Entrevista aos Brain Dance

RUÍDO SONOROOs Brain Dance começaram como uma banda de covers em 2008. Quais os artistas que mais tocavam?
Brain Dance: Como banda de covers as nossas apresentações eram diversificadas, devido ao facto do line-up da banda na altura ser constituído exclusivamente por alunos da mesma escola de música. O alinhamento dos concertos era constituído fundamentalment pela músicas (matérias) que nos eram ministradas, mas assentava essencialmente em Iron Maiden, Metallica, incursões ao punk com a integração de temas de The Offspring, passando também por Bon Jovi e tendo inclusive temas de Xutos e Pontapés.

RSQuando e como surgiu a decisão de começarem a fazer temas originais?
BD: Passadas as primeiras apresentações e durante os ensaios que efetuávamos, começámos a “perceber” que o ser “banda de covers” não chegava. Começávamos a ocupar o tempo em que nos juntávamos mais preocupados em explorar outras sonoridades e riffs de produção própria do que a ensaiar os covers, começando então a introduzir no alinhamento dos concertos “malhas” de nossa autoria, que tinham boa recetividade de quem assistia. Este facto “obrigou-nos” à transformação da banda, quer nos trabalhos apresentados, quer na alteração dos elementos, uma vez que o projeto começou a ficar mais “sério”.

RSAcham que o facto de terem começado como banda de covers, tocando artistas com diversas sonoridades, foi um fator decisivo para a vossa sonoridade ser tão variada?
BD: Sim, sem dúvida, aliando também a esse facto a integração de diversos elementos com influências diferentes. No princípio a banda era uma realidade “aberta”, com alterações sucessivas no seu line-up. Éramos todos miúdos com 15-16 anos e nem todos tinham como objetivo “ser músicos profissionais”. Estas entradas e saídas faziam enriquecer o “catálogo” e o “património” de sonoridades da banda.

Começámos a “perceber” que o ser “banda de covers” não chegava. Começávamos a ocupar o tempo em que nos juntávamos mais preocupados em explorar outras sonoridades e riffs de produção própria.

RSInheritance foi pensado como um álbum (“vamos fazer um álbum!”) ou foram temas que foram surgindo até que deram para um disco completo (“olhem, já temos músicas suficientes para um CD!”)?
BD: Foi um trabalho consciente, efectuado ao fim de 4 anos de existência da banda, já com algumas dezenas de concertos efectuados, que eram o meio essencial que usávamos para promover o nosso som. O Inheritance não apareceu de geração espontânea do género “já temos material, vamos gravar”. Queríamos fazer um trabalho inicial com qualidade, que identificasse os Brain Dance e que fosse uma âncora e uma realidade positiva para o nosso futuro.

RSQuais as temáticas que abordam neste trabalho?
BD: Apesar de não querermos liderar nenhuma revolução, queremos contribuir para uma maior consciência social. Parece-nos que a realidade que hoje nos atinge “obriga” os músicos a trabalhar os aspetos das mensagens que querem transmitir fazendo “malhas” para além do aspeto lúdico da questão. O Inheritance tenta ser, genericamente, um retrato musical do quotidiano e do porquê de estarmos na situação actual, da herança que é legada a uma geração que vê destruídos os seus sonhos logo à nascença, e ao mesmo tempo, pensamos nós, tenta ser também um grito de alerta para nos “revoltarmos” com a situação, enaltecendo lutas de povos nas suas conquistas pelos direitos e democracia, que não tiveram medo de carregar às costas, com sangue e morte os seus ideais, conseguindo “vitórias” e alterando os seus rumos, factos que nos têm de servir de farol para no nosso cantinho fazer alguma coisa. Basicamente o Inheritance é um trabalho de Metal, que é a nossa fé, mas que tenta não ficar à parte das maldades que nos fazem!!!

RSComo tem sido a receção do público ao vivo?
BD: Tem sido muito boa, a banda ainda não tem uma grande legião de fãs, mas quem aparece nos nossos concertos, alguns ao engano, ficam surpreendidos e fazem questão de o demonstrar como foi o caso no concerto que efetuámos no Side B, na 1ª parte da apresentação dos Tankard e dos Web, em que o feedback do pessoal foi BRUTAL!!!

O Inheritance tenta ser, genericamente, um retrato musical do quotidiano e do porquê de estarmos na situação actual, da herança que é legada a uma geração que vê destruídos os seus sonhos logo à nascença.

RSJá têm planos para o futuro a nível de novo material? Está previsto algum videoclip?
BD: A nossa forja tem malhado muito material, que vai ficando pronto para embalar. Os videoclips estão sempre previstos, mas as nossas “malhas” são grandes em extensão, o que se torna “um problema” para a produção dos mesmos. Alguns temas seriam quase “curtas-metragens” e, ainda não temos orçamento para as efectuar com a qualidade que pretendemos. Os Brain Dance estão numa editora recente, a Hell Hot Hell Multimédia, num projeto pioneiro em Portugal, que está como nós a procura de massa crítica para poder a médio prazo ter a capacidade de “ajudar” as bandas do seu catálogo. Aguardemos.

RSQual consideram os principais obstáculos que uma banda nova enfrenta no nosso país?
BD: Enfrenta todos! Para uma banda em “início de carreira” tudo é obstáculo. Mas o principal é a falta de apoio na divulgação do trabalho e do facto de a “música” não ser ainda considerada como trabalho, mas sim distração. Nenhum banco empresta capital para desenvolver uma “banda” mesmo que esta tenha perspectivas de exportação e apresente um plano estruturado. Gastam-se verbas milionárias em apresentações internacionais que muitas vezes as bandas que compõem os cartazes nem os “serviços mínimos” efetuam e, o apoio à produção nacional é mínimo, apesar de existirem iniciativas como a da vossa página que tentam remar contra a maré.

RSCom quem gostariam de partilhar o palco?
BD: O Metal é no palco que se “ouve”!! Nós o que queremos essencialmente é tocar, apresentar o nosso trabalho, por isso temos gosto de partilhar o palco com quem nos convide. Mas não fugindo à questão, do nosso ponto de vista, o Metal em Portugal, apesar da crise, está a atingir um nível de qualidade que pouco difere do melhor que se faz por esse mundo fora, com bandas nacionais a fazerem grandes prestações nos eventos para que são chamadas, não destoando dos “grandes nomes” que integram esses cartazes, pelo que gostávamos de poder ter a oportunidade de “malhar” ao lado das grandes bandas nacionais, não mencionando nomes para não sermos injustos. Claro que, como todas as bandas, gostaríamos de nos apresentar ao lado daqueles que são as nossas “influências” em cartazes de projeção internacional. Quem sabe… Talvez um dia.