”, foi um dos pontos altos para um dos concertos em destaque desta edição.
Em português se iniciou e em português se encerrou este Primavera Sound Porto, com Capitão Fausto a oferecer uma passagem pela sua história aos festivaleiros que resistiram até de madrugada. Os já-não-tão-putos de Alvalade fecharam assim o Palco Revolut com uma combinação de temas dos álbuns A Invenção do Dia Claro e Subida Infinita.
Fotogaleria de Turnstile e do público do dia
Para nota final, sublinhamos que este Primavera Sound Porto pauta também pela inversão da tendência de abandono após actuação dos headliners. Dessa forma fica o respeito para a produção tanto pela qualidade dos artistas como pelo line-up proposto, garantindo ainda Floating Points para nos aproximar da manhã e arrastando a celebração ao dia seguinte, para quem quis voltar ao recinto para uma tarde mais calma, para DJ sets de HAAi ou Mura Masa.
Em 2026 o festival regressa entre os dias 11 e 13 de Junho.