Asphyx no RCA Club. Vagos aqueceu mesmo em Lisboa

Este tem sido um ano rico em warm-ups para o Vagos Metal Fest. Em Janeiro, tivemos o primeiro, em Cascais, com os alemães Suidakra, que contou ainda com a presença dos nossos Dark Oath e os espanhóis Vendetta FM. O segundo fora uma dose tripla de Entombed A.D., que passaram igualmente por Cascais, mas também Porto e Loulé em Março.

O terceiro e último estava marcado para o passado dia 27 de Maio e prometia tomar o RCA Club de assalto, muito por culpa dos cabeças de cartaz desta noite serem os Asphyx, veteranos holandeses do death/doom, que regressavam a Portugal após cinco anos para apresentarem o seu mais recente registo, Incoming Death, editado a 30 de Setembro do ano passado pela Century Media Records.

Mas a noite não fora só deles, antes pelo contrário. A abertura das hostes estava reservada para duas bandas nacionais.  A primeira destas foram os Besta. Os lisboetas que já contam com uma dúzia de splits, EPs e ainda um longa-duração – com o próximo já no forno – rapidamente meteram o público a abanar a cabeça com uma valente injecção de grind misturado com crust. Paulo Rui, o vocalista da banda, mostrou-se um autêntico furacão em palco, berrando sobre ódio e misantropia e fazendo malabarismos com o seu próprio cuspo, enquanto os restantes membros entoavam freneticamente riff atrás de riff, batida atrás de batida, virtualmente com pausa nenhuma e sem merdas, num desfilar de temas violentos que não deixaram ninguém indiferente. Um óptimo começo para uma noite ainda jovem.

De seguida tivemos os The Ominous Circle. Composta por veteranos do underground português presentes em bandas como Holocausto Canibal, Colosso e Dementia 13, a banda trouxe ao RCA Club um misto de maldade e negrume, aliados a um death metal sujo e obscuro, tal como presente no seu álbum de estreia, Appalling Ascension, editado a 27 de Janeiro deste ano pela Osmose Productions e no qual basearam o seu alinhamento. E se em estúdio conseguem criar uma atmosfera sufocante, em palco a coisa ganha uma dimensão ainda maior, com os integrantes da banda a entrar em cena encapuzados, de face oculta e um vocalista munido de um véu negro que lhe dava um aspecto um tanto espectral. Era quase como assistir a uma peça de teatro, se a mesma tratasse de representar a morte e o oculto, através de riffs pesados e gritos desalmados.

Costuma-se dizer que o melhor fica para último. Com o acima mencionado Incoming Death ainda relativamente fresco nos ouvidos do público, os Asphyx presentearam-nos logo de entrada com dois temas do álbum, “Division Brandenburg” e “Wardroid”, mas não antes de um pequeno aperitivo com “Vermin”, do álbum The Rack, que serviu de pontapé de saída a um concerto que prometia ser no mínimo devastador. Fora um desfilar de clássicos, novos e velhos, em que os holandeses nos conseguiram mostrar um pouco de tudo o que tinham lançado até então, com a voz rasgada de Martin van Drunen a se dirigir ao público música sim, música não, sempre humilde e sempre agradecendo a calorosa recepção portuguesa. O público, por sua vez, não se mostrou indiferente e movimentou-se agressivamente pela primeira vez na noite, acompanhando as guitarradas da banda com as suas próprias air guitars e gritando bem alto as letras de cada um dos temas tocados.

Houve ainda tempo para visitar o lado mais doom da banda, nomeadamente com “We Doom You To Death” e a já icónica “The Rack”, não esquecendo também o seu lado mais frenético como demonstrado em “Death The Brutal Way” e “Deathhammer”, dos álbuns com o mesmo nome respectivamente. Para o encore, que quase nem pausa teve, muito por culpa da banda que não tem paciência nenhuma para estas pieguices, ficou reservada a “Last One On Earth”, igualmente do álbum com o mesmo nome e do qual já tinham tocado “M.S. Bismarck” e “Asphyx (Forgotten War)”, que terminou o concerto em nota alta. Despedidas e restantes formalidades feitas, o público segue porta fora para ir ao encontro da banda para beber mais uns copos. Sim, porque a despedida em palco fora realmente uma formalidade e a noite ainda se previa longa.

Texto: Filipe Silva
Fotografia de Hugo Rebelo