Samuel Rebelo, baixista dos MISS LAVA, à conversa com o RUÍDO SONORO

O RUÍDO SONORO esteve à conversa com o baixista dos MISS LAVA, SAMUEL REBELO. Foi nos barulhentos Armazéns do Chiado, em Lisboa, que o baixista falou da sua visão actual do panorama músical, nos contou a história dos MISS LAVA e nos disse o que andam a preparar. Leia o que os MISS LAVA andam a fazer.


Ruído Sonoro- Como é que os MISS LAVA começaram? E o que vos levou a iniciar o projecto?

Miss Lava– Bem, durante muitos anos procurei criar uma banda de Stoner-Rock. Não conhecia ninguém que gostasse [do género] e ao fim de alguns anos de procura conheci o João (vocalista) que por sua vez conhecia o Rafa (guitarrista), que na altura estava a tocar baixo noutra banda, e convidou-o para tocar guitarra nos MISS LAVA. A coisa correu muito bem, demo-nos todos bem, começamos a fazer música e isto foi o início do projecto. Tínhamos vontade de fazer uma banda num género que estava muito pouco divulgado em Portugal.

RS- Quando é que começaram?

ML- Foi há cerca de quatro anos, por volta de 2006.

RS- E de onde surgiu o nome MISS LAVA?

ML– O projecto tinha outro nome mas quando o João e o Rafa entraram o nome já não se adequava, visto que já não tocavamos um Stoner-Rock tão fechado e específico e portanto queríamos procurar um nome mais versátil, que pudesse abranger tanto o Stoner como o Hard-Rock. O Rafa fez uma viagem aos E.U.A. em que passou pelo ‘Lava Lounge’, que é um bar em L.A., e gostou bastante do nome ‘Lava’. Entretanto o João surgiu com a parte do nome ‘Miss’, que vinha de uma brincadeira que tinha tido com outra banda, e ficou assim, MISS LAVA [risos].

RS- Quem são as maiores influências da banda?

ML- Cada um de nós vem de universos muito diferentes. Eu sou o que está mais ligado ao Stoner-Rock dos anos 90. O João, o vocalista, é mais influenciado pelo Rock mainstream americano e por algum Metal Clássico. O baterista, José Garcia, gosta de bandas mais Hardcore [risos] e também algum Metal Clássico. O Rafa tem uma costela mais Hard-Rock e anos 80, tonalidades que estão bastante presentes na sua composição. Mas nós tocamos o que nos apetece, não estamos muito  preocupados em rotular-nos.

RS- Soube que se estrearam com um vinil- Como é que isso aconteceu?

ML- Na altura nós gravámos quatro músicas e não sabíamos como as disponibilizar. Um CD com 4 músicas não faz sentido, aliás um CD cada vez faz menos sentido, então nós resolvemos fazer algo com uma embalagem apelativa que as pessoas adquirissem não pelo conteúdo, que hoje em dia já está disponível na net e nos iPods e etc. , mas pela embalagem em si.

RS- Como foi a aceitação do vosso primeiro álbum “Blues For The Dangerous Miles”?

ML- Correu bem, correu melhor do que estávamos à espera. Conseguimos alguns concertos importantes e que algumas pessoas prestassem atenção à banda. Levou-nos a Inglaterra… foi, e ainda é, um álbum que nos deixa orgulhosos.

RS- Até que ponto é complicado conciliar as vossas vidas pessoais e profissionais com a música?

ML- Muito, muito [complicado]. Temos todos vidas muito atarefadas. O nosso guitarrista tem 3 filhas, um emprego muito exigente e ainda é ele que faz o management interno da banda, portanto é difícil. Sempre que escrevemos uma música nova temos de ensaiar até muito tarde. Temos sempre de estender muito os dias.

RS- E como lidam com as tours?

ML- Tentamos, atempadamente, conciliar os dias de férias de forma a conseguirmos estender fins-de-semana, sempre jogando com o pouco tempo que temos disponível. Continua a ser complicado porque também temos famílias que querem passar férias connosco.

RS- Os Miss Lava já tocaram muito ao vivo- há algum concerto ou local que até hoje relembrem especialmente?

