No que diz respeito à edificação da música ambiental, encontra-se um pilar no nome de William Basinski, muito por culpa do trabalho desenvolvido no disco “The Disintegration Loops“, considerados por muitos uma das obras mais marcantes do género da década passada.
O minimalismo apoiado pela força audiovisual e criado pelas mãos e mente de Basinski terá novo encontro com Portugal, no Amplifest e no Musicbox, já em Setembro. Umas semanas antes da apresentação do seu novo “Cascade“, trocámos umas palavras com o próprio, abordando desde a atmosfera das suas peças ao desenvolvimento do seu processo criativo.
Ruído Sonoro: Não é difícil olhar para as tuas peças e vê-las como algo desoladoras e soturnas. Tanto o “Disintegration Loops” como o “Melancholia” parecem de certa forma carregar esse vulto, no entanto sempre olhei para esses discos como bandas sonoras para o passar da tempestade, como música para os dias melhores que estão para vir. Este é um sentimento que partilhas em relação ao teu trabalho?
William Basinski: Não as vejo dessa forma. Olho para “Desintegration Loops” como algo de profundamente comovente e redentor. Já em “Melancholia” algumas das peças são bastante delicadas, enquanto outras são de certa forma inquietantes.
RS: És capaz de recordar em que contexto pessoal as peças que acabaram por se tornar o “Disintegration Loops” foram gravadas antes de serem postas em contexto pelo 11 de Setembro? O que é que estava a acontecer na tua vida na altura?
WB: Antes do 11 de Setembro estava a ouvir essas mesmas peças e simplesmente a maravilhar-me e a reflectir sobre as paisagens pastorais americanas. Como seria por exemplo a paisagem antes dos europeus terem chegado ao continente, e o quanto essa veio a mudar depois. Nessa altura estava falido e prestes a ser despejado do meu apartamento. Eventualmente recebi mesmo uma nota de despejo no próprio 11 de Setembro! Através de vários milagres acabei por conseguir manter o apartamento durante mais outros 7 anos.
RS: O que é que continua a manter-te motivado como artista? Ainda existem territórios por mapear na música?
WB: Há sempre trabalho por ser feito…
RS: Crês que o aspecto audiovisual duma performance ao vivo tem vindo a adquirir um papel crescente no que diz respeito à música experimental?
WB: Não sou uma autoridade no que é a generalidade do panorama da música experimental. Suponho que o apresentar algum tipo de visuais contribui para a criação duma atmosfera para a contemplação da música, mas é igualmente válido que um indivíduo possa fechar os olhos e ter assim a sua própria experiência pessoal. Vamos colocar a coisa desta forma: fica bem nas fotografias. Não é assim tão entusiasmante olhar para uma pessoa em palco com um portátil no meio do escuro.
RS: O teu trabalho ainda se baseia em loops na sua grande parte. Até que ponto é que os teus métodos de composição e produção mudaram ao longo das décadas? Teve a tecnologia e o processamento digital um papel maior na produção de “Cascade“?
WB: Cada peça é diferente. O processo depende somente do que é preconizado pela génese da ideia. Usamos algum processamento digital na produção de “Cascade“. Foi na verdade complicado com que acabasse a soar exactamente da maneira que pretendia, e foi algo com o qual batalhei durante meses. Finalmente, e com a ajuda do Preston Wendel, o meu engenheiro de som, conseguimos finalmente encontrar o ponto ideal. Estou muito feliz pela forma como tudo acabou por se conjugar.
Entrevista: Rui P. Andrade
William Basinksi is easily one of the most renowned musicians on the ambient music field. His tape-loop and delay build-ups found in “The Disintegration Loops” one of the most important pieces recorded of the previous decade.
His minimalistic works supported by an audiovisual experience will have a new encounter with his audience in Portugal at Amplifest and Musicbox next September. A few weeks before having the chance to witness Basinski’s mind and hands expand his new “Cascade” live, we exchanged some words with him regarding the atmosphere found on his works and also the development of his creative process.
Ruido Sonoro: One could easily look into your pieces and sign them of as desolate or quite grim. “Disintegration Loops” and “Melancholia” do seem to bear such weight. Still I’ve always looked upon them as a soundtrack for the storm passing, as songs for better days to come. Is this a feeling you share regarding your line of work?
William Basinski: I don’t see them that way. The “Disintegration Loops” I found to be profoundly moving and redemptive. In “Melancholia”, some of the pieces are quite tender, others somewhat unnerving.
RS: Do you happen to remember in what personal undertones did the pieces that ended up becoming “Disintegration Loops” where recorded before being put into context by 9/11? What was going on in your life back then?
WB: Before 9/11 I was listening to these pieces and just marveling and thinking about American pastoral landscapes for example how the landscape was before the Europeans came to the continent and how that landscape changed so afterwards. At that time I was broke and about to be evicted from my loft. I eventually got an eviction notice on September 11th! Through various miracles, I was able to keep the loft for another 7 years.
RS: What keeps you going as an artist nowadays? Are there uncharted territories in music, still?
WB: There’s always work to do…
RS: Do you find that the audiovisual aspect of live performance has been taking and increasingly major role especially in experimental music?
WB: I’m not an authority on the overall experimental music scene. I suppose having some kind of visuals can help create an atmosphere for contemplating the music. But one can simply close one’s eyes as well and have an individual experience. Let’s put it this way: it’s good for pictures. A person onstage in the dark with a laptop is not so exciting to look at.
RS: Your work still relies heavily on loops but at what extent did your recording process change throughout the decades? Did technology and digital processing have a bigger role in the recording of “Cascade“?
WB: Each piece is different. The process depends upon what is called for by the initial spark. We did use some digital processing in the recording of Cascade. It was actually quite a struggle to get it to sound the way I wanted and I struggled with it for months. But finally with the help of my engineer, Preston Wendel, we managed to find the sweet spot. I’m very happy with the way it turned out.
Interview: Rui P. Andrade