Entrevista aos MISS LAVA

RUÍDO SONOROOs Miss Lava caminham para a sua primeira década de existência. O vulcão ainda jorra ideias tão facilmente como no início? Como surgiram os temas que compõem o Red Supergiant?
MISS LAVA: Agora apanhaste-me de surpresa! Já faz assim tanto tempo?! Tem sido uma montanha russa tudo isto, sempre a andar. Até perdemos a noção do tempo. A verdade é que as ideias não param de surgir… Às vezes a partir de jams, às vezes a partir de riffs que uns trazem de casa… Tudo vale. No Red Supergiant houve de tudo: por exemplo, o Ride nasce numa jam, numa sala de ensaios nova, em que estávamos a experimentar amps diferentes; o Lay Down nasce a partir de um riff que o Samuel tinha feito; o Catch The Fire nasce a partir de riffs que me vieram à cabeça quando estava no trânsito… Tudo vale, desde que depois haja espaço para cada um de nós acrescentar valor a seguir. É sempre a soma dos 4 que faz os Miss Lava.

RSDo que nos fala este novo álbum? Querem mencionar algumas influências mais marcantes na sua sonoridade?
ML: Acho que este álbum é um reflexo do que passámos enquanto banda para concluir este gigante. Red Supergiant é o penúltimo estádio da evolução das estrelas. Nesta fase, são muito massivas e dentro do seu corpo há cada vez mais tensão, uma vez que caminham para a sua supernova, a sua explosão. Para nós, a expressão traduz todo o processo de concretização deste disco, que foi totalmente gerido por nós. Foi um processo muito longo, com muitas peripécias e deadlines sucessivamente falhadas, o que provocou muito desgaste e, claro, alguma tensão. Em termos gerais, o disco retrata esta fase da banda. Depois, cada música fala por si, tem o seu feeling, o seu espaço próprio. Cada uma faz uma pequena “soul search trip” em diferentes estados de espírito. E acho que neste disco conseguimos casar muito melhor música e mensagem. A Desert Mind vive de uma lírica surrealista que se traduz musicalmente em constantes mudanças rítmicas e harmónicas; Crawl explora uma relação de submissão, numa das músicas mais pesadas que já fizemos; Hole To China leva-nos numa viagem em que percorremos tonalidades fortemente contrastantes; Feel My Grace é leve e solta, é um hino ao hedonismo; e depois tens o groove da Yesterday’s Gone, para enterrar “six feet under” uma relação amorosa pouco saudável. Em termos sonoros, tentámos ter um feel mais orgânico, que te permitisse sentir a banda mais bruta em músicas mais pesadas e ao mesmo tempo sentir mais fluidez quando queremos passar uma onda mais mellow. Tudo isto com a claridade hi-fi das misturas do Matt.

RSQue diferenças destacam em relação ao Blues For The Dangerous Miles? Consideram este álbum mais bem conseguido ou estão ambos no mesmo patamar?
ML: Consideramos este disco mais focado que o anterior. Enquanto no Blues experimentávamos se calhar uns 2 ou 3 caminhos dentro de cada música, neste o nosso foco foi na essência da ideia que faz cada música e em trabalhar essa ideia ao máximo. No geral, sentimos que temos um disco com grandes canções.
 

(…) gostamos muito de fazer tudo o que envolve o trabalho da banda, e alimentamo-nos disso. Ou seja, vamos fazendo aquilo que gostamos e, até agora, temos tido um retorno muito positivo. Quando assim é, melhor ainda.

 
RSNo primeiro álbum trabalharam com o Jens Bogren, neste com Matt Hyde. Contem-nos como os conseguiram contactar e como foi a experiência de ter o vosso produto final nas mãos de tão conceituados nomes. 

ML: Hoje em dia, com a net, chegas a todo o lado. Temos a ajuda da Avantegarde Management, que trabalha com bandas como os Heavenwood, e eles vão fazendo tudo o que podem para contribuir para Miss Lava. Os Heavenwood já haviam trabalhado com o Jens e, por isso, foi fácil falar com ele para trabalhar o Blues. Como o Jens não estava com disponibilidade nos timmings que queríamos para o Red, pensámos: “qual é o disco que gostamos mesmo muito do som geral?” A resposta foi o God Says No, de Monster Magnet, um dos nossos “pontos de encontro” musicais entre todos os membros. Foi produzido e misturado pelo Matt. Procurámos na net, a Avantegarde contactou o management com a nossa proposta e veio a resposta do próprio Matt: “Hell Yeah!”. A partir daqui, desenvolvemos um contacto muito próximo com ele, muito via Skype, para afinarmos os detalhes da gravação. Marcámos viagens para Los Angeles, onde deveríamos fechar as misturas e começamos a gravar. Mas a meio das gravações tivemos uns azares: entre braços partidos e discos perdidos, que depois foram recuperados (com tudo lá dentro!!! sim, mesmo tudo!!!), acabámos por nos atrasar uns meses. E isso entrou em choque com o calendário do Matt, que entrava em estúdio com os Deftones a seguir. Entrou o desgaste no processo, com mails para a frente e para trás para efetuarmos pequenas alterações. O disco demorou a sair, mas agora está cá fora e estamos muito contentes com ele.

