Dez concertos para ver no Primavera Sound Porto 2024

De 6 a 8 de Junho, o Parque da Cidade da invicta recebe nova edição do Primavera Sound Porto. Durante três dias o recinto eterno do festival, a celebrar a 11ª edição da sua primeira internacionalização a partir de Barcelona, dará palco à música contemporânea e emergente, situando-se firmemente na actualidade mas também com espaço para as nuances do passado.

Essas nuances respondem por Pulp ou PJ Harvey, nomes que ajudaram a pautar a música rock britânica nos anos 90: os primeiros de regresso aos palcos após longa ausência, a segunda porque até aos dias de hoje continua a fazer música muito relevante. Mas também existirão canções americanas nas vozes de Lana Del Rey, Mitski, SZA e The National, cada nome com output bastante distinto e que revela boa parte da diversidade do alinhamento para este ano. Já os franceses Justice ajudam a preencher uma das maiores lacunas desta edição, a da música electrónica. Outra grande ausência será, sem sombra de dúvidas, a do recentemente falecido Steve Albini, que com os seus Shellac haveria tocado em todas as edições do festival.

Por tradição, ao desenhar um roteiro para um festival, evitamos os nomes do topo do alinhamento e, como tal, damos dez alternativas para considerar ver neste Primavera Sound Porto.

#01 Eartheater

Desde que em 2015 lançou o seu primeiro par de álbuns, Metalepsis e RIP Chrysalis, Alexandra Drewchin não parou mais. A electrónica experimental de Eartheater (na foto), de mão dada com a pop industrial ou o R&B mais abstracto, tem dado frutos tanto em trabalhos de estúdio – como Phoenix: Flames Are Dew Upon My Skin, um dos maiores destaques do catálogo – como em mixtapes (Trinity) ou em colaborações com artistas como Show Me The Body, Moor Mother, Caroline Polachek ou Sega Bodega. O concerto no Porto será no dia 6 de Junho, onde mostrará as músicas de Powders, lançado no ano passado, abrindo caminho para Aftermath, disco a editar algures este ano.

#02 Crumb

O Parque da Cidade do Porto é um cenário idílico para se deixar flutuar no espaço da existência. Assim tem sido em várias edições, em que há aquela banda que nos move um pouco mais e nos tira os pés do chão pelas suas guitarras mais esvoaçantes, embebidas igualmente de distorção, delay e phasers psicadélicos. É algures nessa gaveta que podíamos tentar encaixar a música dos Crumb no seu mais recente álbum AMAMA, mas a lírica doce da vocalista e guitarrista Lila Ramani também nos remete para os encantos do triphop. A ver de que forma tocam a alma a 7 de Junho.

#03 Obongjayar

O nigeriano Steven Umoh pode ter deixado o seu país natal, mas em Londres recusa-se a esquecer as raízes. Assim se justifica a afropop de “Tinko Tinko” e como a electrónica britânica pode servir de base para musicar as suas tramas rítmicas. Assim se torna difícil de catalogar o corpo de obra que também navega pela spoken word e pela soul de contornos espirituais, como no disco Some Nights I Dream of Doors. Soma também já colaborações com Danny Brown, Little Simz ou Fred Again…, mas é a singularidade da sua música mais pessoal que se poderá testemunhar no dia 6 de Junho no Porto.

#04 Blonde Redhead

É preciso recuar a 2011 para nos recordarmos do segundo e último concerto dos Blonde Redhead em solo português. A espiral shoegaze, evidenciada em discos como Misery Is A Butterfly e 23, editados pela 4AD em 2004 e 2007 respectivamente, partiu do rock alternativo e mais ruidoso dos anos 90. Desde então que Kazu Makino e os irmãos Amedeo e Simone Pace são uma das forças mais à margem da música alternativa em geral, assumindo o papel principal de uma esfera sónica muito própria. Nove anos depois de Barragán, e já depois de Kazu ter iniciado a carreira a solo, surgiu Sit Down For Dinner, disco que agora trazem ao Porto sem garantias de que existirá um próximo. É aproveitar a rara ocasião de os apanhar por cá, a 6 de Junho.

