Ligações de twist e cortadores de cabeças de cavalo a bater palmas ao novo f3st leiriense

No passado dia 6 de janeiro, Leiria estendeu os braços e abriu as portas do Teatro Miguel Franco para receber o primeiro episódio da estreante edição do Clap Your Hands Say F3st!, festival que decorrerá ao longo dos próximos três meses na cidade. A sua criação resultou da parceria conjunta da associação cultural Fade In e das editoras Rastilho Records e Omnichord Records, não fosse o “F3st” despropositado para olhos mais desatentos.

Programado para as 21h30, o pontapé de saída deu-se por volta das 21h50 com Horse Head Cutters, numa sala já composta por mais de 100 cadeiras ocupadas. A banda leiriense deu início à sua atuação com o som da bateria no tema Twisted Twinkle, com ZI Mutt pisando o palco de capuz, sem dar a cara e com os saltos altos já tão conhecidos pelos espectadores da cidade e arredores.

A antecipação cria-se para quem conhece e já viu a banda ao vivo, sabendo previamente que o espetáculo nunca reside apenas na performance vocal insigne de ZI Mutt ou na destreza técnica dos restantes membros constituintes. Apesar de se sentir que o cenário de audiência sentada foi um pouco inusual para a banda (que costuma ter o público a vibrar bem junto dela), a atuação não desiludiu, sendo energeticamente excêntrica e visceral, criando uma performance rica em termos auditivos e abundante em termos visuais.

Cambaleando, arrastando os joelhos, atirando-se sobre a plateia ou com a cabeça debaixo das pernas do baixista, o espaço foi preenchido numa atuação que expulsa a palavra monotonia do vocabulário. Se há algo que não se pode negar na performance do vocalista da banda leiriense: He has some guts! Já no fim com Astonishing Madness, o vocalista tenta sair do palco ainda com o fio enrolado no pescoço, finalizando o ato da personagem em palco criada.

Depois de um curto intervalo para conversa, ida à casa de banho ou um cigarrito para os resistentes ao frio, a segunda rodada de rock estava prestes a começar, com a atuação de The Twist Connection. Se o festival efetivamente traçou como objetivo mostrar alguma da melhor música nova que se faz em Portugal, esse foi solenemente demarcado com o concerto da banda de rock coimbrense, que nos apresentou o seu mais recente disco Stranded Downtown.

Com a mudança de disposição dos instrumentos em palco, tendo a bateria como elemento central e frontal, Carlos Mendes (conhecido como Kaló já há algum tempo por estas bandas) deslocou-se para saudar o público junto da primeira fila. Para testar a resistência das cadeiras do Teatro Miguel Franco, a marcha do rock iniciou-se com Cruisin’ For A Bad Time, com Kaló ao centro cantando e tocando bateria de pé, Samuel Silva na guitarra (The Jack Shits) e as linhas de baixo introduzidas pelo exímio Sérgio Cardoso (Tédio Boys, Wraygun, É Mas Foice).

Antes de tocarem o já êxito Nite Shift, surgiram agradecimentos a alguns elementos que ajudaram na organização do festival e parabenizações a Leiria pela iniciativa criada. Com Long Drive os espectadores percorreram um caminho musical que se fez longo, como o nome indica, acompanhado com gargalhadas geradas pelo discurso do animado Kaló, que foi contando como é que Samuel Silva e Sérgio Cardoso surgiram para a formação deste projeto.

They Are Coming foi o tema dedicado aos A Jigsaw e, se havia dúvidas que a energia do concerto se iria manter, desenganem-se; The Twist Connection manteve as pilhas do público carregadas, público esse que após Turn Off The Radio, música que iria dar término ao concerto, se fez ouvir em uníssono com vozes que imploravam “mais uma!!”. Farto da luta dançante com a cadeira, o público levantou-se e houve quem ocupasse o espaço perto da banda, para poder bater o pé ao som de This Is Not What Never Was.

Texto: Rafaela Calvete
Fotografia: Marina Silva