Chuck Berry, chorar o rock’n’roll no dia do pai

Há anos que se canta que o rock já morreu. Mas só a partir deste sábado que passou é que se tornou numa afirmação válida. Charles Edward Anderson Berry Sr., universalmente conhecido como Chuck Berry, faleceu aos 90 anos. De todos os adjectivos que se lhe podem deixar, rock’n’roll é aquele que melhor o qualifica.

Chuck Berry não foi só um dos primeiros ícones do rock. Foi também um dos mais influentes e assim permanecerá como um pilar incontornável na evolução do género. Antes de todos ícones que poderão listar, Chuck Berry iniciou esta religião e esta cultura do rock que jamais se apagará. Nunca se apagou, mas foi-se adaptando às realidades. Depois daqueles riffs bêbados de blues como “Johnny B. Goode” tornou eternos, veio o pop rock dos Beatles e dos Beach Boys. Depois disso caiu a gota do ácido para o rock progressivo e a distorção aumentou nos anos 70 em diversas direcções. Mas o rock, esse, começou ali nos primeiros segundos de After School Session. E em 1959, Chuck Berry Is On Top – ele sabia-o quando nos deu “Maybellene” e “Roll Over Beethoven”.

Deu ele por inteiro. Chuck Berry não era apenas o dono daquela Gibson semi-acústica. Ele era a dança das suas músicas, ele era a voz, a letra e era sobretudo a atitude do rock’n’roll. A mesma atitude que leva, aqui ou na Austrália, um rapaz de 12 ou 13 anos pegar numa guitarra. Um duelo tão simples e tão eterno, que já foi repetido vezes sem conta ao longo das décadas. Quem nunca viu Chuck Berry em Jimi Hendrix não conhece a lição, mas essa teoria pode ser desenvolvida em n músicos desde então.

A história conta-nos o resto. Em 1977 a sua música saiu da nossa atmosfera e seguiu com a senda Voyager, com “Johnny B. Goode” a ser a única faixa rock a representar a Terra num futuro encontro com outras realidades deste universo. Foi também um dos primeiros a ser reconhecido pelo Rock and Roll Hall of Fame, em 1986, entre tantas outras distinções e menções ao longo dos anos. Para 2017 estava anunciado o seu primeiro disco desde 1979, gravado com antigos membros da sua banda e com os filhos Charles e Ingrid. Mas mesmo depois de partir, sabemos que Chuck Berry nos guardará o futuro do rock.

Mesmo não estando presente, haverá sempre quem o lembre de uma maneira ou outra, esteja o público preparado ou não – quem não se lembra de Michael J. Fox n’O Regresso ao Futuro a fazer a sua música viajar no tempo? Ou de John Travolta ou Uma Thurman dançarem “You Can Never Tell” em Pulp Fiction? Chuck Berry continuará a ser o pai de tudo isto enquanto houver sanidade.

Autor: Nuno Bernardo

https://www.youtube.com/watch?v=rVT65M4mRnM