Foi no regresso aos concertos pós-pandémicos que recebemos, na passada sexta-feira, a tão aguardada presença em nome próprio da sul-africana Alice Phoebe Lou. Depois da incrível passagem inaugural por Paredes de Coura – um dos seus festivais preferidos -, veio até Lisboa para conhecer mais sobre um público tão caloroso, como descreve.
Acrescentando carácter à noite, esteve Marinho, com uma tranquilidade na sua arte amadurecida, talvez derivada de circunstâncias do confinamento, como partilhou com o público. Também neste sentido optou por cumprir um tributo à amizade que estabeleceu com a sua ansiedade durante a pandemia, tocando “Inquietação”, de José Mário Branco. Foi sozinha, somente com a sua guitarra a conter algum nervosismo, que relembrou o seu reportório, fazendo uma viagem pelos vários êxitos da sua curta carreira, como “Ghost Notes” e “Window Pain”. Houve tempo para um desafio com a versão habitual de “I’m On Fire” de Bruce Springsteen, divertindo os presentes que àquela hora completavam cerca de um terço da sala. Entre temas mais novos e antigos, despediu-se com um intempestivo “Bloody Mother Fucking Asshole”.
O público ‘hipster-good-behaviour’ transmite uma pacífica vontade de estar, ouvir, beber e conviver, pois ali as restrições ficaram à porta: sem máscara, sem lugares marcados, bar disponível com copos reutilizáveis. Num instante parece que tudo voltou a ser como antes. Às 22h surgiu uma pequena e enérgica fada saltitante, transportando gloriosamente a sua guitarra azul brilhante. Com várias dezenas de pessoas efusivas na recepção da banda, Alice Phoebe Lou sorriu e explicou ser o regresso após algum tempo de pausa para férias. Por detrás daqueles cabelos loiros e figura frágil de 28 anos quase que nos deixamos enganar, ou não fosse a sua ginga de ombros a acompanhar os seus ritmos e letras de quem já viveu vários (des)amores.
O quente da sala fez esquecer a chuva de Outubro que caía lá fora e foi com “Something Holy” que o clima se inverteu: todos cantaram e dançaram, lentamente, como se fizessem amor com a própria música. Passando por “Shake” e “Dusk”, com o avançar do concerto, Alice ficou para um solo com “How To Get Out of Love”, “Let Me”, “Velvet Mood” e a recente “End of the Road”, colocando no fim a mão na cabeça, sem jeito, de não ter como agradecer. É incrível a voz cheia, madura, que sai de um tão pequeno e animado corpo!
Já novamente rodeada dos seus companheiros, tocaram “Lonely Crowd”, a nova “Child’s Play”; “Dirty Mouth” fez o público vibrar, saltando e gritando «now I do what I like with it!». Por fim, disse não ser pretensiosa e por isso não insistir no encore, encerrando com “Lovesick” e congratulando Marinho pela primeira parte. Espaço ainda para as apresentações da banda ao ritmo de um instrumental cantado e dançado, lançando um «we’ll be back, that’s for sure» e deixando a deixa para uma “Witches” de despedida.
Texto: Ana Margarida Dâmaso
Fotografia: Ana Ribeiro