Esta é uma série de artigos relacionados com bandas ou artistas que foram sido esquecidos na indústria musical, principalmente, nas áreas de rock e heavy metal. É uma tentativa, espero eu bem-sucedida, de tentar dar a conhecer algumas das preciosidades que os estilos mencionados acima têm para oferecer. Esta primeira publicação é referente a um dos artistas mais subvalorizados da história do rock. Refiro-me a um guitarrista que para muitos é apenas conhecido como o substituto do mestre dos mestres Ritchie Blackmore nos icónicos Deep Purple, falo pois claro de Tommy Bolin.
Este extraordinário guitarrista nascido no Iowa começou a sua carreira ainda muito jovem numa banda chamada Patch Of Blue, Bolin tinha ainda treze anos quando entrou para banda o que provocou o seu rápido amadurecimento nos palcos. Patch Of Blue tocava uma mistura de rock & roll, R&B e pop tendo conseguido algum destaque comercial com três ou quatro “hits”. A sua carreira musical continua com uma passagem de três anos (1968-1971) pela banda de hard rock/blues rock Zephyr que tinha claramente um som mais parecido com aquilo que Bolin iria tocar ao longo da sua carreira. Zephyr tinha como vocalista a excelente voz de Candy Givens que deu uma grande intensidade e pujança ao som da banda. Apesar do lançamento com a banda de dois álbuns Tommy Bolin sentia-se frustrado por não ver as suas composições nos discos e por não se sentir devidamente valorizado no grupo pelo que decidiu abandonar os Zephyr em 1971 para formar a sua própria banda.
Agora dono do seu destino musical e com a responsabilidade criativa “nos seus ombros” Bolin juntamente com um ex-membro dos Zephyr Bobby Berge apresentam um projecto musical (Energy) mais sólido misturando jazz, rock e blues com forte predominância para os criativos riffs e solos de Tommy Bolin. Infelizmente, muitas destas gravações só puderam ser ouvidas após a sua morte numa compilação de arquivos, mas é de notar a qualidade do grupo e também a evolução musical de Bolin. Energy duraram apenas dois anos mas conseguem, graças aos arquivos oficiais do artista, ter uma legião pequena de fãs que aprecia o que sobra do trabalho realizado pelo grupo entre 1971 e 1973. Já nesta altura, em 1973, Bolin desperta a atenção daquele que viria a ser um dos maiores bateristas de todos os tempos Billy Cobham. O guitarrista participa em quatro das dez faixas do álbum de estreia do baterista que foi lançado em 1973 intitulado Spectrum. O álbum é, na minha opinião, um dos poucos discos que pode de facto ser denominado como uma obra-prima. É um dos mais inovadores trabalhos de ”jazz fusion” que a indústria musical teve a oportunidade de testemunhar. Em termos técnicos o álbum é perfeito e as faixas em que Tommy participa são muito provavelmente das mais doentias, rápidas e ambiciosas composições de guitarra que já tive a sorte de ouvir. Foi aliás graças a este álbum e à sua extraordinária exibição que Tommy Bolin entrou para os Deep Purple.
Antes de entrar para os Deep Purple, o guitarrista integrou entre Agosto de 73 e 74 os James Gang que são claramente uma banda já mais reconhecida pelos fãs de rock e heavy rock. Novamente, Tommy Bolin tem uma excelente performance nos dois álbuns em que participa primeiro em 1973 no álbum Bang e em 1974 no álbum Miami, a banda toca um hard rock bastante típico para a altura, no qual a sua guitarra desempenha um papel fundamental.
Como referi anteriormente, a sua entrada para os Deep Purple deveu-se principalmente ao seu desempenho no álbum de estreia de Billy Cobham. Após a saída de Ritchie Blackmore, os Deep Purple discutiram se deveriam ou não encerrar actividades. Felizmente a banda decidiu continuar e escolher um substituto. Mas onde se encontraria um substituto ao nível do mestre dos mestres Ritchie Blackmore? Após ouvir Spectrum David Coverdale decidiu que Bolin tinha que entrar para a banda e convidou-o para uma “jam”. A “jam” durou quatro horas, o seu talento e descontração conquistaram-lhe o lugar. Após a sua entrada, Deep Purple começou a compor o bastante credível Come Taste the Band, sete das nove faixas foram compostas e escritas por Tommy Bolin.
O meu principal objectivo com este artigo em particular é de divulgar o seu trabalho a solo, em que lançou dois álbuns em 1975 e 1976. O primeiro álbum a solo, Teaser é uma excelente peça musical em que predomina o bom hard rock. Apesar de ser fundamentalmente um álbum de rock, é também bastante polivalente misturando elementos de funk, latin e jazz. Para além de tocar também cantava. Neste álbum participam os deuses do rock Glenn Hughes, Phil Collins e Stanley Sheldon, entre outros. De prestar atenção a faixas como: à rockeira “The Grind”, à tecnicamente apurada “Homeward Strut”, à emocional “Dreamer” e às incríveis “Teaser”, “Wild Dogs” e “Lotus”. Numa escala de 0 a 10, daria sem problema um 9 bastante sólido. É na minha opinião uma excelente composição musical em que o talento de Bolin reina supremo.
Alinhamento de Teaser:
01. The Grind
02. Homeward Strut
03. Dreamer
04. Savannah Woman
05. Teaser
06. People, People
07. Marching Powder
08. Wild Dogs
09. Lotus
Em 1976 lança o seu segundo álbum a solo, intitulado Private Eyes que é tão bom como o seu álbum de estreia. Apesar de tudo, este álbum é diferente que o primeiro, contendo mais diversidade musical que o anterior e não é tão pujante. Com Teaser Bolin tem principalmente a preocupação de exibir as suas qualidades de guitarra, com o lançamento de 1976 existe maior preocupação de compor músicas mais melódicas misturando elementos de hard rock/rock psicadélico, funk, jazz e pop/rock. Em termos de pontuação é também um claro 9/10. Destaque para as faixas: “Bustin’ Out for Rosey”, “Post Toastee”, “Someday Will Bring Our Love Home”, “Hello, Again” e “Sweet Burgundy”.
Alinhamento de Private Eyes:
01. Bustin’ Out for Rosey
02. Sweet Burgundy
03. Post Toastee
04. Shake the Devil
05. Gypsy Soul
06. Someday Will Bring Our Love Home
07. Hello, Again
08. You Told Me That You Loved Me
Pouco tempo depois do lançamento de Private Eyes, Tommy Bolin morre vítima de overdose numa tour promocional deste mesmo álbum. Apesar de ter uma legião de fãs uma grande parte do público de rock e heavy metal apenas o conhece pelo seu trabalho nos Deep Purple, e como substituto de Ritchie Blackmore. É na minha opinião, um dos génios mais subvalorizados da história da música. Devo dizer que não devem esperar um festival de “headbanging” ou de puro caos musical, mas sim uma demonstração de excelente hard rock/heavy rock dos anos 70. Tommy Bolin demonstra o seu talento em todos os discos em que participa. Atenção a todos os pormenores musicais e excelentes momentos de guitarra deste enorme artista.
// João Braga