Jordan Curtis Hughes

The 1975 no Sagres Campo Pequeno. Entre o génio e a humanidade de Matty Healy

Texto: V. Oliveira

Acompanhar uma banda como The 1975 é aprender a viver com as dualidades que habitam dentro do seu protagonista. Num concerto há muito antecipado, a arena do Campo Pequeno cedo se encheu de um público ansioso pela estreia da banda-cartaz da noite. Como é muitas vezes apanágio, e não sendo nunca uma banda a deixar crédito por mãos alheias, os ingleses não só se fizeram esperar como somente se deixaram fotografar por quem os acompanha em tour.

Ao som de um coro de assobios que se prolongou do início ao fim do espectáculo, logo vimos Healy entrar em cena, automaticamente acompanhado de uma garrafa de vinho. O design do palco foi nada menos do que espetacular: transformado em casa, a banda entrou pela porta da frente e foi acendendo várias luzes, iluminando o palco à sua passagem. Com uma setlist transversal, The 1975 levaram-nos por uma viagem pela sua discografia, distribuindo êxito atrás de êxito de forma avassaladora.

Em termos discográficos, foi ao som de “The 1975 (BFIAFL)” que se fez a introdução à banda, estando Matt ao piano num momento que fez as delícias do público. Em ritmo frenético, o início de concerto foi conduzido por entre êxitos como “Looking For Somebody (To Love)” e “Happiness”, com Matty Healy interpelando o público com breves apelos: «Hello, we love you. We really love you». O concerto atingiu o seu auge durante a apresentação de “A Change Of Heart”, que foi cantada a pulmões abertos por um público absolutamente rendido ao que se passava em palco. A intensidade emocional do concerto atingiu níveis estratosféricos ao som de “Robbers”, canção que tem a sua origem nos primórdios da existência da banda e que com toda a certeza fez as delícias dos fiéis fãs.

Destacamos ainda a secção intermédia do concerto, da qual fizeram parte a badalada “If You’re Too Shy (Let Me Know)” e a sobejamente conhecida “It’s Not Living (If It’s Not With You)”, ressoando de forma inegável entre o público e resultando numa atmosfera a roçar a euforia pura. “I Always Wanna Die (Sometimes)” trouxe-nos um momento cantado a lanternas acesas enquanto “Love It If We Made It” foi talvez a mais aplaudida da noite (numa noite já de si recheada de aplausos), na qual até houve direito a momentos de dança por parte de Healy. Demonstrações de virtuosismo de um entertainer puro mas refém da sua condição de estrela.

À recta final do concerto fizeram de banda sonora os êxitos “Sex” e o poderoso “People”, sem ameaça de encore nem de bis, como de resto deveriam ser todos os concertos. Rolaram os créditos e a banda deixou tudo em palco, num ímpeto magistral de performance, talento musical, e mestria artística.

Foi a todo o gás que os Been Stellar se estrearam em Portugal. Cabendo-lhes a responsabilidade de impressionar os muitos fãs que esperavam o acto principal da noite, rapidamente se tornou óbvio porque foram os escolhidos para acompanhar os The 1975 durante a sua mais recente tournée.

Desengane-se quem por ventura pensou que a banda dos Estados Unidos estaria em palco por sorte, ou ao acaso. Estreando o seu mais recente single “Passing Judgment”, foi num ímpeto absolutamente avassalador e de forma muito profissional que se exibiram em Lisboa, tendo o público presente direito a ouvir falar português através de um dos guitarristas da banda (de origem brasileira). Ficando a seu cargo os momentos de interacção com o público, automaticamente se arrancaram  aplausos e coros de assobios de um público que se mostrava presente de forma intencional e para ouvir a banda indie.