FUNDAMENTAIS DO PROGRESSIVO: Mirage e Dogman

Duas bandas completamente diferentes uma da outra, e com estilos de rock progressivo bastante distintos, mas ambas têm, ainda hoje, uma importância ímpar no desenvolvimento deste género musical.

Camel – 1974 – Mirage

Camel é uma daquelas bandas que foi criando um estatuto mítico e de culto, sem ter tido relevante sucesso comercial, e que apesar de ainda estar no activo, apenas os fãs mais acérrimos do grupo e do rock progressivo continuam a estar atentos à banda. O último disco do grupo, intitulado A Nod and a Wink, foi lançado em 2002 e apesar de ser bastante credível, está bastante longe do clássico que vos quero, aqui, apresentar.

Mirage é um dos discos essenciais para os fãs dos Camel, onde o grupo atinge o seu pico de performance e criatividade. Na minha opinião, este lançamento é a mais completa demonstração da capacidade dos britânicos, e apesar de ter mais dois ou três, verdadeiramente, fundamentais para o progressivo, este Mirage consegue sobrepor-se aos restantes.

Lista de faixas para Mirage:Mirage
01. Freefall
02. Supertwister
03. Nimrodel/The Procession/The White Rider
04. Earthrise
05. Lady Fantasy

Com, apenas, cinco faixas, o disco consegue ter quase 40 minutos de duração, em que duas dessas músicas têm mais de 9 minutos, “Nimrodel/The Procession/The White Rider” e “Lady Fantasy”, ambas conceptuais. As duas épicas estão divididas em três partes diferentes interligadas entre si, formando uma só faixa. “Supertwister” e “Earthrise” são instrumentais, nas duas o grupo liberta-se para executar uma “jam”, em que vários instrumentos diferentes dominam, e é clara a capacidade que o grupo tem de os encaixar numa só faixa, deixando a sua “criatividade voar” e compondo um par de músicas, instrumentalmente, formidáveis. “Freefall” é cantada por Peter Bardens, o líder das teclas, onde o arranjo instrumental tóxico e a melodia da voz de Bardens e a inteligência da letra fazem esta uma das grandes faixas dos Camel.

A produção não é espectacular, nem é suposto ser. Um álbum de rock progressivo/psicadélico como este necessita de algo assim, com um certo nível de primitividade e com poucos “floreados” de produção. O álbum é muito consistente e muito perto da perfeição, é claramente um dos grandes lançamentos dos anos 70, com Andrew Latimer, o fundador dos Camel, e Bardens a terem o papel mais determinante para o sucesso deste disco.

Camel – Mirage (álbum na íntegra)

King’s X – 1994 – Dogman

Dogman é um dos melhores resultados musicais do trio americano, King’s X. Conseguiu ter uma das maiores projecções comerciais da carreira do grupo, e assinalou o início de uma direcção musical mais pesada, mais inclinada, muitas vezes, para o heavy metal. Confesso que não é um álbum de rock progressivo, como o de Camel por exemplo, e que os estilos, aqui apresentados, estão bastante afastados da típica complexidade e grandiosidade do rock progressivo. Dogman é um álbum de hard rock e metal progressivo, que apesar de não ter o mesmo som de Lateralus ou A Pleasant Shade of Gray (anteriormente mencionados num dos Fundamentais) pode, ainda assim, estar no mesmo patamar. King’s X consegue incutir a sua própria identidade, e manter um metal progressivo que só eles têm a capacidade de executar.

Lista de faixas para Dogman:
01. DogmanDogman
02. Shoes
03. Pretend
04. Flies And Blue Skies
05. Black The Sky
06. Fool You
07. Don’t Care
08. Sunshine Rain
09. Complain
10. Human Behavior
11. Cigarettes
12. Go To Hell
13. Pillow
14. Manic Depression

As faixas “Black the Sky”, “Flies and Blue Skies”, “Dogman”, “Cigarettes” e “Human Behaviour” são as mais óbvias de metal progressivo, e apesar de não terem longas demonstrações instrumentais e muitos minutos de duração, conseguem demonstrar um tipo de progressivo que só o trio consegue compor. A banda americana sempre esteve e estará conectado ao progressivo, mesmo sendo este disco uma mistura entre hard rock e metal progressivo. São considerados os pioneiros do rock cristão, graças aos três primeiros álbuns, muito devido às muito profundas composições líricas, que analisam aspectos obscuros da vivência humana e temas como a religião, o grupo está desde o seu disco de estreia ligado ao rock e metal progressivo. Na grande maioria dos seus discos, o funk desempenha uma forte influência, com este Dogman a não ser excepção.

King’s X –  Dogman (álbum na íntegra)

// João Braga