Entrevista a ENSLAVED

A propósito do lançamento do muito aclamado RIITIIR (2012), o décimo segundo álbum dos noruegueses Enslaved, conversamos com Grutle Kjellson e Ivar Bjørnson.
Ruído Sonoro: Lançaram recentemente mais um álbum, RIITIIR, que tem recebido óptimas críticas por parte dos fãs e dos críticos. Na verdade, tem sido apontado por diversas vezes como um dos melhores álbuns de 2012. Como é que se sentem em relação a isso?

Grutle: O que é que hei-de dizer? É óptimo seres apreciado por aquilo que fazes, especialmente porque nunca fizemos letras ou música com um certo propósito, ou para uma audiência específica. Isto é 100% Enslaved, e apenas Enslaved. Tem a ver com acreditarmos nas nossas próprias capacidades e atrevermo-nos a ir com a corrente, e a ver onde é que as coisas acabam naturalmente. Estamos muito satisfeitos com o resultado dos nossos esforços, e é muito bom que os fãs e os críticos sintam o mesmo.

RS: Este álbum foi novamente produzido por membros dos próprios Enslaved. Porém, desta vez, incluíram também uma pessoa de fora da banda. Como é que isso foi para vocês?

Grutle: Penso que foi muito saudável. O Iver Sandøy (o quarto membro da equipa de produção) é um velho amigo nosso. É um grande amigo, e atreve-se sempre a ser 100% honesto connosco, e deixa muito claro o que é que é confortável para ele e o que é que não é. Somos um bando de gente teimosa de meia-idade, por isso foi óptimo ter-mos alguém que se atreve a discordar de nós de vez em quando, ao longo do processo. O contributo do Iver foi crucial para o resultado final. Ele tem uma forma única de abordar a música, que difere da forma como nós a vemos. Foi um sucesso, e muito provavelmente iremos incluí-lo, também, no próximo álbum.

RS: Durante algum tempo as gravações decorreram simultaneamente em três sítios diferentes. Como é que geriram isso tudo?

Ivar: Não é a coisa mais fácil de fazer, precisas de um plano sólido e de produtores com experiência prática para que o consigas fazer (e nós tivemo-lo, durante grande parte do tempo). Houve alguns problemas menores, para ser sincero. O Arve e o Herbrand estão habituados a trabalhar no seu próprio estúdio, e suponho que fazer parte de uma produção tão fragmentada, com múltiplos estúdios, tenha sido um desafio para eles. Por causa disso,  tiveram de refazer algumas coisas, devido a alguns mal entendidos que aconteceram nos outros estúdios, o que causou alguns pequenos atrasos e falhas no financiamento, mas nada de muito relevante. Na nossa equipa de produção, a minha tarefa é a de servir de ligação com a parte da produção executiva (management), por isso, em última análise, sou eu quem tem de arcar com a responsabilidade. É uma curva de aprendizagem, e da próxima vez terei de clarificar e exigir mais detalhes acerca os planos e informações! Ainda tenho muito para aprender…

RS: Consideram que o facto de se terem tornado nos vossos próprios produtores, foi um passo importante e decisivo para a banda? O que é que fez com que tomassem definitivamente esta decisão?

Ivar: Absolutamente! Penso que talvez tenha sido passo mais importante, não falando do que aprendemos com o Joe Baressi durante a mistura do álbum Vertebrae, em 2008. Ele basicamente ensinou-nos, usando termos simples, o que era preciso fazer para atingir o som que estávamos à procura. Ao mesmo tempo, cheguei à conclusão de que estávamos prontos para tentarmos formar uma equipa de produtores dentro da própria banda. Eu diria que, ao fim destes anos todos, eu e o Gruntl criámos uma visão suficientemente clara, e o Herbrand tinha atingindo um conhecimento forte o suficiente – tudo junto, estávamos prontos para sermos nós próprios a fazê-lo. E isso acabou por ser a melhor decisão que poderíamos ter tomado!

RS: Qual é o conceito existente por detrás de RIITIIR, e qual foi a razão que vos levou a escolher esse nome?

