Dallian na Stereogun. O nascer de algo novo

E eis que das trevas do undeground nacional, mais um monstro se eleva do abismo. O passado dia 1 de Junho de 2018 ficou marcado pelo concerto de estreia da nova banda leiriense Dallian. Numa noite de peso e sonoridades épicas, com os Dark Oath a abrir, a Stereogun viu nascer em palco um dos mais promissores projectos da música pesada nacional.

Os concertos tiveram início às 23:42, com os melodeathers conimbricenses Dark Oath, marcando pela atitude enérgica e impestuosa de Sara Leitão na voz, acompanhada por uma banda mais estática mas muito interessante tecnicamente. Dando especial foco ao seu álbum de estreia de 2016, When Fire Engulfs The Earth, a banda mostrou ser capaz de transpor ao vivo a atmosférica épica que pauta a sua sonoridade, com ajuda da excelente acústica da sala.

Quinze minutos após a meia-noite, os Dark Oath despediram-se do público, agradecendo o convite. Para o registo ficam temas como Land Of Ours e Brother’s Fall, os mais longos e bem construídos da banda.

A noite era de festa para os Dallian. Poucos dias após o lançamento oficial do seu primeiro álbum, a estreia em palco, em casa e na melhor sala da cidade. O quarteto, cujo conceito estético (e de certa forma também sonoro) se inspira no steampunk, subiu a palco às 00:49, após um sentido cumprimento entre todos os elementos da banda.

Após a introdução atmosférica orquestral, Genesis Of Awakening, o som explode em Satori, um tema com influência oriental que mostra toda a versatilidade da banda, desde os riffs de Death mais demoníacos às passagens melódicas e progressivas. O arranque seria perfeito não fossem os problemas com o estiloso mas pouco potente microfone, que continuaram em The Lie Vision.

Felizmente, o problema foi resolvido antes da magnífica As Within, So Without, um dos registos mais interessantes do álbum Automata, com um arraque demolidor e um final divino em crescendo. Fórmula oposta teve o tema seguinte, A Lullaby For The Wicked, com uma entrada calma e sonhadora a crescer ao longo dos seus mais de 7 minutos até aos momentos mais brutais.

A festa prosseguiu com a mais progressiva e baladeira Swallow The Sun, um belo momento para respirar antes de The Nun From Azrael, que deixou um cheirinho de Septicflesh no ar, com o bónus de uma pequena intromissão de flamenco inesperada mas bem encaixada na composição.

Após Corrupt Demiurge, a passagem falada Echoes Of Arrival, a introdução do momento mais poderoso e louco da noite, com The Swine Dialectic. Seguiu-se Caixa Pensatória, mais um tema com uma composição variada e original, sublime no toque final com guitarra portuguesa e fado, um dos momentos altos do concerto.

Depois de Vãsanã (वासना), a banda despediu-se com o épico final A Closure In Crisis, colocando um ponto final ao concerto de pouco mais de uma hora, onde tocaram o seu repertório na íntegra. Surpreendemente inovadores e maduros nas composições, não deixaram certamente ninguém indiferente, deixando no ar aquele sentimento de possível banda a explodir em popularidade no futuro. O talento está lá, tanto nas guitarras de Ricardo Carniça e Leandro Faustino, na explosiva bateria de André Fragoso, como no carismático frontman Carlos Amado, mas sobretudo na originalidade das composições, sem medo de arriscar e experimentar coisas novas. Com um ponto de partida tão promissor, o céu é o limite.