Eram 21:30 quando as portas do recém-inaugurado Capitólio se abriram, no passado dia 7 de Abril. Talvez graças ao rico cartaz cultura que a noite lisboeta tem vindo a apresentar, torna-se cada vez mais complicado chegar a horas e estacionar nos locais pretendidos.
Poucas pessoas mas quem está, pretende ficar na primeira fila e não troca uma bebida pelo lugar. Público misto, “intelectualóide”, visivelmente diferenciado… Quem olha ao redor percebe que a mensagem alcança não só o público LGBT, defendido por Liniker. No geral, pessoas bonitas com idade média de 30 anos, embora muitos acima desta faixa etária.
Com um atraso de 1h e um quarto de sala cheia, foi apenas às 22h30 (após o termino de um importante jogo futebolístico nacional) que se deu início à primeira parte da noite, com Conan Osiris. O português mais peculiar e sem maneiras dos últimos tempos, Conan Osiris aka “elfo das barracas”, lançou o seu terceiro álbum Adoro Bolos, onde expõe dilemas pessoais em temas como “Borrego”, “Adoro Bolos”, “Titanique”, “Ave Lagrima” e a mais pedida, “Celulitite”, todos apresentados nesta noite. Com o seu colar egípcio, no seu macacão, atado à cintura, acompanhado pelo seu bailarino de camisola branca de ciclista, mostravam o swag potenciado pela música gipsy-eletro-funaná com rimas que variavam do hiphop ao fado, abanando os seus corpos em twerks repetitivos e levando toda a gente a abanar a anca. Terminou com um «obrigada por me aturarem antes da safada da Liniker e seus caramelitos».
Após uma introdução instrumental da banda, é de modo efusivo que a brasileira Liniker Barros é recebida, já com a sala cheia. Começaram numa onda instrumental jazz mas quase a roçar o funk, com entrada posterior da voz de suporte de Renata Éssis. Bateria, guitarra elétrica, baixo, saxofone, percussão e teclas – para completar o elenco só mesmo Liniker, a última a entrar, surgindo de macacão vermelho e botas brancas. Recebida com grande ovação e sentem-se as saudades do festival Vodafone Mexefest, onde marcou presença na Estação do Rossio, em Novembro passado.
Explica que, de manhã, o seu voo foi cancelado, tendo-se este tornado num “show de vitória” – “a gente não sai do Brasil à toa”. Pela terceira vez em Portugal, vindos do interior do Brasil, Araraquara, salienta «obrigado por estarem aqui, mesmo que não conheçam. O nosso lançamento foi feito pelo YouTube e os portugueses eram dos que enviavam mais mensagens».
Começando com “Louise du Brésil”, percorreu títulos do seu álbum de 2016, Remonta, como “BoxOkê” e “Sem Nome Mas Com Morada”. Apresentaram-nos o mais recente single “Lava”, já de 2018, num estilo mais reggae. Desceu ao público, aproximou-se e sentiu os aplausos ritmados que acompanhavam a banda.
Após a meio-animada “Lina X” – meio, pois a segunda metade da faixa parece tratar-se de um lindo poema de amor inserido dentro da primeira -, explicou a história de “Serei A”, que partilha com Linn da Quebrada: «escrevi em 2015 para uma amiga-irmã para poder ser escutada, ser ouvida, ela esteve o mês passado aqui em Lisboa. Gostava de dedicar a todas as mulheres aqui presentes, a todas as mulheres negras, travestis», e sob um gigante aplauso do público, Liniker e Renata dançam.
Obviamente que não poderiam ficar de fora os temas mais conhecidos do publico, desde “Tua” até aos mais antigos, de 2015 “Caeu” e a mais aguardada, pedida e cantada, “Zero”. No decorrer desta sessão, houve ainda espaço para cantar os parabéns a um aniversariante do público, antes da abertura de um corredor no meio do público, que permita a cada um que assim quisesse, mostrar os seus movimentos, desfilando até ao palco. A noite terminou com a banda junto ao público, com fotos, pela celebração da vida e do não à discriminação.
Texto: Ana Margarida Dâmaso