Grutle: O título é uma pequena construção minha e do Ivar, e é uma palavra inventada que quer dizer qualquer coisa como “Os rituais do homem”. As letras estão unidas livremente num conceito que diz respeito aos instintos humanos mútuos/comuns. É um olhar sobre as várias semelhanças que consegues encontrar em diferentes culturas e mitologias por todo o mundo. Pessoas de locais geograficamente diferentes, sem comunicação entre em si, parecem partilhar quase os mesmos deuses, representando as mesmas forças, apenas sob nomes diferentes. Por isso, é justo dizer, que partilhamos algum tipo de plataforma metafísica e ancestral que é comum. Partilhamos o mesmo medo irracional, e a mesma tendência para algo mais divino do que a própria humanidade. Por isso, as letras são sobre como a humanidade sempre procurou por uma compreensão mais profunda.

RS: Desta vez fizeram um álbum muito longo, por considerarem que não havia nada que quisessem cortar. Foi difícil tomar essa decisão?

Ivar: Na verdade, foi um bocadinho o oposto… Foi uma questão de vários elementos que sentimos necessário incluir, de modo a sentirmos que o álbum estava completo. Foi mais depois de ter descoberto quão longo estava o álbum. Depois, o álbum estava completo e não havia forma de deixar alguma coisa para trás – cada riff e cada música tinha-se tornado um órgão vital para o funcionamento do corpo em que se tinha tornado o álbum.

RS: O vosso som tornou-se muito diferente das músicas que costumavam fazer (nos anos 90). Sempre souberam que queriam seguir um caminho mais “progressivo”?

Ivar: Nunca foi um desejo explícito tornarmo-nos mais “proggy” ou mais “raw”, ou qualquer coisa do género. É tudo o resultado de como as coisas seguiram. Somos amantes de música; ouvimos todos os géneros de música e somos influenciados por eles. A nossa única ambição tem sido a de criar a melhor música possível para as nossas próprias cabeças e ouvidos. Suponho que simplesmente “aconteceu” que a direcção que tomámos foi a que foi tomada, sendo que esta é a música que sentimos ser a certa para nós a um nível pessoal. Nunca houve um ponto em que uma direcção musical específica tenha sido decidida e verbalizada. Penso que essa seja uma razão para o facto de a música soar “fresca” e honesta. Nós vamos para onde a música nos leva, e não o contrário.

RS: Há muita gente que costuma pedir-vos para tocarem as vossas músicas mais antigas (do primeiro álbum e do EP). Sentem que tem havido alguma resistência em relação ao vosso som mais recente?

Grutle: [Risos] A resistência não é sempre algo positivo? Bem, nós tocamos uma data de músicas antigas, por isso acho que satisfazemos toda a audiência. Mas a maioria da nossa audiência hoje em dia, parece apreciar todas as coisas que tocamos. Na nossa recente viagem aos EUA/Canadá em Fevereiro, a situação foi a oposta . O número de pedidos por músicas novas foi muito maior do que por canções antigas. Sei que há sempre uma data de tipos que apenas gostam das coisas antigas, independentemente do concerto a que vão, mas penso que isso seja inevitável [risos].

RS: Estiveram recentemente em tour pelos EUA. Como é que correu?

Ivar: Incrível, mesmo incrível! Houve um desenvolvimento soberbo para nós nos EUA – temos tido a sorte de puder contar com uma excelente colaboração entre o nosso agente nos EUA (Nick Storch/ ICM) e o nosso manager (Tonje Peersen/ Peersen Production), que têm vindo a construir sólida e lentamente o nosso nome na América do Norte, desde 2009. E agora começa a ver-se que o trabalho deles, juntamente com os nossos esforços, está finalmente a compensar. A última tour que fizemos agora em Fevereiro foi incrível, em termos de resposta e resultados!

RS: Em Maio, vão tocar pela primeira vez em Tel Aviv. Estão entusiasmados com isso?

Grutle: Claro! Ouvimos muitas coisas boas sobre Tel Aviv e sobre o metal Israelita, e nunca nenhum de nós esteve em Israel antes, por isso será sem dúvida um dos grandes momentos deste ano. Gostamos sempre de tocar em países onde nunca tocámos antes.

RS: Têm planos para o futuro? Já sabem o que é que vão fazer a seguir?

Ivar: Vamos andar em tour pela Europa, durante Março e partes de Abril. Depois há os festivais e provavelmente mais tours durante o Outono e o Inverno. E obviamente, a determinado ponto, entre isso tudo, estaremos a escrever novo material!

 Entrevista por Rita Cipriano.