Dez concertos para ver no Primavera Sound Porto 2023

O Primavera Sound Porto regressa ao Parque da Cidade entre os dias 7 e 10 de Junho numa ocasião bastante especial: é a 10ª edição do festival no Porto, cidade que alavancou a internacionalização do gigante festival de Barcelona em 2012.

No topo do alinhamento para 2023 encontramos Kendrick Lamar, Rosalía, Pet Shop Boys, Blur, Halsey e New Order, nomes que em letras garrafais se destacam dos demais ao longo de quatro dias. Evitando estes nomes óbvios, desenhámos o nosso habitual roteiro de dez recomendações. São estas dez mas podiam ser outras tantas, tal é a variedade musical apontada ao Porto neste ano de 2023.

#01 Jockstrap

A dupla londrina regressa a Portugal menos de um ano depois, agora com uma passagem ancorada no álbum de estreia I Love You Jennifer B, com selo da Rough Trade e um dos melhores discos de 2022. Georgia Ellery, que também faz parte de Black Country, New Road, e Taylor Skye, produtor ligado a nomes como slowthai ou Injury Reserve, juntam forças em Jockstrap (na foto) para uma pop experimental e com sensibilidade alternativa. A pop também se quer com ruído e glitch.

#02 Unwound

Se há coisa que o Primavera Sound já nos tem habituado ao longo de dez anos são os regressos ou os revivalismos improváveis. Há vinte anos que os Unwound não eram tema de palco, mas o festival motiva o seu regresso à Europa mais de vinte anos depois do lançamento do seu mais icónico e último álbum, Leaves Turn Inside You. Os Unwound são inquestionavelmente uma das mais influentes bandas de post-hardcore e noise rock da década de 90, com o seu percurso a começar com Fake Train, em 1993, disco que estará bem patente no alinhamento percorrido ao vivo.

#03 The Comet Is Coming

Um dos nomes a reter logo no primeiro dia de festival é o do trio composto por King Shabaka (alter-ego do virtuoso saxofonista Shabaka Hutchings), Danalogue e Betamax. Os The Comet Is Coming desafiam o jazz com rock espacial e psicadélico na mesma veia de uns Sun Ra, por exemplo, mas com os olhos postos num futuro ainda mais distante. Os temas apocalípticos de Channel the Spirits (2016) e Trust in the Lifeforce of the Deep Mystery (2019) tiveram um sucessor no ano passado, Hyper-Dimensional Expansion Beam, que justifica a aterragem na cidade invicta numa das últimas oportunidades de ver The Comet Is Coming ao vivo antes de uma paragem por tempo indefinido.

#04 Sparks

Os nomes de New Order e Pet Shop Boys podem surgir mais acima no alinhamento, mas provavelmente não há banda mais influente em cartaz do que os Sparks dos irmãos Ron e Russell Mael. Em constante mutação nos campos da synthpop, do new wave, do post-punk ou do rock alternativo, os Sparks são desde a década de 70 uma verdadeira instituição de inspiração e reinventação digna de estudo. Nem a propósito, consigo trazem novo disco, The Girls Is Crying In Her Latte, o 26º(!) de uma importante carreira.

#05 Japanese Breakfast

Há dez anos, aquando da formação deste projecto, Michelle Zauner liderava os Little Big League, mas depressa assumiu as funções da sua nova banda após o álbum de estreia Psychopomp, em 2016. Se Soft Sounds From Another Planet, de 2017, permitiu emergir ainda mais entre os segredos guardados da indie pop, foi com Jubilee, o mais recente álbum, que a consagração e a libertação foram exploradas em pleno, angariando inclusive nomeações para os Grammy para Best Alternative Music Album e Best New Artist.

#06 The Mars Volta

Outro grande regresso aos palcos é o de The Mars Volta, banda marcante dos 00’s pelo seu rock progressivo contagiante nascido das cinzas de At The Drive-In. Omar Rodríguez-López, Cedric Bixler-Zavala e Eva Gardner voltam a juntar-se enquanto membros originais, somando-se ainda as partes de Marcel Rodríguez-López, Leo Genovese e Linda-Philomène Tsoungui para interpretar tanto temas antigos – De-Loused in the Comatorium já celebra vinte anos(!) – como novos, menos pautados pela febre do hardcore e mais pelas origens latinas da banda, como o homónimo The Mars Volta, do ano passado, e Qué Dios Te Maldiga Mí Corazón, a editar ainda este ano.

#07 Darkside

A dupla composta por Nicolas Jaar e Dave Harrington lançou, em 2013, Psychic, um dos mais marcantes álbuns de electrónica da década. Um hiato de quatro anos e um novo álbum depois, Spiral em 2021, os Darkside estão de regresso ao Primavera Sound Porto para mesclar a pista de dança com batidas quentes e licks de guitarra com um toque de blues. “Heart”, “Paper Trails” e “Liberty Bell” são alguns dos temas que se esperam ouvir no Parque da Cidade.

#08 The Murder Capital

Ao lado de bandas como Idles, Soft Play, Shame e os compatriotas Fontaines D.C., os The Murder Capital pertencem à nova vaga de actos de post-punk e art punk. O quinteto formou-se em 2018 em Dublin e no ano seguinte já deu que falar com o álbum de estreia When I Have Fears, mas é o novíssimo Gigi’s Recovery que o motiva a nova apresentação em Portugal. Dificilmente não estaremos a falar de um dos melhores álbuns do ano quando temas como “A Thousand Lives”, “Only Good Things”, “Ethel” ou “Return My Head” compõem uma boa parte de uma obra criativa à base de guitarras.

#09 Wednesday

Outra banda recente que não tem medo de arriscar com guitarras foi formada por Karly Hartzmann em 2017 após ver o concerto de Mitski no NPR Tiny Desk. O cunho está lá mesmo após cinco discos e a ironia do destino levou os Wednesday a partilharem já a mesma label da sua principal influência, com o mais recente Rat Saw God a ser editado pela Dead Oceans. “Bull Believer”, “Chosen To Deserve” ou “Quarry” são apenas três das suas várias faixas orelhudas de indie rock e shoegaze com uma dose q.b. de country e grunge.

#10 Gilla Band

Fechando as dez escolhas com mais guitarradas, quiçá as mais ruidosas e dissonantes do festival, os Gilla Band (ex-Girl Band) vão apresentar no Porto o mais recente álbum, Most Normal, editado no ano passado na Rough Trade. Quer subam a palco com mais temas de Holding Hands With Jamie (2015) ou The Talkies (2019), para além da novidade do catálogo, sabemos que o nível de catarse sónica não será minimamente alterado. Cereja no topo do bolo será se, mesmo em contexto de festival, nos presentearem com a icónica versão de “Why They Hide Their Bodies Under My Garage?”.

Para além dos dez nomes escolhidos, há outros destaques a considerar no alinhamento, como Alison Goldfrapp, Alvvays, Arlo Parks, Bad Religion, The Beths, Blondshell, Built To Spill, Daphni, Gaz Coombes, Julia Holter, Le Tigre, Maggie Rogers, My Morning Jacket, Nation of Language, NxWorries, OFF!, PUP, Shellac, St. Vincent, Two Shell, Yard Act ou Yves Tumor, entre muitos outros.

Autor: Nuno Bernardo