#05 Tropical Fuck Storm

Após a digressão de apresentação de Feelin’ Kinda Free, os The Drones entraram em hiato e, consequentemente, Gareth Liddiard e Fiona Kitschin viraram-se para um novo projecto e começaram a escrever as primeiras ideias de Tropical Fuck Storm. A eles juntaram-se Lauren Hammel (High Tension) e Erica Dunn (Mod Con, Harmony e Palm Springs) para uma espécie de supergrupo de art punk australiano. O resultado materializado em discos como A Laughing Death In Meatspace, Braindrops e o mais recente Deep States mostra como não têm de existir fronteiras entre o punk, o noise, o garage, o kraut e o rock mais psicadélico enquanto a veia experimental guiar o sangue do quarteto. Em palco, no Porto, será a 7 de Junho.

#06 billy woods

Se MF DOOM tinha de ser escrito em letras maiúsculas, billy woods opta pelas menores. Mas a sua grandeza começa a ser comparável. O rapper nova-iorquino, fundador da label Backwoodz Studioz e membro de Armand Hammed com Elucid, é um dos mais prolíficos nomes da cena underground do hip-hop da última década, com a crítica e o público finalmente a tomarem mais atenção de há cinco anos para cá. Duas fortes colaborações com Kenny Segal, Hiding Places em 2019 e Maps em 2023, este último em apresentação no Primavera Sound Porto, são ponto de partida para um carreira que despontou também com Brass, Aethiopes e Church – uma sequência de brilhantes trabalhos de rimas abstractas. billy woods evidencia-se também por esconder parte do seu rosto nas fotografias para os media e de manter secretismo, tornando-se ainda mais curioso vê-lo num palco grande no festival a 8 de Junho.

#07 Gel

Surgidos no cartaz para suplantar o cancelamento de Scowl, os Gel garantem de outro jeito a prometida febre punk hardcore. Há aqui voz desordeira e temível, riffs sujos e powerviolence para os freaks, como sugeriram com a sua tape de 2019 HC For the Freaks. Faixas rápidas e jardas ruidosas, especialmente num festival como este, vão fazer parecer o concerto a 8 de Junho uma espécie de blitzkrieg, até porque o disco que vão apresentar, intitulado Only Constant, bate apenas nos 17 minutos.

#08 Mandy, Indiana

Uma das lacunas do Primavera Sound Porto deste ano é a ausência do BITS, que dava palco à música electrónica a altas horas. No entanto, havendo fome, os Mandy, Indiana servem essa refeição de uma forma invulgar. O disco i’ve seen a way flutua entre o conforto da batida e o alarme do noise, com a vocalista Valentine Caulfield a sussurrar e a gritar em francês ancorada num som industrial de Manchester. Foram ultrapassadas nesse álbum de estreia as credenciais mostradas no EP de 2021, oferecendo assim um dos mais promissores concertos do festival a 8 de Junho.

#09 MAQUINA.

Há outra máquina de dança em cartaz. Mas estes são a MAQUINA., com maiúsculas e sem dúvidas do controlo corporal que o trio composto por Halison Peres, João Cavalheiro e Tomás Brito é capaz em cada palco que pisa. Já assim o era com o álbum de estreia Dirty Tracks For Clubbing, mas o novo álbum PRATA, com o selo da Fuzz Club, eleva a banda para voos maiores. Depois de terem percorrido a Europa como primeira parte da digressão de A Place To Bury Strangers, a banda está de volta ao seu país para mostrar em grandes palcos (e também nos pequenos, onde estas coisas da body music fervem mais) que é possível fazer o rock dançar, ou a dança rockar, com balanço entre o kraut, o industrial e o techno. No Primavera Sound Porto é a 7 de Junho.

#10 Mannequin Pussy

O que esperar de uma banda que atravessa oscila entre o pop punk, o indie rock e o noise com o selo da Epitaph? A resposta pode ser encontrada algures em I Got Heaven, quarto álbum do quarteto que foi editado no passado mês de Março. Para trás ficou o foco nas canções de amor e na temática política e a banda explora agora problemas relacionados com relações pessoais, temas religiosos e emoções ligadas ao envelhecimento. Temas mais maduros e menos teenage angst, mas com a mesma ferocidade que atribui apenas meia-hora de duração ao álbum. Haverá tempo para explorar mais ainda no Porto a 8 de Junho.

Para além dos dez nomes escolhidos e os mencionados no topo do cartaz, o Primavera Sound Porto 2024 conta ainda com as presenças de American Football, Amyl and the Sniffers, Arca, Conjunto Corona, Ethel Cain, Julie Byrne, Lambchop, Lankum, The Last Dinner Party, Lisabö, Royel Otis, Tirzah ou Wolf Eyes, entre muitos outros.

Autor: Nuno Bernardo