A fechar uma digressão de cinco datas por Portugal continental, Rodrigo Amarante passou por último pela cidade de Braga e pelo Theatro Circo, para rematar o que foram dois anos de digressão exaustiva após o lançamento de Cavalo, em Maio de 2014. Perante um público bem conhecido – foram afinal muitas as vezes que por cá o tivemos nos últimos tempos –, o icónico cantautor brasileiro entoou temas do agora, do passado e do futuro para o que foi a casa bem mais que composta que se montou para o receber a norte, num formato mais intimista do que nunca.
Mesmo considerada a celebrada carreira que constrói desde os seus tempos de Los Hermanos – parecendo que não falamos já em finais do século passado –, Amarante dificilmente terá deixado muito por tocar no que foi um concerto dividido não só pelo integral do seu disco de estreia a solo, mas por um punhado de canções novas e ainda temas dos seus tempos em Little Joy e Orquestra Imperial. Extremamente comunicador e falador para além do q.b. de sal e pimenta, Amarante cantou sozinho ao piano e à guitarra, explicou-se e explicou cantigas e agradeceu incontáveis vezes aqueles que até lá passaram para o ver.
Cavalo até pode ser um disco simples e humilde, construído por uma espinha dorsal bem definida e descomplicada, mas um cuja instrumentalização refinada o enche dum requinte que o transporta para lá do simplista. Ao vê-lo tocado somente às cordas de um violão, há bem mais que se perde do que aquilo que se ganha, adquirindo este uma passada fugidia, pálida e sem a magia que reluz da sua capa branca. Contando-se pelos dedos os momentos verdadeiramente marcantes – entre estes “The Ribbon”, “Irene” e uma outra cantiga nova tocada ao piano –, foram poucas as canções que resultaram na cerca de hora e um quarto em que Amarante pisou o palco do Theatro Circo. Nem a simpatia descontraída ou a figura afável do carioca foram suficientes para que resultasse tão bem como podia; o cavalo soou cansado ao relinchar sozinho.
Texto: Rui P. Andrade