ML- Acho que vou ter de responder o concerto no Santiago Alquimista com os FU MANCHU, o Coliseu dos Recreios com o SLASH e o Musicbox com os VALIENT THORR. Foram os 3 concertos que marcaram este 1º ano de longa vida do álbum. Mas também houve outros, há uma semana demos um concerto em Cascais que foi dos melhores de sempre. Os 3 que mencionei foram os que nos deram maior exposição, mas todos os concertos são especiais, sejam para 5 pessoas sejam para 3000, porque nós nunca sabemos quem está na audiência. Por exemplo, houve uma pessoa que nos viu na Marinha Grande, onde estavam 30 ou 40 pessoas, e foi essa pessoa que falou de nós à banda inglesa que nos levou até lá [Inglaterra]. Não fazemos distinção entre os espectáculos, tocamos sempre com a mesma pica.

RS- Como foi partilhar o palco com artistas galardoados como SLASH e VALIENT THORR?

ML- É sempre bom, traz aquele frio ao estômago, não é? [risos] Como disse anteriormente nós encaramos todos os concertos da mesma forma, e se alguém já nos viu tocar para 10 pessoas e a abrir para o SLASH sabe do que estou a falar. Nós damos concertos porque gostamos de tocar. Mas claro que é sempre bom tocar para um coliseu esgotado onde fomos muito bem recebidos e foi um concerto para recordar, tal como o concerto com os VALIENT THORR e FU MANCHU. Infelizmente, quando se fala em concertos de bandas nacionais há pouca gente interessada, por causa da larga oferta de bandas. Já quando é uma banda estrangeira há muito mais aderência e é uma boa oportunidade para mostrarmos o nosso trabalho.

RS- Em relação aos downloads ilegais- São um fenómeno bom e um excelente meio de divulgação da vossa música ou é algo que deve ser combatido?

ML– Eu tenho uma visão muito particular em relação aos downloads. Eu acho que os downloads vão acabar por causa da facilidade que há em ouvir música por exemplo no youtube e em rádios online. Na minha opinião o streaming é o futuro da música, mas gostei de saber quando me disseram que o nosso CD estava disponível online e que alguém se deu ao trabalho de ripar o álbum e etc [risos]. Nós não estamos à espera de retorno nenhum na parte dos CDs, é tudo muito à nossa custa. As editoras fazem o seu trabalho a nível de promoção e distribuição, o que nos traz alguns concertos, mas o CD está-se a tornar algo para colecionadores. Basta ir a uma Fnac para ver como a secção de música encolheu. Quando eu era teenager tinhamos a Virgin, a Valentim de Carvalho e mais tarde a Fnac, e ainda co-habitaram durante uns anos, mas acabou. Não é o que o público quer.

RS-Que papel têm as redes sociais na divulgação da carreira dos Miss Lava?

ML- Têm um papel muito importante na divulgação, tal como os blogues. O Facebook; o Myspace embora este, ultimamente, nos pareça estar um pouco a desaparecer, ainda que cada vez mais a fazer o que é suposto, que é divulgar música e bandas. O Myspace teve a “explosão social” em que toda a gente ia para lá adicionar os amigos mas depois veio o Facebook, que na realidade está muito mais vocacionado para isso. No Myspace as pessoas estão a [sa]ir mas as bandas estão a ficar pois continua a ser muito bom para os músicos. Mas tanto o Myspace como o Facebook, os blogues e os sites da especialidade são muito importantes na nossa divulgação, porque de certa maneira, nós não somos uma banda muito mainstream e é por estes aglomerados e contacto directo que passamos a nossa mensagem.

RS- Por último- O que andam a fazer e planos para o futuro?

ML– Nós, neste momento, estamos a concluir a pré-produção do nosso próximo álbum que vamos gravar entre Maio e Julho, para sair depois do Verão. Estamos também a agendar alguns concertos para experimentar as novas musicas ao vivo, que é o que vamos continuar agora a apurar para depois gravarmos o álbum, que vamos mostrar a L.A. em Agosto.

RS- Muito obrigado pela entrevista e pela disponibilidade.

ML- Obrigado eu. Realmente os sites são algo mesmo muito importante na divulgação do mundo underground.

Entrevista por Manuel Casanova.