Em «celebração» da 333ª noite (negra) de 2014 o Angels’ Place, em Almada, voltou a receber uma noite de Black Metal desta feita com um dos representantes maiores do género em Portugal: Corpus Christii. A abrir os bem mais recentes Scum Liquor.
Foi precisamente à hora prevista que o assalto começou: Punk na atitude empedrenido com as mais variadas influências extremas vindas do Metal. A violência foi a nota dominante com os riffs podres e as vociferações vindas do esgoto a serem acompanhadas com um atropelo de bateria como não aparecem muitos. Será de bom tom ouvir Scum Liquor ao vivo antes de se referir seja quem for como um baterista poderoso. A actuação sublinhou o EP lançado em Junho deste ano, Vicious Street Scum, e que faz jus ao título: pancadaria com espaço nulo para qualquer graciosidade. Do lixo e para o lixo.
De uma outra dimensão, Corpus Christii. Com uma carreira já bem longa e que conta com seis álbuns (entre vários outros lançamentos), as possibilidades de apresentação da banda são diversas, especialmente tendo em consideração a forma como CC foi apresentando diversas facetas conforme os anos foram passando. Isto, sem perder um certo Norte (ou Sul…) no que diz respeito ao objectivo primordial do projecto hoje e sempre liderado por Nocturnus Horrendus.
Desta feita a abordagem acabou por ser bastante balanceada e apesar de mais ou menos atalhado a partir do segundo terço do concerto, todos os longa-duração acabaram por estar presentes no alinhamento. Desde “Penetrator” e “The Fire God” do segundo trabalho até “Stabbed” de Rising e passando pelo final em apoteose caótica com “All Hail” do álbum de estreia, houve de tudo um pouco no que diz respeito a momentos marcantes da carreira da banda fundada em 1998. Obviamente que isto acabou por reduzir a presença do último trabalho (datado de 2011), ao contrário do que vem sendo habitual.
No entanto e para «compensar», aquela que é a fase de transição (e muito possivelmente a mais bem conseguida) de Corpus Christii em algo mais substantivo do que velocidade e brutalidade teve bem presente com três temas: “Arising From The Ashes” e “Me, The Hanged One” de Tormented Belief e “Crimson Hour” de The Torment Continues foram destaques muito naturais na medida em que muito (embora não tudo) do que há de grandioso da carreira de CC (e por maioria de razão no Black Metal nacional) se concentra precisamente nos dois referidos trabalhos.
Texto: Filipe Adão
Fotografia utilizada: Peter Slaughter (não relativa a este concerto)