Entrevista especial Santa Maria Summer Fest: «Esta edição será como que o ano zero»

O Santa Maria Summer Fest oferece a Beja a sua quinta edição e, provavelmente, a mais decisiva até à data. As cartas estão lançadas na mesa: há dois palcos, há nomes como Extreme Noise Terror, Filii Nigrantium Infernalium e Rompeprop e há muita diversidade na música extrema representada no Baixo Alentejo. Fizemos algumas perguntas a Vítor Paixão, organizador do festival, de forma a compreender melhor a abordagem do Santa Maria Summer Fest em 2014.

O V Santa Maria Summer Fest acontece nos dias 6, 7 e 8 de Junho de 2014 e o seu cartaz, com o programa dividido por palcos e horários, pode ser consultada na nossa página alusiva ao festival – aqui.


Ruído Sonoro: A edição de 2013 parece ter sido um sucesso. Assume-se tal informação? Que balanço se faz do impacto do evento sobre Beja?

Vítor Paixão: De facto foi, porquanto se já na anterior tinha havido bastante público, na de 2013 superou todas as expectativas; depois porque arriscámos no formato de 3 dias e foi uma aposta ganha, para além de que se tratou da internacionalização do festival; finalmente, tive depois a oportunidade de falar com os comerciantes da zona, nomeadamente da restauração e da hotelaria e constatei que de facto tinha contribuído significativamente para a economia local, o que nos deixou bastante satisfeitos.


RS: Foi dado um importante passo para a futura colocação de Beja na rota das tours de bandas nacionais?

VP: Sem dúvida que sim, a partir do momento em que pessoal do meio te diz e escreve que o SMSF é o festival em Portugal com maiores possibilidades de crescimento… por um lado isso deixa-te  bastante satisfeito, mas por outro ficas com um peso nos ombros que nem te conto e, de facto, ficámos com a percepção que o SMSF contribuiu significativamente para colocar Beja na rota dos festivais de verão, da música extrema em particular, por incrível que pareça, não só (e principalmente) das bandas nacionais, mas também de muitas internacionais que nos contactam.


RS: Este ano a aposta parece aumentar, novamente. Existem agora dois palcos, mais nomes e maior alcance do nome do evento ao público. Como aconteceu?

VP: Sim, e de que maneira! Quanto aos 2 palcos tal surge porque para além das bandas para o palco principal, muitas outras queriam estar presentes, pelo que foi uma forma de não só de lhes dar essa possibilidade, de se mostrarem, como também manter a essência do SMSF que tem como principal objectivo apoiar e promover o underground nacional; contudo, pelo crescimento do festival não nos é possível, por diversos motivos, ter todas as bandas no palco principal, pelo que o palco secundário surgiu como necessidade de dar resposta à procura e manter o espírito do festival, assente no ecletismo musical.


RS: Este ano trata a primeira edição do SMSF sem entrada livre. Ainda assim, o seu custo total parece baixo tendo em conta a oferta. Isto deve-se a esforços da organização para que o festival continue a ser acessível à maioria?

VP: Claro, nem poderia ser de outra forma, pois queremos manter o SMSF como um festival “low cost”, “anti-troika”, pelo que o nosso único objectivo é recuperar o investimento efectuado e ajudar a delegação de Beja da Cruz Vermelha Portuguesa e, caso ainda assim tenhamos receita, a mesma será para a próxima edição; a nossa única intenção é de facto promover o metal e os restantes subgéneros ou outros géneros de música alternativa, mais ou menos extrema, colocar Beja como ponto de encontro e dar a oportunidade aos locais e de fora da nossa terra a poderem estar presentes num evento único, culturalmente diferente, mas criado a pensar em todos quantos se revêem nesta subcultura musical e social e que continuamente são excluídos ou esquecidos pelo facto da oferta cultural ser quase sempre mais… e do mesmo.


RS: Depois de Doom, em 2013, é agora a vez de Extreme Noise Terror. O crust volta subir ao topo do cartaz – é uma aposta na continuidade do formato?

VP: Não sei, vamos ver, o objectivo inicial, assim que conseguimos DOOM, seria chegar aos 3 grandes do Crust, nomeadamente EXTREME NOISE TERROR e AMEBIX, mas como estes últimos estão inactivos teremos que ver; vejamos como vai correr esta edição.


RS: Para além dos míticos Extreme Noise Terror, há também mais meia-dúzia de argumentos vindos do estrangeiro. Quem são e como surgem no contexto do festival?

VP: São um total de 7 bandas, donde se destacam os Rompeprop, da Holanda, sem dúvida uns dos reis do Goregrind; Death By Armborst, da Suécia; Cubo de Mierda, de Espanha; Smashing Dumplings, da República Checa; e mais umas quantas vindas do país vizinho; umas por contactos nossos, outras por contacto delas, umas em tour, outras em exclusividade, enfim, o importante é tê-las cá e destacar o facto de haver cada vez mais bandas estrangeiras a querer vir ao SMSF e nem te conto a lista de pedidos para a próxima edição!


RS: Este ano o SMSF conta com apoios privados mas, ainda assim, mantém a sua ligação de cariz social. É uma boa relação que deve continuar?

VP: O SMSF conta com apoios privados, públicos (Autarquias da cidade) e com um investimento nosso, da Associação CulturMais, criada propositadamente para dar continuidade ao festival; será objectivo da nossa Associação, sempre que possível, atribuir um cariz social às nossas iniciativas e desta vez será de novo à delegação de Beja da Cruz Vermelha Portuguesa mediante a entrega de toda a receita resultante da venda do café, dinheiro esse que será utilizado para a aquisição de bens alimentares ou equipamentos. É uma boa relação como poderá ser no futuro com outra entidade, neste caso também a Cruz Vermelha gentilmente nos cede as tendas onde ficará o merchandise, pelo que se trata de uma parceria, mas independentemente disso teríamos sempre uma componente social associada ao festival, pois entendemos que a música é um excelente catalisador para chegar aos que mais sofrem, aos que mais necessitam, aos que têm fome e passam frio na medida em que quem o deveria fazer não o faz.


RS: Por fim – as expectativas aumentaram para esta edição?

VP: Claro, e muito, esta edição será como que o ano zero, ou corre bem e teremos SMSF no futuro, ou corre mal e teremos que parar, tão simples quanto isto.

Entrevista por Nuno Bernardo.

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