Este é um artigo, relativamente, especial, já que apresenta um lançamento que não é um álbum mas uma série deles. Saga é uma banda de rock progressivo canadiana que ao longo de quase quatro décadas de história tem sido “posta de parte”, por muitos dos críticos profissionais e fãs de rock progressivo. Talvez por ser difícil de a caracterizar, Saga tem tido um percurso com altos e baixos, e apesar de não a considerar uma banda subvalorizada, reconheço que merecia mais reconhecimento pelos seus lançamentos. Pessoalmente, é uma das minhas bandas predilectas, e atinge neste The Chapters o apogeu de mestria musical, com a composição do único puzzle conceptual da história do rock.
Saga – 1978-2003 – The Chapters
Ao longo de sete álbuns, o grupo canadiano apresenta-nos o único puzzle conceptual da história do rock, cujo conceito se centra na Guerra Fria. Quase todo o álbum aborda temas como a tecnologia, ficção científica, extraterrestres ou até a ressuscitação através da tecnologia. Apesar deste ser o seu principal conceito, os sentimentos de perda, desgosto, miséria e contemplação integram grande parte desta narrativa. O grupo tem como grande prioridade apresentar, ao ouvinte, as falhas do Homem na proliferação da tecnologia e da indústria, principalmente no que na Guerra diz respeito, e a forma como falhou no desenvolvimento do respeito e preservação das relações humanas.
A capa do disco, abaixo apresentada, é do álbum ao vivo, lançado em 2005, onde o grupo dedicou uma tour a esta obra-prima musical. Não existe uma capa definida para os The Chapters, no entanto parece-me que esta escolha de capa será o mais próximo que teremos de ter uma representação visual do puzzle. É muito difícil classificar as exibições de cada membro, ou a qualidade da produção, já que os 16 capítulos estão divididos entre sete álbuns.
Lista de faixas para The Chapters:
01. Images (Chapter 1)
02. Don’t Be Late (Chapter 2)
03. It’s Time (Chapter 3)
04. Will It Be You? (Chapter 4)
05. No Regrets (Chapter 5)
06. Tired World (Chapter 6)
07. Too Much to Lose (Chapter 7)
08. No Stranger (Chapter 8)
09. Remember When? (Chapter 9)
10. Not This Way (Chapter 10)
11. Ashes to Ashes (Chapter 11)
12. You Know I Know (Chapter 12)
13. Uncle Albert’s Eyes (Chapter 13)
14. Streets of Gold (Chapter 14)
15. We’ll Meet Again (Chapter 15)
16. Worlds Apart (Chapter 16)
O início da história não é o seu início mas algo entre o 14º e 15º capítulos, em “Images”, um homem, que poderá ser a representação metafórica de toda a vida humana no pós-guerra, desolado e sem esperança desenha representações no chão, a giz. “Don’t Be Late”, o seu maior sucesso comercial, e “It’s Time” conseguem ser mais agressivas, iniciando a narrativa, num tempo de batalha e combate, em que máquinas representam homens que são “construídas” (instruídas) para matar numa Guerra sem sentido. Já em “No Regrets”, o quinto capítulo e uma das mais emocionais do puzzle, relata a tarefa de “reconstrução” após uma dura batalha. Quase toda a história circula em torno da tristeza e contemplação, como é o exemplo do 10º capítulo, “Not This Way”, em que um ‘cientista’ se arrepende dos seus erros do passado, magicalmente interpretada por Jim Gilmour. O 16º capítulo, curiosamente com o mesmo nome do seu quarto álbum de estúdio, leva-nos para um caminho de esperança de uma ‘nova vida’ em mundos separados.
Este não é a primeira composição conceptual do grupo canadiano já que, em 1995, Saga lança Generation 13, outro épico sobre a preservação das relações humanas e evolução tecnológica. Mas é neste puzzle que Michael Sadler e companhia demonstram maior inteligência e criatividade, conseguindo manter “presos” os ouvintes, numa história por demais complexa de manter durante 25 anos. Com inteligentes referências à Guerra Fria, tecnologia e a Albert Einstein, na faixa “Uncle Albert’s Eyes”, entre outras, o grupo consegue compor um dos mais complexos conceitos da história da música, com diversas interpretações. É, ainda hoje, alvo de diferentes perspectivas pelos fãs da banda e alguma crítica profissional.
Saga – The Chapters (puzzle conceptual na íntegra)
// João Braga