RSDesde cedo que os Miss Lava recebem boas críticas e têm apostado em grandes produções, tendo atingindo sucesso nacional e internacional rapidamente. Como conseguiram chegar a este patamar em tão pouco tempo?
ML: Não vemos como se tivéssemos chegado num patamar qualquer. Vamos fazendo o que gostamos e realizando sonhos de adolescentes. Tocar aqui, ali, abrir para este, para o outro, trabalhar com os produtores de algumas das nossas bandas preferidas, pensar nas capas com o atelier MAGA, fazer videoclips, fazer t-shirts… Enfim, nós gostamos muito de fazer tudo o que envolve o trabalho da banda, e alimentamo-nos disso. Ou seja, vamos fazendo aquilo que gostamos e, até agora, temos tido um retorno muito positivo. Quando assim é, melhor ainda.

RSA mini-tour de apresentação do Red Supergiant conta com uma banda sueca, os Truckfighters. Porquê eles os escolhidos? Uma banda estrangeira sublinha a vossa vontade de pisar palcos por essa Europa fora num futuro próximo?
ML: Queremos muito pisar os palcos dessa Europa fora! Estivemos no UK duas vezes e agora queremos ir a outros países também. Conhecer pessoas novas, palcos novos, países novos… Mas os Truckfighters não tiveram nada a ver com isso. São simplesmente uma banda de quem gostamos muito, tal como o Mário da Carc Produções (o organizador), e quando começamos a falar sobre fazer uma coisa especial para o lançamento, o nome deles veio logo à baila. E digo-te: ver Truckfighters 4 dias seguidos foi uma maravilha.
 

Só sabemos que queremos continuar a ter gosto em fazer música uns com os outros e a descobrir/fazer coisas que ainda não fizemos. Enquanto assim for, vai ser infinito.

 
RSOnde pretendem chegar os Miss Lava enquanto banda? Sentem que ainda têm muito para dar, ou preferem focar-se agora na promoção deste álbum e só depois pensar no futuro?
ML: Quanto ao futuro, sinceramente, acho que nenhum de nós consegue responder-te muito bem a esta questão. Nunca soubemos onde queríamos chegar. Só sabemos que queremos continuar a ter gosto em fazer música uns com os outros e a descobrir/fazer coisas que ainda não fizemos. Enquanto assim for, vai ser infinito. Vamos continuar a tocar, tocar, tocar, a tentar marcar datas lá fora, a enviar CDs para reviews, para distribuidoras, etc.. Neste momento, estamos focados em promover o novo disco. Pelo meio vão aparecer novas ideias. Aliás, já apareceram umas quantas. É ir fazendo música.

RSQual é a banda ou bandas com quem sempre sonharam partilhar o palco? Acham que um dia vão conseguir fazê-lo?
ML: Essa é difícil. Já tocámos com ídolos nossos, como Entombed, Slash, Fu ManchuKyuss! Mas o top era uns clássicos como Black Sabbath ou Ozzy. Ou Iron Maiden! Mas isso só deve ser possível se acontecer num festival imagino eu. E mesmo assim… Mas era nice. Um bill tipo os old school Monsters of Rock. Agora mais pés na terra, Monster Magnet, QOTSA ou Clutch seria a loucura.

RSQual a vossa posição em relação à pirataria? Acham que perdem mais dinheiro por aí ou pelas medidas (ou falta delas) de apoio à cultura do actual governo? O que tem que mudar em Portugal para as bandas poderem lucrar mais?
ML: Sinceramente, não temos problemas com a pirataria. Adoro descobrir os links russos com o nosso álbum! Quando era mais novo gravava K7s e não era por isso que deixava de ir comprar o Arise em vinil. É por isso que apostamos muito também no packaging dos nossos CDs, para dar algo mais a quem compra o suporte físico. Mas a verdade é que a indústria mudou radicalmente há algum tempo. Entras numa FNAC e vês que tens cada vez menos CDs… Hoje em dia, sacas tudo na net. As bandas fazem mais dinheiro nos gigs, tanto nos cachets, como no merch, como na venda de CDs. Mas sempre nos gigs. Para as bandas lucrarem mais, a verdade é que têm que fazer melhores músicas e darem um grande show. Para que, quando alguém oiça, goste o suficiente para passar aos amigos. Para que, quando alguém veja a banda ao vivo, passe a palavra e traga mais 5 no próximo concerto. E por aí fora. Vais escalando. Passo a passo. Agora, é claro que se houvesse um maior apoio estatal à música, como por exemplo na Suécia (em que recebes um incentivo se comprovares que ensaias várias vezes por semana e tocas ao vivo), seria diferente e eventualmente poderias viver só da música mais facilmente. Mas não é esse o nosso país.