Rodrigo Leão no Coliseu de Lisboa. Vinte anos de “Cinema”

Texto: Margarida Dâmaso | Fotografia: Ana Ribeiro (Grifus)

Após uma primeira noite no Coliseu do Porto, Rodrigo Leão trouxe no dia 28 de Junho a revisitação do álbum Cinema ao Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Num alegre convívio entre alguns dos incríveis músicos que têm acompanhado o compositor na jornada de duas décadas, celebrou-se a reedição deste ícone indispensável da produção nacional, com a inclusão de alguns temas inéditos como “Quarto 501”, ali apresentados. Os músicos foram recebidos com um grande aplauso, agradecido após três músicas e retribuído em desejos de um bom serão.

Ana Vieira foi convidada para interpretar primeiramente “Rosa”, dedicando a Ryuichi Sakamoto, que o tivera interpretado há vinte anos. Antes de “Solitude”, ainda com aquela doce voz, parabeniza-se João Pedro Diniz, autor da música, pelo seu aniversário neste dia. Com um grande abraço e aplauso, foi depois recebido o amigo Pedro Oliveira, dos Sétima Legião, para os acompanhar na guitarra. A última convidada, e também amiga de longa data, foi Sónia Tavares, que ajudou igualmente na construção do álbum há vinte anos e é portadora de uma das vozes nacionais mais poderosas. Desconcertante, suspirada e leve, aqueceu o espetáculo como se penetrasse um canto particular da nossa intimidade em “Deep Blue” e “Happiness”.

Multifacetado, este álbum mantém a encantada “Lonely Carousel”, que após ter passado por diversas vozes incríveis foi ali apresentada por Ana Vieira e Bruno Silva (responsável também pela viola de arco), que se juntou ao microfone na sua rouquidão hispânica para um tango a dois em “No se nada”. A festa também esteve presente, e n’”O Café dos Imigrantes”, ao ritmo acelerado do final contado pelo kick da bateria, juntaram-se palmas do público, tal como em “La Fête”, em gesto de despedida e celebração, na qual músicos se levantaram para dançar.

Actualmente é impactante partilhar uma sala em que o público se distancia dos telemóveis. Nesta noite, fosse porque a maior parte se concentrava numa faixa etária 50+, não tão digitalmente dependente e com facilidade em respeitar as indicações da sala, simplesmente se apreciou um concerto na sua plenitude.

Fazendo jus ao álbum produzido «entre amigos, num clima de amor e muita felicidade, pouco depois dos filhos nascerem», pudemos observar a transposição desta interacção, num rodopio de conversa e entendimento perfeito entre músicos e instrumentos, com Rodrigo Leão a destacar ainda a presença do seu pai e o contributo de alguns amigos, a quem dedicou alguns temas. No final do concerto, os músicos despediram-se com um forte aplauso do público, com direito a bate-pé, tendo voltando para um encore de três faixas, que finalizou com um dueto nas vozes de Ana Vieira e Celina Piedade para a deslumbrante e eterna “Pasión”.