«After a certain amount of takes you can almost hear, faintly in the background, you can hear previous takes […] On tape, the purpose is to capture raw energy.», dizia, um dia, Bret Constantino, o frontman do quinteto Sleepy Sun, ao TheBayBridge, sobre o apreço da banda pela gravação analógica. Não se enganou. “Maui Tears”, editado em inícios deste ano pela Dine Alone e já o quarto álbum do grupo, inteiramente gravado analogicamente, captura perfeitamente essa energia primitiva e espontânea a que se refere. Foi precisamente esse assalto de som orgânico, e essa energia psicadélica que tomou a meia-sala bem composta do Musicbox um dia antes do seu rumo ao Ribatejo, para uma segunda actuação em território nacional, no festival Reverence Valada.
Já quase que não é novidade que muito sangue novo se tem injectado no novo psicadélico, e a fórmula do grupo californiano não é mais do que bem certeira neste revivalismo. Quase em simultâneo, tanto nos assaltam o ouvido com camadas de riffs gritantes e compassos rítmicos poderosos – ‘White Dove’, oriunda dos primórdios de “Embrace”, abriu as honras em grande, esbatendo-se lá para o final na outra parcela da fórmula: uma atmosfera nebulosa, fantasiosa, onde os riffs acalmam para dar lugar a ritmos esparsos, quentes, longas braçadas lânguidas envoltas na distorção das guitarras e, pelo fundo, a voz reverberada de Bret. ‘Desert God’, do disco “Fever” a puxar para o western americano com os toques de harmónica pelo meio, ‘Outside’, ainda recém-chegada de “Maui Tears” e ‘New Age’, a fazer as honras do fecho, jogam na defesa deste lado do fuzz nebuloso e da distorção hipnotizantes, meio romantizadas, contra o abalroo electrizante de ’11:32′, ‘Galaxy Punk’ ou ‘Maui Tears’, já a soar com todo um potencial de malha de stoner-rock psicadélico, todas estas da fornada do último registo.
‘Sandstorm Woman’, de “Fever”, embora a faltar o toque feminino da voz de Rachel Fannan, ex-integrante da banda, foi sem dúvida o pico desta quase hora e meia de concerto. A canção que bem resume os dois lados desta fórmula, o rock psicadélico electrizante entrecortado pelo fuzz esparso e hipnotizante, uma recordação da energia primitiva do passado, e o elo de ligação certo para a fórmula transparecida em “Maui Tears”, desta vez mais aprumada e amadurecida.
Fotografia e Texto: Telma Correia