The Murder Capital no LAV. A noção de comunidade enquanto antídoto da cegueira colectiva

Fotografia: Nuno Bernardo | Texto: V. Oliveira

De regresso a Portugal, após passagens pelo festival Vodafone Paredes de Coura (2022) e Primavera Sound Porto (2023), a banda irlandesa de post-punk apresentou na casa Lisboa Ao Vivo o seu mais recente álbum, Blindness, lançado este ano.

Desta feita em nome próprio, no seguimento da passagem por Lisboa a convite de Nick Cave & The Bad Seeds, em Outubro do ano passado, foi em rotação máxima que o quinteto de Dublin se apresentou em palco através do single “The Fall” (Blindness) e “More is Less” (When I Have Fears, 2019), mostrando desde cedo que o público estava bem ensaiado e com vontade de mais. O mesmo se pode dizer do vocalista James McGovern, a canalizar a angústia e a catarse para convocar energia e reciprocidade do público português: «Lisbon, any mosh pits?».

Se a tudo o público consentiu e obedeceu, desde moshpit a coros cantados em uníssono e a plenos pulmões, foi também com expectativas excedidas e longe de defraudadas que nos deixou ficar o quinteto britânico. Numa incursão pelo seu mais recente disco, do qual destacamos “Death of a Giant”, “Swallow” e “Can’t Pretend To Know”, que juntamente com “The Fall” arrancaram os maiores aplausos da noite, o concerto de The Murder Capital contou ainda com alguns daqueles que consideramos já clássicos dos seus álbuns anteriores.

Singles como “Don’t Cling To Life” e “Green & Blue” (do primeiro When I Have Fears), bem como “Ethel” e “A Thousand Lives” (do segundo álbum, Gigi’s Room, de 2023) marcaram um tom mais introspectivo e melancólico da noite que elevou a outro patamar a simbiose existente entre a banda e o público – numa casa bem composta, mas ainda assim longe de estar esgotada.

Do encore, fizeram parte os êxitos “Words Lost Meaning” e “Love of Country”, encerrando esta última a noite através de gritos de libertação pela Palestina, «Free free Palestine». O final de noite combativo que se pedia a uma banda que tem na sua génese o movimento pós-punk e a luta e crítica às sombras da sociedade actual.

A primeira parte do concerto ficou a cargo da banda Hex Girlfriend, vindo de Londres. O duo de rave-rock, composto por Noah Yorke (bateria/voz) e James Knott (baixo/teclas), trouxe a Lisboa energia contagiante e no bolso o mais recente EP No Golf Cart Parking (2024).